sexta-feira, 17 de julho de 2015

Tsipras substituiu contestatários no Governo / Parlamentos europeus dão luz verde a negociações com a Grécia No Bundest

Raquel Varela / Facebook
9 hrs · Glyfáda, Greece ·
"Tsipras foi eleito com um programa para pôr fim à austeridade, há 6 meses, fez depois um referendo que lhe deu 61% de apoio, a maioria do comité central do seu partido votou contra o III Memorando e a maioria das regionais do partido. Fez passar no parlamento com os votos da direita o que as eleições e um plebiscito rejeitaram, 48 horas antes. Aos seus deputados que não votaram do lado dele disse-lhes que eles estavam a "pôr em causa a unidade do partido". Prepara uma remodelação para retirar os ministros que estão contra o Memorando. Tsipras e a direção do Syrisa não têm qualquer legitimidade para carregar a bandeira da democracia. A esquerda que tem a ousadia de defender Tsipras devia ter vergonha. E se o faz em nome da "unidade do partido", depois do que foi a história do século XX, ainda fica pior na fotografia."

Tsipras substituiu contestatários no Governo
JOÃO MANUEL ROCHA 17/07/2015 - PÚBLICO

Saem, como previsto, Panagiotis Lafazanis, líder da Plataforma de Esquerda, e alguns vice-ministros. Incêndios também exigiram atenção do primeiro-ministro.

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, concretizou na noite desta sexta-feira uma remodelação governamental que era esperada depois da divisão provocada no seu partido, Syriza, pela aprovação de medidas de austeridade exigidas pelos parceiros da zona euro. Saem membros do Governo que votaram contra o acordo e são mudadas internamente algumas peças.

Como previsto, um dos que sai é o até aqui ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, líder da Plataforma de Esquerda, a facção mais radical do Syriza, que votou contra o acordo. É substituído por Panos Skourletis, que era ministro do Trabalho e é considerado um fiel do chefe do Governo. Para o lugar de Skourletis vai Giorgos Katrougalos, que estava na Administração Interna.

É igualmente substituída Nadia Valavani, vice das Finanças, que se demitiu horas antes da votação de quarta-feira. O seu substituto chama-se Tryfon Alexiadis, um dirigente do sindicato dos trabalhadores dos impostos. Christoforos Vernardakis, um académico, torna-se vice da Defesa, ocupando o lugar de Kostas Isychos, um contestatário cuja saída estava também pré-anunciada. A deputada Olga Gerovasili é agora porta-voz, substituindo Gavriil Sakellarides,

No total são, segundo a AFP, dez as alterações, incluindo mudança de pastas, num Governo de 42 membros. Mas não há surpresas. Os substituídos são principalmente vice-ministros.

“Nada de espectacular”, escreveu no twitter o analista Nick Malkoutzis, do diário Kathimerini e do site de análise Macropolis, que deixa uma questão: “Um Governo desenhado apenas para as próximas semanas?”

Chegou a admitir-se que a remodelação pudesse ser atrasada devido à atenção que Tsipras teve de dar aos incêndios que deflagraram com intensidade à volta de Atenas e noutras zonas do Sul da Grécia. Nuvens de fumo cobriram áreas da capital. Dezenas de pessoas foram obrigadas a deixar casas ameaçadas pelas chamas. A polícia contou 34 incêndios em quatro frentes, entre a ilha de Evia, a nordeste da capital, e a região de Peloponeso.

O primeiro-ministro apelou à calma e mobilizou a Força Aérea, e outros meios militares, para reforçarem o combate às chamas. Pediu também apoio aéreo aos parceiros europeus para lidar com uma situação que é frequente no Verão. As altas temperaturas e o vento facilitaram que a progressão do fogo.

Ainda na qualidade de ministro, Panagiotis Lafazanis deslocou-se a uma frente de incêndio perto de Atenas. “Estamos todos a fazer um esforço para evitar o pior”, disse, com uma máscara de protecção, à televisão grega. Foi, segundo a Reuters, vaiado por moradores furiosos que o acusaram de estar a fazer “micropolítica” e o desafiaram a despir o casaco e ajudar.


Outros fogos deflagraram em zonas rurais da ilha de Evia, próximo de Atenas, e na região da Lacónia, sudeste do Peloponeso, 300 Km da capital, onde – segundo a televisão pública – a frente de incêndio tinha 15 Km de extensão, combatida por aviões, helicópteros e dezenas de bombeiros. “Duas aldeias foram evacuadas depois de o fogo ter destruído casas”, disse o presidente do município de Monemvassia, Iraklis Trichilis, à agência Ana. A polícia informou que um homem de 58 anos que sofria de problemas respiratórios, um turista segundo a Mega TV, morreu depois de ter inalado fumo.


Parlamentos europeus dão luz verde a negociações com a Grécia
No Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), a chanceler Angela Merkel tinha a missão de justificar perante os deputados a necessidade de um terceiro resgate à Grécia e, para isso, fez assentar o seu discurso na “irresponsabilidade” que seria não o fazer e no “caos” que se iria abater sobre a Europa.

