EDITORIAL/ PÚBLICO
Schäuble
e o Catch-22 na Grécia
DIRECÇÃO EDITORIAL
16/07/2015 - PÚBLICO
Ministro
alemão quer que a Grécia fique no euro. Mas para ficar no euro a
Grécia tem de sair do euro
Esta quinta-feira
foram dados dois passos importantes para aliviar o dramatismo da
crise grega, pelo menos a curto prazo. Por um lado, os ministros do
Eurogrupo chegaram a um entendimento em relação à libertação de
um empréstimo de transição de 7000 milhões de euros que vai
permitir à Grécia pagar o que deve ao BCE e saldar a dívida ao
FMI. E, com o que sobrar, garantir o pagamento de pensões e
salários. Por outro lado, o BCE voltou a abrir a torneira de
liquidez dos bancos gregos, ainda que de uma forma contida.
Agora falta o mais
difícil, ou seja, começarem as negociações para um terceiro
resgate, numa altura em que nem credores, nem devedores parecem muito
convencidos de que terá pernas para andar. Do lado dos devedores,
apesar da aprovação no Parlamento grego, Alexis Tsipras foi claro
ao dizer que só assinou o acordo porque lhe colocaram uma “faca ao
pescoço”. Logo, o empenho na execução e no sucesso do acordo
será mínimo ou nenhum.
Do lado dos
credores, o FMI também já veio dizer que poderá não contribuir
com a sua quota parte no cheque de 86 mil milhões do resgate, já
que as regras do Fundo dizem que apenas pode conceder empréstimos a
países cuja dívida seja considerada sustentável, o que não é
claramente o caso grego. Como tal, pede à Alemanha e aos demais
países do euro um perdão que coloque a dívida novamente num limiar
suportável.
E o que diz a
Alemanha? Wolfgang Schäuble concorda que a dívida é insustentável
e quer que a Grécia continue no euro. Mas diz que para baixar a
dívida é preciso um perdão, mas que o perdão é incompatível com
os tratados e a permanência do país na zona euro. Ou seja, só
concebe um haircut se o país sair da moeda única. É uma espécie
de lógica circular digna do Catch-22 de Joseph Heller: Schäuble
quer a Grécia no euro, mas para isso a Grécia tem de sair do euro.
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