União
Europeia dá último prazo a Atenas
MIGUEL CASTRO MENDES
(em Bruxelas) e SOFIA LORENA 08/07/2015 - 00:06
Cimeira
da zona euro exige que Grécia se comprometa com um novo programa de
assistência financeira até ao final da semana. Caso contrário, o
país sairá da moeda única, dizem abertamente Juncker e Tusk. As
reuniões não vão parar até domingo, dia em que haverá uma
cimeira a 28.
Os líderes da zona
euro exigem que a Grécia faça um pedido para um novo programa de
assistência financeira até sexta-feira, para que possa ser
analisado pelos ministros das Finanças na zona euro no sábado, e
aprovado numa nova cimeira extraordinária no domingo.
No final da cimeira
da zona euro desta terça-feira à noite, o presidente do Conselho
Europeu, Donald Tusk, anunciou que os líderes concordaram que, até
ao final da semana, Atenas apresente em detalhe as suas propostas
para um programa de reformas completo. "Até agora evitei falar
em prazos, mas hoje tenho de dizer claramente – o último prazo
acaba esta semana", disse Tusk.
Tusk subiu a parada.
A cimeira europeia, com todos os 28 chefes de Estado e de Governo da
União Europeia, vai aprovar um acordo ou discutir as consequências
do fracasso. "Não podemos excluir um cenário negro",
disse Tusk, no qual "não há acordo, o que quer dizer que temos
de discutir as consequências para toda a União Europeia, não só
para a zona euro."
O presidente da
Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, foi mais claro ainda ao
revelar que o executivo comunitário "tem um cenário de Grexit
preparado e em detalhe". A pressão sobre Atenas nunca esteve
tão alta.
A chanceler alemã,
Angela Merkel, disse que pediu mesmo para que a cimeira de domingo
seja a 28. “Estamos todos ligados na Europa. Tendo em conta a
importância da situação, é apropriado que todos os
Estados-membros estejam presentes”, sublinhou.
“Não tenho
dúvidas de que este é o momento mais crítico da história da
Europa e da zona euro”, pelo que “o formato dos 28 ajusta-se”,
afirmou ainda Tusk, na conferência de imprensa conjunta com Juncker.
O líder da Comissão acrescentou que a situação grega está já a
afectar países como a Bulgária e a Roménia, que não integram a
zona euro.
Discussão
"positiva"
Por seu lado, o
primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, garantiu que tem como
objectivo "uma saída final da crise", e que já na reunião
desta terça-feira apresentou aos parceiros europeus propostas
destinadas a conseguir “um acordo viável do ponto de vista
económico e socialmente justo”. Esta cimeira da zona euro, a
primeira depois do referendo de domingo, quando mais de 61% dos
gregos disseram “não” à última proposta dos credores (União
Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu),
permitiu, segundo Tsipras, uma discussão “positiva”. O chefe do
Governo grego garante que as propostas chegarão a tempo.
Antes do início da
cimeira, Tsipras esteve reunido com a chanceler alemã, o Presidente
francês, François Hollande, e com Juncker, e terá apresentado aos
seus interlocutores uma primeira nota contendo as novas propostas
gregas. Segundo o diário francês Le Monde, trata-se essencialmente
de uma versão adaptada das últimas propostas dos credores, as
mesmas que foram claramente rejeitadas pelos eleitores gregos.
Apesar de antes do
encontro o primeiro-ministro belga Charles Michel ter descrito aos
jornalistas "o cansaço" que reina entre os líderes
europeus sobre estas negociações, é agora certo que o ritmo de
reuniões não vai abrandar nos próximos dias.
Em contraste, o
primeiro-ministro italiano chegou e saiu descontraído e sorridente.
A Europa, defendeu Matteo Renzi, precisa de mais do que uma mera
“solução técnica” para a crise. “Estou mais preocupado com a
Europa. A Europa como está não funciona. Precisa de investir no
crescimento, no futuro e na inovação”, disse o líder italiano.