João Ruela Ribeiro / 18-7-2015 / PÚBLICO

A defesa forte pela chanceler contrasta com a posição aflorada pelo seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, que ainda na véspera do debate voltou a aludir a uma saída temporária da Grécia da zona euro. Apesar de a confiança no poderoso ministro se manter inabalável — Merkel até agradeceu a Schäuble durante o discurso — a chanceler não deixou de fazer eco do cenário que tem sido levantado.
“A alternativa a este acordo não seria uma ‘saída limitada’ do euro (...) mas sim um caos bastante previsível.” “Seríamos altamente negligentes e agiríamos irresponsavelmente, se, pelo menos, não tentássemos esta via”, acrescentou Merkel. Sabendo que falava não apenas para o seu eleitorado, mas para toda a Europa, a chanceler concluiu que a decisão de propor um novo programa à Grécia foi tomada em nome de “uma Europa forte e uma zona euro forte”.
Schäuble garantiu que serão feitos todos os esforços para que “esta última tentativa alcance o sucesso”. “Pensamos que existe uma hipótese de poder concluir as negociações de forma positiva”, acrescentou o ministro, apesar de reconhecer que será “bastante complicado.
O vice-chanceler e ministro da Economia, Sigmar Gabriel, que é também líder dos sociais-democratas, aliados da CDU no executivo, sublinhou que o acordo permitiu evitar “uma divisão de toda a Europa” que teria originado “uma crise muito mais grave”.
Alemães e finlandeses contra
O início das negociações para o acordo recebeu o voto favorável da maioria dos deputados (439), contou com o chumbo de 119 e ainda a abstenção de 40 deputados. Mas, mesmo em dia de aniversário, Angela Merkel viu 60 deputados do seu partido a votar contra a indicação do Governo. Lembrava a Reuters que o número de conservadores a chumbar um programa de resgate à Grécia duplicou em relação a Fevereiro, quando foi votado o segundo.
Na véspera, 48 membros da bancada conservadora já tinham anunciado previamente o seu chumbo. A rebeldia dos legisladores da CDU é evocativa de um sentimento dominante na sociedade alemã — os que recusam ver o dinheiro dos seus impostos a ser canalizado para mais um programa de resgate à Grécia. Desde 2010, esta foi a sexta ocasião em que os deputados alemães foram chamados a pronunciar-se em relação a um programa de resgate grego.
Uma sondagem do instituto britânico YouGov publicada no próprio dia da votação mostrava que 56% dos 1380 alemães inquiridos consideravam negativo o acordo alcançado no fim-de-semana — um sentimento transversal a apoiantes de todos os partidos, embora por razões diferentes. “Os alemães podem opor-se ao acordo porque o vêem como injusto para a Grécia ou porque preferiam uma linha mais dura”, escrevem os autores do estudo.
O tablóide mais vendido do país, o Bild, apontava “Sete razões por que o Bundestag deve votar ‘Não’ hoje” na sua primeira página. Entre elas estava, por exemplo, o argumento de que “os nossos netos irão pagar” o novo resgate. Para obter o aval dos líderes europeus, as autoridades gregas tiveram que se comprometer a um pacote de medidas sob condições de extrema dureza, incluindo a subida do IVA e reformas do sistema de pensões e das leis laborais.
Sensível à ideia geral que impera entre o seu eleitorado, Merkel reconheceu que o acordo “é duro para as pessoas na Grécia, mas também para os outros”. Porém, a chanceler descreveu esta “última tentativa” como uma manifestação de “solidariedade sem precedentes” por parte de uns e de “exigências sem precedentes” da parte da Grécia.
Entre os finlandeses, o desagrado em relação ao novo programa é ainda mais profundo. Apenas um quarto (26%) dos inquiridos por uma sondagem do instituto Taloustutkimus dão apoio ao acordo, enquanto a maioria (57%) se diz contra. Apesar do sentimento dominante, o Parlamento finlandês aprovou ontem o início das negociações com a Grécia.
No mesmo sentido votaram os deputados austríacos, reunidos esta sexta-feira em sessão plenária extraordinária. O início das negociações com a Grécia foi aprovado pelas bancadas que apoiam o Governo de grande coligação do Partido Social-Democrata (SPÖ) e do Partido Democrata-Cristão (ÖVP).
O Parlamento sueco deu luz verde à aprovação do empréstimo de emergência (que conta com a participação dos 28 Estados-membros da União Europeia e não apenas da zona euro), através do voto favorável da Comissão de Assuntos Europeus. Segundo a agência TT, os dois partidos que apoiam o Governo, os sociais-democratas e os verdes, votaram a favor, em conjunto com as quatro formações de centro-direita na oposição. O Partido de Esquerda e os populistas de extrema-direita Democratas Suecos votaram contra.

“Os países não-membros da zona euro obtiveram garantias que não serão tocados caso a Grécia não consiga reembolsar o empréstimo de urgência”, disse a ministra das Finanças, Magdalena Andersson.

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