quarta-feira, 8 de julho de 2015

Bolsa chinesa volta às fortes quedas e regulador admite “sentimento de pânico”


Bolsa chinesa volta às fortes quedas e regulador admite “sentimento de pânico”

Principais índices chineses registaram ontem quedas acima dos 5%. Medidas adoptadas pelo Governo não estão a surtir efeito

Analistas admitem que a crise nas bolsas chinesas pode ter ainda maiores repercussões do que a instabilidade na Grécia

Rosa Soares / 9-7-2015 / PÚBLICO

A queda das bolsas de Xangai e de Shenzhen voltou a agravar-se ontem, com fortes desvalorizações dos índices, numa altura em que há um elevado número de empresas com a cotação suspensa. O próprio regulador do mercado admite que há “um sentimento de pânico” entre os investidores. Apesar do conjunto de medidas tomadas para estancar a pressão vendedora, o principal índice da bolsa de Xangai, o SSE composite, caiu 5,91%. O CSI Index, da bolsa de Shenzhen, caiu 6,75%. O contágio das desvalorizações das bolsas continentais também se está a estender a Hong Kong, onde o principal índice, o Hang Seng, caiu 5,84%.
A par das perdas, que chegaram a cerca de 30% nas últimas três semanas, a situação começa a ser caótica, com centenas de empresas com a cotação suspensa, umas a pedido das próprias, para travar as quedas, e outras por razões técnicas, porque perderam mais de 10% numa mesma sessão. Só ontem, mais de 500 empresas anunciaram a suspensão de cotação das suas acções, o que eleva o número total de cotações suspensas acima de 1300, correspondendo a cerca de 45% do mercado e a 2,4 mil milhões de dólares em valor (cerca de 2,17 mil milhões de euros).
A situação das bolsas da segunda maior economia mundial começa a gerar fortes preocupações, com alguns analistas a admitir que pode ter repercussões maiores do que a crise grega. A queda está a ser empolada por várias causas, entre as quais o receio de que exista uma bolha no mercado (valorização excessiva e insustentável dos títulos) que está a rebentar. Além disso, as recentes medidas do Governo não estão a estancar a pressão vendedora, num mercado onde existem 90 milhões de investidores.
A última medida do Banco Popular da China foi uma nova injecção de capital no mercado, no montante de 50 mil milhões de yuans (7,4 mil milhões de euros), a quarta desde o dia 25 de Junho, totalizando 420 mil milhões de yuans (62 mil milhões de euros). Durante o último fim-de-semana, foi acordado que as maiores corretoras investiriam um mínimo de 120 mil yuans (perto de 19.330 milhões de dólares ou 17.472 milhões de euros) na compra de acções, de forma a travar a pressão vendedora.
Paralelamente, o Conselho de Estado chinês suspendeu a realização de 28 ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês), algumas das quais já tinham sido iniciadas. E a China Securities Regulatory Commission, a autoridade supervisora da bolsa, também anunciou que está a investigar eventuais acções de manipulação do mercado.
A desvalorização das últimas semanas, que acontece depois de uma duplicação de valor no último ano, tem ficado a dever-se ao facto de muitos investidores terem sido pressionados a vender parte das suas carteiras para pagar empréstimos que contraíram para investir na bolsa. Muitas empresas de corretagem chinesas recorrem ao chamado margin call, um sistema através do qual emprestam dinheiro aos investidores para comprar uma carteira de acções. Os investidores entram com uma pequena parte do capital, dando as acções como garantia. Mas sempre que a carteira se desvaloriza, ficam obrigados a reforçar a margin call, recorrendo, no caso de não terem liquidez, à venda dos títulos. As corretoras também ficam com a possibilidade de, na ausência de reforço por parte do investidor, proceder à venda automática dos títulos, criando maior pressão no mercado.


A queda da bolsa chinesa nas últimas semanas também tem sido potenciada por vendas de títulos de forma a libertar liquidez para aplicar nos inúmeros IPO em agenda, entretanto suspensos. Há ainda uma terceira razão, talvez a mais importante, que se prende com o abrandamento da economia chinesa e a ideia de que alguns activos chineses possam estar sobrevalorizados. No primeiro trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto cresceu a um ritmo (7%) que é o mais baixo desde 2009. O investimento em bolsa acelerou no último ano e foi incentivado pelo Governo chinês, que com isso quis retirar alguma pressão ao abrandamento registado no mercado imobiliário.

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