Bolsa
chinesa volta às fortes quedas e regulador admite “sentimento de
pânico”
Principais
índices chineses registaram ontem quedas acima dos 5%. Medidas
adoptadas pelo Governo não estão a surtir efeito
Analistas
admitem que a crise nas bolsas chinesas pode ter ainda maiores
repercussões do que a instabilidade na Grécia
Rosa Soares /
9-7-2015 / PÚBLICO
A queda das bolsas
de Xangai e de Shenzhen voltou a agravar-se ontem, com fortes
desvalorizações dos índices, numa altura em que há um elevado
número de empresas com a cotação suspensa. O próprio regulador do
mercado admite que há “um sentimento de pânico” entre os
investidores. Apesar do conjunto de medidas tomadas para estancar a
pressão vendedora, o principal índice da bolsa de Xangai, o SSE
composite, caiu 5,91%. O CSI Index, da bolsa de Shenzhen, caiu 6,75%.
O contágio das desvalorizações das bolsas continentais também se
está a estender a Hong Kong, onde o principal índice, o Hang Seng,
caiu 5,84%.
A par das perdas,
que chegaram a cerca de 30% nas últimas três semanas, a situação
começa a ser caótica, com centenas de empresas com a cotação
suspensa, umas a pedido das próprias, para travar as quedas, e
outras por razões técnicas, porque perderam mais de 10% numa mesma
sessão. Só ontem, mais de 500 empresas anunciaram a suspensão de
cotação das suas acções, o que eleva o número total de cotações
suspensas acima de 1300, correspondendo a cerca de 45% do mercado e a
2,4 mil milhões de dólares em valor (cerca de 2,17 mil milhões de
euros).
A situação das
bolsas da segunda maior economia mundial começa a gerar fortes
preocupações, com alguns analistas a admitir que pode ter
repercussões maiores do que a crise grega. A queda está a ser
empolada por várias causas, entre as quais o receio de que exista
uma bolha no mercado (valorização excessiva e insustentável dos
títulos) que está a rebentar. Além disso, as recentes medidas do
Governo não estão a estancar a pressão vendedora, num mercado onde
existem 90 milhões de investidores.
A última medida do
Banco Popular da China foi uma nova injecção de capital no mercado,
no montante de 50 mil milhões de yuans (7,4 mil milhões de euros),
a quarta desde o dia 25 de Junho, totalizando 420 mil milhões de
yuans (62 mil milhões de euros). Durante o último fim-de-semana,
foi acordado que as maiores corretoras investiriam um mínimo de 120
mil yuans (perto de 19.330 milhões de dólares ou 17.472 milhões de
euros) na compra de acções, de forma a travar a pressão vendedora.
Paralelamente, o
Conselho de Estado chinês suspendeu a realização de 28 ofertas
públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês), algumas das quais já
tinham sido iniciadas. E a China Securities Regulatory Commission, a
autoridade supervisora da bolsa, também anunciou que está a
investigar eventuais acções de manipulação do mercado.
A desvalorização
das últimas semanas, que acontece depois de uma duplicação de
valor no último ano, tem ficado a dever-se ao facto de muitos
investidores terem sido pressionados a vender parte das suas
carteiras para pagar empréstimos que contraíram para investir na
bolsa. Muitas empresas de corretagem chinesas recorrem ao chamado
margin call, um sistema através do qual emprestam dinheiro aos
investidores para comprar uma carteira de acções. Os investidores
entram com uma pequena parte do capital, dando as acções como
garantia. Mas sempre que a carteira se desvaloriza, ficam obrigados a
reforçar a margin call, recorrendo, no caso de não terem liquidez,
à venda dos títulos. As corretoras também ficam com a
possibilidade de, na ausência de reforço por parte do investidor,
proceder à venda automática dos títulos, criando maior pressão no
mercado.
A queda da bolsa
chinesa nas últimas semanas também tem sido potenciada por vendas
de títulos de forma a libertar liquidez para aplicar nos inúmeros
IPO em agenda, entretanto suspensos. Há ainda uma terceira razão,
talvez a mais importante, que se prende com o abrandamento da
economia chinesa e a ideia de que alguns activos chineses possam
estar sobrevalorizados. No primeiro trimestre deste ano, o Produto
Interno Bruto cresceu a um ritmo (7%) que é o mais baixo desde 2009.
O investimento em bolsa acelerou no último ano e foi incentivado
pelo Governo chinês, que com isso quis retirar alguma pressão ao
abrandamento registado no mercado imobiliário.
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