Segundo o presidente
do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, a Grécia enviará já esta
quarta-feira um pedido formal para um terceiro programa de
assistência financeira no âmbito no Mecanismo Europeu de
Estabilidade (MEE), o fundo de resgate europeu, por uma duração de
dois anos. Neste mesmo dia, haverá por isso mais uma reunião por
teleconferência dos ministros das Finanças da zona euro, que poderá
"formalmente dar início ao processo de avaliação desse
pedido."
No dia seguinte,
Atenas tem de submeter a lista de reformas com as quais está pronta
a avançar já. Essas propostas serão em seguida analisadas numa
nova reunião do Eurogrupo, no sábado, permitindo então que no
domingo haja mais uma cimeira que se pronunciará de vez sobre o
plano grego.
Os estatutos do MEE
estipulam que cabe aos ministros das Finanças da zona euro avaliarem
o pedido de assistência financeira, e darem à Comissão Europeia,
ao BCE e ao FMI um mandato para negociar um memorando de entendimento
que detalhe as condições que virão associadas ao empréstimo
europeu.
Não é claro, no
entanto, se esse procedimento permitirá fornecer à Grécia fundos a
tempo de o país não falhar o pagamento de 3500 milhões que tem de
fazer ao BCE, em 20 de Julho. O não pagamento pela Grécia desse
montante significaria muito provavelmente uma saída do país da zona
euro, já que quase certamente obrigaria o BCE a cortar o
financiamento à banca grega.
Calendário mais
apertado
O facto de os bancos
gregos apenas terem liquidez para aguentar mais alguns dias, mesmo
com o limite de levantamento de 60 euros em vigor, torna urgente a
necessidade de um acordo. Apenas um entendimento entre o Governo de
Tsipras e os seus parceiros europeus, que evite uma bancarrota do
Estado grego, permitiria ao BCE fornecer mais liquidez à banca
grega. De Atenas vieram garantias que há dinheiro para pagar os
salários aos funcionários públicos (no dia 13) e a confirmação
de que os bancos, encerrados desde segunda-feira da semana passada,
não irão abrir até sexta-feira.
Antes da cimeira de
líderes houve lugar para um encontro de ministros das Finanças, com
a estreia de Euclides Tsakalotos, que substitui Yanis Varoufakis. Num
dia muito longo em Bruxelas, o novo ministro grego apareceu, sem
querer, na sala de imprensa, quando a cimeira de líderes ia a meio.
De caminho respondeu a algumas perguntas dos jornalistas e garantiu
que os parceiros da zona euro mostraram “vontade política para um
novo começo” e para dar uma nova hipótese à Grécia. “É mais
complicado que isso”, respondeu Tsakalotos, quando lhe perguntaram
por que é que não levou uma proposta concreta ao Eurogrupo do
início da tarde.
O presidente do BCE,
Mario Draghi, que esteve presente na cimeira, e com quem Tsipras
falou mesmo antes do início do encontro, disse aos líderes europeus
que o Banco Central está pronto a garantir até domingo condições
mínimas de liquidez para a Grécia. Não é tão claro, no entanto,
se o BCE estaria de igual modo pronto a facilitar liquidez enquanto o
novo programa de assistência do MEE estiver a ser negociado.
Essa garantia é
fundamental, já que como explica Ian Traynor, editor para a Europa
do diário The Guardian, mesmo que um novo resgate para a Grécia
através do MEE seja aprovado, o cenário mais optimista apenas
permitiria o primeiro desembolso de fundos na segunda metade de
Agosto, já depois da data fatídica de 20 de Julho. Um acordo de
financiamento transitório, que permita a transferência de fundos
para a Grécia o mais cedo possível, será portanto quase de certeza
necessário. A zona euro tem agora até ao final desta semana para
resolver o complexo puzzle financeiro.
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