Tsipras
substituiu contestatários no Governo
JOÃO MANUEL ROCHA
17/07/2015 - PÚBLICO
Saem,
como previsto, Panagiotis Lafazanis, líder da Plataforma de
Esquerda, e alguns vice-ministros. Incêndios também exigiram
atenção do primeiro-ministro.
O primeiro-ministro
grego, Alexis Tsipras, concretizou na noite desta sexta-feira uma
remodelação governamental que era esperada depois da divisão
provocada no seu partido, Syriza, pela aprovação de medidas de
austeridade exigidas pelos parceiros da zona euro. Saem membros do
Governo que votaram contra o acordo e são mudadas internamente
algumas peças.
Como previsto, um
dos que sai é o até aqui ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis,
líder da Plataforma de Esquerda, a facção mais radical do Syriza,
que votou contra o acordo. É substituído por Panos Skourletis, que
era ministro do Trabalho e é considerado um fiel do chefe do
Governo. Para o lugar de Skourletis vai Giorgos Katrougalos, que
estava na Administração Interna.
É igualmente
substituída Nadia Valavani, vice das Finanças, que se demitiu horas
antes da votação de quarta-feira. O seu substituto chama-se Tryfon
Alexiadis, um dirigente do sindicato dos trabalhadores dos impostos.
Christoforos Vernardakis, um académico, torna-se vice da Defesa,
ocupando o lugar de Kostas Isychos, um contestatário cuja saída
estava também pré-anunciada. A deputada Olga Gerovasili é agora
porta-voz, substituindo Gavriil Sakellarides,
No total são,
segundo a AFP, dez as alterações, incluindo mudança de pastas, num
Governo de 42 membros. Mas não há surpresas. Os substituídos são
principalmente vice-ministros.
“Nada de
espectacular”, escreveu no twitter o analista Nick Malkoutzis, do
diário Kathimerini e do site de análise Macropolis, que deixa uma
questão: “Um Governo desenhado apenas para as próximas semanas?”
Chegou a admitir-se
que a remodelação pudesse ser atrasada devido à atenção que
Tsipras teve de dar aos incêndios que deflagraram com intensidade à
volta de Atenas e noutras zonas do Sul da Grécia. Nuvens de fumo
cobriram áreas da capital. Dezenas de pessoas foram obrigadas a
deixar casas ameaçadas pelas chamas. A polícia contou 34 incêndios
em quatro frentes, entre a ilha de Evia, a nordeste da capital, e a
região de Peloponeso.
O primeiro-ministro
apelou à calma e mobilizou a Força Aérea, e outros meios
militares, para reforçarem o combate às chamas. Pediu também apoio
aéreo aos parceiros europeus para lidar com uma situação que é
frequente no Verão. As altas temperaturas e o vento facilitaram que
a progressão do fogo.
Ainda na qualidade
de ministro, Panagiotis Lafazanis deslocou-se a uma frente de
incêndio perto de Atenas. “Estamos todos a fazer um esforço para
evitar o pior”, disse, com uma máscara de protecção, à
televisão grega. Foi, segundo a Reuters, vaiado por moradores
furiosos que o acusaram de estar a fazer “micropolítica” e o
desafiaram a despir o casaco e ajudar.
Outros fogos
deflagraram em zonas rurais da ilha de Evia, próximo de Atenas, e na
região da Lacónia, sudeste do Peloponeso, 300 Km da capital, onde –
segundo a televisão pública – a frente de incêndio tinha 15 Km
de extensão, combatida por aviões, helicópteros e dezenas de
bombeiros. “Duas aldeias foram evacuadas depois de o fogo ter
destruído casas”, disse o presidente do município de Monemvassia,
Iraklis Trichilis, à agência Ana. A polícia informou que um homem
de 58 anos que sofria de problemas respiratórios, um turista segundo
a Mega TV, morreu depois de ter inalado fumo.
Parlamentos
europeus dão luz verde a negociações com a Grécia
No
Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), a chanceler Angela
Merkel tinha a missão de justificar perante os deputados a
necessidade de um terceiro resgate à Grécia e, para isso, fez
assentar o seu discurso na “irresponsabilidade” que seria não o
fazer e no “caos” que se iria abater sobre a Europa.
João Ruela Ribeiro
/ 18-7-2015 / PÚBLICO
A defesa forte pela
chanceler contrasta com a posição aflorada pelo seu ministro das
Finanças, Wolfgang Schäuble, que ainda na véspera do debate voltou
a aludir a uma saída temporária da Grécia da zona euro. Apesar de
a confiança no poderoso ministro se manter inabalável — Merkel
até agradeceu a Schäuble durante o discurso — a chanceler não
deixou de fazer eco do cenário que tem sido levantado.
