Grécia
aceita mais medidas, Europa abre a porta a alívio da dívida
SÉRGIO ANÍBAL
09/07/2015 - PÚBLICO
Grécia
enviou nova proposta aos credores esta quinta-feira e deve votá-la
no parlamento na sexta-feira. O objectivo é obter um acordo já este
fim-de-semana que inclua alguma forma de reestruturação de dívida.
O governo grego
aceita mais austeridade. Em contrapartida, os outros executivos
europeus aceitam uma nova reestruturação de dívida. Apesar de os
detalhes da negociação ainda não serem conhecidos, esta parece ser
para já a receita encontrada para tentar garantir que até ao
próximo domingo se conseguirá chegar a um acordo que evite a saída
da Grécia na zona euro.
Em Atenas, o governo
liderado por Alexis Tsipras enviou esta quinta-feira à noite para
Bruxelas uma proposta que, de acordo com os meios de comunicação
social gregos, avança para um pacote de austeridade entre os 12 e os
13 mil milhões de euros, para obter em troca um empréstimo de 50
mil milhões de euros a três anos e uma promessa dos parceiros
europeus de alívio dos encargos com a dívida.
A Grécia parece
agora disponível para alterar algumas das propostas feitas ao nível
do IVA e da Segurança Social, numa tentativa de aproximação às
exigências feitas pelas instituições da troika antes da marcação
do referendo. O anterior plano, que era para aplicar até ao final de
2016, incluía oito mil milhões de euros de austeridade.
De acordo com o
jornal grego E Kathimerini, Alexis Tsipras enfrentou oposição
dentro do próprio Executivo para a definição da proposta,
nomeadamente por parte de Panagiotis Lafazanis, ministro da Energia e
figura de proa da ala mais à esquerda do Syriza.
Ainda assim, o
primeiro-ministro grego tem a intenção de levar o documento a votos
no parlamento já na manhã desta sexta-feira, numa tentativa de dar
garantias aos parceiros europeus de que as medidas propostas são
mesmo para cumprir. Tsipras convocou ainda para as primeiras horas da
manhã os líderes políticos dos partidos gregos que apoiaram o
“sim” no referendo para uma reunião, não só para garantir uma
maioria mais segura no voto parlamentar, como também para apresentar
uma frente unida grega nas negociações com os credores.
Para se defender das
críticas provenientes dentro do seu próprio partido e para explicar
à população porque é que teve de realizar cedências poucos dias
depois da vitória do “não” no referendo, Tsipras conta poder
apresentar como trunfo uma eventual cedência dos outros países da
zona euro na concretização de algum tipo de alívio dos encargos da
dívida exigidos ao Estado grego.
Durante esta
quinta-feira, foram dados diversos sinais de que os líderes europeus
estão disponíveis a dar esse trunfo ao primeiro-ministro grego.
O sinal mais claro
veio do presidente do Conselho Europeu. Donald Tusk afirmou esta
quinta-feira que se a Grécia apresentar uma proposta realista, então
“precisa de ter como resposta uma proposta igualmente realista em
relação à sustentabilidade da dívida por parte dos seus
credores”. Só assim haverá uma situação em que todos ganham,
defendeu.
“Caso contrário,
iremos continuar a dança letárgica que temos vindo a dançar
durante os últimos cinco meses”, afirmou Tusk, que revelou ter
estado em contacto esta quinta-feira com o primeiro ministro grego,
Alexis Tsipras, mostrando-se esperançado que serão enviadas de
Atenas propostas concretas e realistas.
Esta abertura do
presidente do Conselho Europeu a medidas que representem um alívio
da dívida parece mostrar que os novos apelos realizados na
quarta-feira pelo FMI e pela Administração Obama estão a ser
ouvidos na Europa. Christine Lagarde reafirmou que tanto as reformas
como uma reestruturação da dívida eram necessárias para evitar
uma situação de crise aguda. E o secretário do Tesouro
norte-americano, Jack Lew, desejou que “a Grécia tome as medidas
que precise de tomar para que a Europa reestruture a dívida de uma
forma que é mais sustentável”.
Até agora a
possibilidade de uma reestruturação da dívida grega, que é detida
na sua maioria pelos outros Estados da zona euro, tem sido recebida
com muitas reticências pelos responsáveis de grande parte dos
governos, que sentem dificuldades em vender às suas próprias
opiniões públicas um cenário desse tipo.
Um dos países mais
hesitantes é a Alemanha. Esta quinta-feira, tanto a líder do
Governo como o ministro das Finanças da Alemanha repetiram a sua
oposição a um corte do valor nominal da dívida pública grega,
assinalando que tal iria contra os tratados europeus.
No entanto, deixaram
uma porta aberta. Quando se referiu ao assunto, Angela Merkel falou
da recusa a “uma restruturação da dívida clássica”,
referindo-se explicitamente a um corte nominal da dívida. No
entanto, neste conceito não estão incluídos outros tipos de
reestruturação, como a redução dos juros ou o alargamento do
prazo dado para a amortização da dívida. Merkel assinalou mesmo
que, em 2012, a Alemanha já tinha aceite prolongar as maturidades da
dívida grega, dando a entender que agora poderia acontecer o mesmo.
Wolfgang Schäuble,
por seu lado, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble,
que participava numa conferência do banco central alemão em
Frankfurt, clarificou a posição alemã, declarando que "os
tratados europeus excluem um perdão de dívida", mas que o
Governo alemão está pronto "a discutir o espaço para uma
reestruturação da dívida". Acrescentou, no entanto, que "a
margem para uma reestruturação da dívida grega é muito pequena".
Do lado da outra
grande potência da zona euro, a França, a abertura para um
entendimento deste tipo deve ser ainda maior. A participação das
autoridades francesas no esforço de obtenção de um acordo até
domingo tem sido muito notada. Uma equipa técnica do executivo
francês esteve em Atenas esta quinta-feira para ajudar a limar os
detalhes da proposta grega.
Para se chegar a um
acordo final, ainda há contudo um percurso longo a percorrer, e de
forma rápida. Depois de entregue a proposta grega em Bruxelas, as
instituições da troika irão avaliá-la e propor alterações. O
objectivo de ambas as partes será o de que se chegue a um texto
comum até às 14h de Bruxelas (13h em Lisboa) no sábado, a hora
agendada para o início da reunião extraordinária do Eurogrupo.
No encontro dos
ministros das Finanças da zona euro, os Governos terão a
oportunidade de mostrar a sua opinião sobre um eventual acordo, que
será depois exposta na cimeira de líderes da zona euro que está
marcada para o próximo domingo às 16h de Bruxelas (15h em Lisboa).
Duas horas depois, inicia-se um conselho europeu extraordinário com
todos os líderes da União Europeia.
Embora esses
encontros sejam vistos como a última oportunidade da Grécia para
evitar uma saída da Grécia do euro, o processo não fica ainda
concluído aí. Em diversos países, qualquer eventual acordo para a
concessão de um novo empréstimo a três anos à Grécia tem de
passar pelos respectivos parlamentos. Dada a urgência da situação
financeira grega, essas deliberações parlamentares terão de ser
feitas nos primeiros dias da próxima semana. Alemanha, Finlândia e
países bálticos são aqueles em que se prevê possa haver mais
obstáculos à aprovação do resgate.
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