Grexit?
Provavelmente
TERESA DE SOUSA
05/07/2015 / PÚBLICO
Alexis
Tsipras prometeu aos gregos, antes do referendo, que um rotundo “não”
à proposta que os europeus querem impor à Grécia melhoraria a sua
capacidade negocial em Bruxelas.
Este domingo, depois
dos resultados, garantiu que conseguiria um acordo com os credores em
48 horas. A urgência resulta da necessidade de abrir os bancos, cujo
encerramento está a paralisar a economia. A questão é saber quem é
que lhe vai abrir a porta e que acordo vai assinar. Sobre isso, o
líder grego não disse nada aos eleitores. Sabe que esse acordo é
impossível. A proposta que consta do boletim de voto do referendo já
não existe. Aquela que Tsipras levará no bolso não se conhece. A
primeira pergunta é, portanto, a que se destina esta promessa vã.
Nos últimos dias, a palavra de ordem em Bruxelas e em várias
capitais europeias era igualmente simples: um “não” significaria
a rejeição do euro. Muitos analistas consideram que será difícil
impedir um Grexit depois deste referendo, travado em circunstâncias
muito duras para os gregos, que, mesmo assim, arriscaram dizer
maciçamente não.
Em face dos números,
as reacções europeias foram prudentes. A chanceler alemã já
anunciou um encontro com o Presidente francês no Eliseu ao fim do
dia. Angela Merkel, que calculou mal o comportamento do seu homólogo
grego, averbou uma enorme derrota, talvez a maior desde que é
chanceler, dizem muitos analistas, inclusivamente alemães. Precisa
de um entendimento com François Hollande para evitar uma reacção
europeia em ordem dispersa. O Presidente francês sempre considerou
que seria dramática a saída da Grécia do euro. No sábado, antes
de conhecer os resultados, numa entrevista ao Bild, o ministro das
Finanças alemão foi mais cordato do que lhe é habitual: “O
Eurogrupo está aberto a novas propostas, não deixaremos os gregos
ao abandono.”
A crise arrasta-se
há meses e ainda não há, em Bruxelas ou em Berlim, um plano para
responder a este cenário de ruptura. Os analistas têm ideias mais
claras. Este voto “vai determinar a trajectória futura da
integração europeia”, diz à AFP Pawel Tokarski, da Fundação de
Ciências Política de Berlim (SWP). Noutro think-tank alemão,
Julian Rappold lembra que a chanceler “não queria que a
responsabilizassem pela saída da Grécia”. Um Grexit significaria
um fracasso da gestão da crise que é da sua responsabilidade. O
Monde escreve que “é difícil não ver no 'não' da Grécia uma
pesada derrota para Angela Merkel”.
Na fase final das
negociações com Atenas, o SPD não descolou das posições da
chanceler. Fez de intermediário com o Syriza e convenceu-se de que
haveria uma solução que separasse o trigo do joio dentro da
coligação de Tsipras. Este domingo, Sigmar Gabriel, vice-chanceler
social-democrata, reagiu aos resultados dizendo a um jornal alemão
que “o voto torna difícil imaginar conversações para um novo
resgate”. Aponta o dedo a Tsipras, que “dinamitou a última
ponte”. É essa a questão fundamental. Antes do referendo, o
Governo grego propôs a Bruxelas um programa de apoio financeiro para
dois anos no valor de 30 mil milhões. Ora, esse novo empréstimo
teria de ser sujeito às condições habituais. “Claro que a porta
está aberta aos gregos para um novo resgate”, diz ao Telegraph o
vice-presidente da bancada da CDU da chanceler. “Mas será muito
difícil porque vai ter de haver condicionalidade.” Ou seja, as
reformas que o Syriza não quer aceitar, pelo menos na dose
recomendada em Bruxelas.
O que é
praticamente unânime é que a Europa tem um problema muito sério
para resolver e não sabe como. Os responsáveis europeus acreditaram
que os gregos, que querem ficar na Europa, prefeririam votar no
“sim”. Esqueceram-se do tamanho dos sacrifícios por que passaram
sem verem resultados e da falta de uma alternativa que achem decente.
Os líderes europeus
também não dispõem de muito tempo. Atenas não pagou ao FMI na
semana passada. Mas o verdadeiro teste é a 20 de Julho, quando tiver
de pagar 3,5 mil milhões ao BCE. Uma falta de pagamento teria
consequências muito negativas, limitando as medidas não
convencionais que o BCE tem adoptado para manter o sistema financeiro
a respirar, mesmo que seja já com ventilador. “Basicamente, os
bancos [gregos] são insolventes, mas mantemos a ficção de que são
solventes para lhes garantir liquidez”, disse uma fonte do BCE ao
Telegraph.
Será ainda possível
sentar à mesa o primeiro-ministro grego e os seus principais
parceiros europeus para uma discussão aberta? O clima azedou
demasiado. Tsipras e Varoufakis disseram coisas impensáveis sobre os
seus homólogos – o primeiro chamou-lhes “mentirosos”, o
segundo “terroristas”. Ganharam uma importante batalha interna.
Voltaram, porventura, a acreditar que a sua jogada fundamental
continua válida: é tal o medo de um Grexit que agora Berlim vai
mesmo ceder. Gideon Rachman chama-lhes no Financial Times “rebeldes
sem causa”. Podem sofrer uma desilusão. A chanceler vai ser
pressionada até ao limite por todos aqueles que recusam beneficiar
um incumpridor. Os que tiveram de cumprir até à última gota
(Portugal em primeiro lugar), os que fizeram as suas reformas
sozinhos e com muitos sacrifícios (Bálticos), os que se consideram
mais pobres do que a Grécia e, finalmente, os que, como a Finlândia,
estão já sob influência dos populistas de direita, dispensando
decisões que tenham de ir ao Parlamento. Todos olham para o dia
seguinte. Era preciso alguém que olhasse um pouco mais além. Os
próximos dias serão alucinantes. A Europa enfrentará uma prova de
vida para a qual não está preparada. O Grexit é hoje muito mais
provável do que ontem. Perdem todos.
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