“A alternativa a
este acordo não seria uma ‘saída limitada’ do euro (...) mas
sim um caos bastante previsível.” “Seríamos altamente
negligentes e agiríamos irresponsavelmente, se, pelo menos, não
tentássemos esta via”, acrescentou Merkel. Sabendo que falava não
apenas para o seu eleitorado, mas para toda a Europa, a chanceler
concluiu que a decisão de propor um novo programa à Grécia foi
tomada em nome de “uma Europa forte e uma zona euro forte”.
Schäuble garantiu
que serão feitos todos os esforços para que “esta última
tentativa alcance o sucesso”. “Pensamos que existe uma hipótese
de poder concluir as negociações de forma positiva”, acrescentou
o ministro, apesar de reconhecer que será “bastante complicado.
O vice-chanceler e
ministro da Economia, Sigmar Gabriel, que é também líder dos
sociais-democratas, aliados da CDU no executivo, sublinhou que o
acordo permitiu evitar “uma divisão de toda a Europa” que teria
originado “uma crise muito mais grave”.
Alemães e
finlandeses contra
O início das
negociações para o acordo recebeu o voto favorável da maioria dos
deputados (439), contou com o chumbo de 119 e ainda a abstenção de
40 deputados. Mas, mesmo em dia de aniversário, Angela Merkel viu 60
deputados do seu partido a votar contra a indicação do Governo.
Lembrava a Reuters que o número de conservadores a chumbar um
programa de resgate à Grécia duplicou em relação a Fevereiro,
quando foi votado o segundo.
Na véspera, 48
membros da bancada conservadora já tinham anunciado previamente o
seu chumbo. A rebeldia dos legisladores da CDU é evocativa de um
sentimento dominante na sociedade alemã — os que recusam ver o
dinheiro dos seus impostos a ser canalizado para mais um programa de
resgate à Grécia. Desde 2010, esta foi a sexta ocasião em que os
deputados alemães foram chamados a pronunciar-se em relação a um
programa de resgate grego.
Uma sondagem do
instituto britânico YouGov publicada no próprio dia da votação
mostrava que 56% dos 1380 alemães inquiridos consideravam negativo o
acordo alcançado no fim-de-semana — um sentimento transversal a
apoiantes de todos os partidos, embora por razões diferentes. “Os
alemães podem opor-se ao acordo porque o vêem como injusto para a
Grécia ou porque preferiam uma linha mais dura”, escrevem os
autores do estudo.
O tablóide mais
vendido do país, o Bild, apontava “Sete razões por que o
Bundestag deve votar ‘Não’ hoje” na sua primeira página.
Entre elas estava, por exemplo, o argumento de que “os nossos netos
irão pagar” o novo resgate. Para obter o aval dos líderes
europeus, as autoridades gregas tiveram que se comprometer a um
pacote de medidas sob condições de extrema dureza, incluindo a
subida do IVA e reformas do sistema de pensões e das leis laborais.
Sensível à ideia
geral que impera entre o seu eleitorado, Merkel reconheceu que o
acordo “é duro para as pessoas na Grécia, mas também para os
outros”. Porém, a chanceler descreveu esta “última tentativa”
como uma manifestação de “solidariedade sem precedentes” por
parte de uns e de “exigências sem precedentes” da parte da
Grécia.
Entre os
finlandeses, o desagrado em relação ao novo programa é ainda mais
profundo. Apenas um quarto (26%) dos inquiridos por uma sondagem do
instituto Taloustutkimus dão apoio ao acordo, enquanto a maioria
(57%) se diz contra. Apesar do sentimento dominante, o Parlamento
finlandês aprovou ontem o início das negociações com a Grécia.
No mesmo sentido
votaram os deputados austríacos, reunidos esta sexta-feira em sessão
plenária extraordinária. O início das negociações com a Grécia
foi aprovado pelas bancadas que apoiam o Governo de grande coligação
do Partido Social-Democrata (SPÖ) e do Partido Democrata-Cristão
(ÖVP).
O Parlamento sueco
deu luz verde à aprovação do empréstimo de emergência (que conta
com a participação dos 28 Estados-membros da União Europeia e não
apenas da zona euro), através do voto favorável da Comissão de
Assuntos Europeus. Segundo a agência TT, os dois partidos que apoiam
o Governo, os sociais-democratas e os verdes, votaram a favor, em
conjunto com as quatro formações de centro-direita na oposição. O
Partido de Esquerda e os populistas de extrema-direita Democratas
Suecos votaram contra.
“Os países
não-membros da zona euro obtiveram garantias que não serão tocados
caso a Grécia não consiga reembolsar o empréstimo de urgência”,
disse a ministra das Finanças, Magdalena Andersson.
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