Golpada
e humilhação do PS em Coimbra
VICTOR BAPTISTA
30/07/2015 – PÚBLICO
António
Costa precisava de um PS unido e mobilizado para vencer as eleições.
O exemplo de Coimbra fala por si.
A lista de
candidatos a deputados imposta a Coimbra pelos órgãos nacionais do
PS não cumpriu o n.º 5,do art..º 79, dos Estatutos, que na íntegra
passo a transcrever:
“A Comissão
Política Nacional, sob proposta do Secretário-Geral, tem o direito
de designar candidatos para as listas de Deputados à Assembleia da
República, tendo em conta a respectiva dimensão, indicando o seu
lugar de ordem, num número global nunca superior a 30% do número
total de deputados eleitos na última eleição em cada círculo
eleitoral”.
Ora, como no último
acto eleitoral foram eleitos apenas três deputados, a Comissão
Política Nacional só poderia incluir um único candidato, mas
contrariando as normas estatutárias incluiu três e alterou o
posicionamento de um.
Acresce que, a
possibilidade de avocação da lista por parte da Comissão Política
Nacional só poderia ser possível nos termos do nº7, do citado
art.º 79, que também transcrevo:
“Quando a Comissão
Política Nacional considerar que uma lista de candidatos a Deputados
à Assembleia da República, aprovada em Comissão Política da
Federação, não cumpre os critérios e/ou as metodologias
estabelecidos no número anterior, pode, por maioria dos membros em
efectividade de funções, avocar a deliberação relativa à
composição da lista”.
Não houve avocação
da deliberação porque os critérios e metodologias foram cumpridos
e, sobretudo, porque a Comissão Política Nacional não deliberou
explicitamente sobre a avocação da lista de Coimbra.
A CPN teria de
fundamentar a avocação para apresentar uma nova lista e mesmo essa
nova lista teria de respeitar o estipulado no citado art.º 79. Na
realidade apenas se limitaram a aprovar a lista que alteraram numa
deliberação em desconformidade com os Estatutos. As votações dos
membros da CPN, ainda que decisões políticas, têm necessariamente
de cumprir as disposições estatutárias. Imagine-se as
consequências políticas para o PS da possibilidade de alguns dos
interessados prejudicado decidir recorrer da decisão para os órgãos
próprios podendo chegar ao Tribunal Constitucional?
Os factos traduzem
uma golpada e a humilhação do PS em Coimbra.
Fui Presidente da
Federação, Adjunto e Presidente da Concelhia muitos anos e nunca
assisti a uma situação semelhante de tamanho ultraje ao PS de
Coimbra e, principalmente, de violação dos estatutos. Concorde-se
ou não, os socialistas e os portugueses merecem respeito. Os
portugueses são muito sensíveis à intolerância e arrogância.
Quando fui
Presidente da Federação passei por momentos delicados na feitura de
listas para deputados. Em 2005 até recebi “ameaças” telefónicas
para incluir personalidades universitárias. Não as valorizei mas,
ainda hoje, reconheço a animosidade dessas pessoas, o que demonstra
uma grande falta de nobreza. Não foi por pressões internas ou
externas que as listas não foram aprovadas. E os resultados
eleitorais conseguidos atestaram a justeza das decisões.
Recordo as bonitas
palavras de Torga: “passa na rua um cortejo comandado por alguns
cabecilhas. Como regentes de orquestra, são eles que regulam os
vivas e os morras…”.
A política é,
porventura, o único espaço em que se morre e se renasce.
Adormecidos por
Álvaro Beleza, que na última da hora recusou e assumiu uma atitude
digna, foram muitos os “seguristas” que sucumbiram por
acreditarem num esforço autêntico de unidade do PS promovida por
António Costa. A unidade que reivindicou a Seguro. Que bem prega
“Frei Tomás”!
A tão propalada
renovação de listas mais parece uma remoção de “seguristas”.
E vislumbro no país, Beja, um único cabeça de lista afecto a
Seguro. A renovação só existiu nos “opositores” a Costa.
António Costa
precisava de um PS unido e mobilizado para vencer as eleições. O
exemplo de Coimbra fala por si. E o que se passou ao longo do país
foi politicamente muito preocupante. António Costa tem de vencer as
eleições legislativas com uma confortável maioria no seguimento do
que ele e os seus apoiantes prometeram na campanha interna. E na base
dessa promessa António José Seguro foi afastado! Se não vencer
será evidentemente o único responsável.
Economista,
ex-deputado do PS
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