Será este o aspecto
do futuro elevador da ponte (imagem manipulada)
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Um
elevador para subir à Ponte 25 de Abril e ver a vista
ISABEL SALEMA
28/07/2015 - PÚBLICO
A
ideia em estudo é monumentalizar a ponte, uma das imagens mais
icónicas de Lisboa. Um elevador ao nível do tabuleiro dos carros
com vista para Belém e um pólo expositivo no solo para contar a
história de uma ponte.
O ano 2016 pode ser
aquele em que se vai poder subir de elevador na Ponte 25 de Abril, em
Lisboa. O que está a ser estudado pelas Infra-Estruturas de Portugal
é um elevador que chegue aos 70 metros de altura a partir da base do
pilar de Alcântara, aquele que tem gravado o nome da ponte e que
neste momento está parcialmente coberto com uma publicidade.
A empresa pública
Infra-Estruturas de Portugal está à procura de parceiros para o
projecto, inclusive para o investimento. Há muitos contactos feitos,
sabe o PÚBLICO, mas a direcção de comunicação considera
prematuro adiantar pormenores sobre o projecto.
Segundo uma fonte
ligada ao processo, o objectivo é “criar um pólo de atracção
turística e cultural, em que o elevador seria apenas uma das
vertentes”. Mas a exploração do pólo e do elevador não se
adequa ao perfil das Infra-Estruturas de Portugal, cuja actividade
está centrada na gestão das infra-estruturas rodoviárias e
ferroviárias, por isso seriam necessários parceiros capazes de
desenvolver e gerir este novo equipamento, numa colaboração entre
várias entidades.
Ao que o PÚBLICO
apurou, o novo pólo da ponte pode ocupar parte do terreno livre à
volta do pilar de Alcântara, um espaço generoso cujo acesso,
actualmente vedado, se faz pela Av. da Índia, ao lado do Hotel Vila
da Galé Ópera. O núcleo contaria a história deste monumento
inaugurado em 1966, a partir do lado de Almada, pelo Presidente da
República, almirante Américo Tomás, o presidente do conselho,
António de Oliveira Salazar, e pelo cardeal Cerejeira, patriarca de
Lisboa. Nessa altura chamava-se Ponte Salazar, em homenagem ao líder
da ditadura do Estado Novo, nome alterado para o actual depois da
revolução de Abril.
O desejo, aliás, é
que a inauguração do pólo e do elevador seja uma espécie de
Parabéns a você quando passarem 50 anos sobre a inauguração da
ponte, a 6 de Agosto de 2016.
O elevador, que
poderá subir até à altura do tabuleiro rodoviário, como mostra a
fotografia manipulada a que o PÚBLICO teve acesso, “ocuparia
necessariamente um espaço reduzido”, explica a mesma fonte. A
hipótese mais provável é que seja implantado do lado de Belém,
tentando “esbater ao máximo a sua existência na estrutura”.
Desse lado, se tudo correr conforme o previsto, ficará umas poucas
dezenas de metros acima do Padrão dos Descobrimentos, que sobe até
aos 56 metros. Já na outra margem, partindo de uma cota mais alta,
está o Cristo-Rei, cujo elevador chega aos 82 metros de altura.
Em Março deste ano,
a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) abriu o processo de
classificação da Ponte 25 de Abril, cujo comprimento total
ultrapassa os 3200 metros e tem uma altura máxima de 190,5 metros
com as duas torres. No processo agora a ser analisado pela DGPC, a
ponte é considerada uma das “obras de engenharia civil mais
marcantes de Lisboa e, certamente, de Portugal”.
A direcção-geral,
que começou a estudar o possibilidade de vir a classificar a ponte
ainda em 2013, confirmou ao PÚBLICO que, no âmbito das comemorações
do 50.º aniversário, recebeu para sua apreciação “um projecto
para a construção de um elevador exterior num dos pilares da
ponte”, projecto esse que aprovou a 15 de Janeiro deste ano.
Quanto à
classificação da própria ponte, nada está ainda decidido, garante
a assessora de comunicação da DGPC, Maria Resende. O procedimento
está na segunda fase, que corresponde ao “estudo, análise e
reflexão para fundamentar uma tomada de decisão relativamente à
graduação e categoria de classificação” (é nesta fase que os
técnicos decidem, por exemplo, se deverá ser considerada monumento
nacional).
Dúzia de projectos
No Sistema de
Informação para o Património Arquitectónico (SIPA), recentemente
integrado na DGPC, escreve-se que esta “é uma ponte atirantada de
tipo harpa”, suspensa, feita de ferro e aço. As duas torres
sustentam os cabos, que, por sua vez, sustentam os dois tabuleiros, o
superior, rodoviário, com seis vias, e o inferior, para comboios,
com duas vias. Os cabos amarram-se a maciços de betão nas duas
margens.
Esta foi a primeira
ponte a ligar as duas margens do rio Tejo junto a Lisboa, resultado
de vários projectos que foram surgindo ao longo dos séculos XIX e
XX. O SIPA diz que, na altura em que foi construída, era a segunda
maior ponte suspensa do mundo, sendo várias as “afinidades” com
a Golden Gate de São Francisco, inaugurada em 1937. Tem a mesma
arquitectura e a mesma cor.
No registo do SIPA
relativo à cronologia são varíadíssimos os projectos antes da
adjudicação em 1962 e vê-se como a ideia de unir as duas margens
do Tejo na zona de Lisboa ocupou, durante mais de um século, a
imaginação de muita gente. A primeira ideia recua até 1876, ano em
que Alexander Bell pantenteou o telefone e nasceu em Portugal a Caixa
Geral de Depósitos. É da autoria do engenheiro Miguel Pais, que com
uma ponte semelhante à de Viana do Castelo quer ligar a zona do
Grilo (Beato) à do Montijo. Doze anos depois, um engenheiro
americano, chamado Lye, propõe desenhar uma ponte entre Almada e a
Rua do Tesouro Velho, actual Rua António Maria Cardoso, na zona do
Chiado, fazendo provavelmente uma linha em direcção ao Cais do
Sodré. Em 1889, o traçado proposto por dois engenheiros franceses é
mais fácil de imaginar, tendo em vista a cidade actual, e faz-se
entre a Rocha Conde de Óbidos e Almada, através de uma ponte de
arcadas. Várias décadas depois, em 1951, o engenheiro espanhol Peña
Boeuf propõe a construção de uma ponte suspensa entre Almada e o
Alto de Santa Catarina.
Mas só em 1959 será
criado o Gabinete da Ponte sobre o Tejo e lançado um concurso
internacional. O contrato para a execução da obra foi assinado com
a United States Steel Corporation em 1961. A ponte começou a ser
construída no ano seguinte e foi terminada seis meses antes do
previsto no início do mês de Agosto.
Ainda não é certo
que o elevador esteja pronto em Agosto de 2016, a tempo do
aniversário. Muita coisa está em aberto e o decisivo agora é
encontrar parceiros. Quanto ao ponto de chegada do elevador, uma
varanda ao nível do tabuleiro rodoviário, é provável que não
cheguem a caber dez pessoas. Tudo tem de ficar bem “escondido para
não causar distracções” nos condutores.
com Lucinda Canelas
Notícia actualizada
às 15h55 para acrescentar as fotografias manipuladas que mostram
como será o novo elevador e o núcleo interpretativo
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