Os restos da antiga
fábrica Constância estão no interior do quarteirão delimitado por
um prédio da Rua das Janelas Verdes
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Provedor
considera nulas decisões da câmara sobre quarteirão na Madragoa
Aprovação
do projecto que prevê a demolição do quarteirão dos Marianos e a
construção de um condomínio naquela zona da Madragoa viola o PDM.
Provedor recomenda à Câmara que volte atrás
“Entende-se,
salvo melhor opinião, aceitar a demolição proposta” — escreveu
um responsável camarário depois de fazer notar que os requisitos
legais da demolição não estavam preenchidos
José António
Cerejo / 11-7-2015 / PÚBLICO
São arrasadoras
para a Câmara de Lisboa e, em particular, para o vereador do
Urbanismo, Manuel Salgado, as conclusões a que o Provedor de Justiça
chegou quanto à legalidade das decisões que viabilizaram a
construção de um condomínio habitacional no espaço do antigo
Convento dos Marianos, junto à Rua das Janelas Verdes, na Madragoa.
Para José de Faria Costa não restam dúvidas: é tudo ilegal.
O projecto de
arquitectura, que contempla a construção de meia centena de
habitações numa área com cerca de 11 mil m2, delimitada pela Rua
das Janelas Verdes e pela Rua do Olival, foi aprovado em Agosto de
2013. O mesmo projecto prevê a demolição de vários edifícios,
entre os quais as instalações arruinadas onde funcionou, até
finais do século XX, a antiga Fábrica de Cerâmica Constância.
Condenado aos
escombros foi também o edifício com os números 60 a 68 da Rua da
Janelas Verdes, ainda hoje ocupado e em bom estado de conservação,
que, tal como a antiga fábrica, situada por trás, está inscrito na
Carta Municipal do Património, que integra o Plano Director
Municipal (PDM). A sua demolição, de acordo com o Provedor de
Justiça, é um dos vários aspectos em que os regulamentos
camarários são violados pelas decisões que conduziram à aprovação
do projecto. Isto porque — defende José de Faria Costa na
recomendação que dirigiu ao presidente da câmara, Fernando Medina,
no dia 15 de Junho — não se verificam os requisitos impostos pelo
PDM e pelo Plano da Madragoa para que seja possível demolir
edifícios inscritos na carta do património.
Para ilustrar a
forma como a câmara interpreta, “a seu bel-prazer”, os
dispositivos legais relativos àquilo que se pode ou não fazer no
local, Faria Costa escreve que o chefe da Divisão de Loteamentos
reconhece, numa informação técnica, a inexistência de
enquadramento legal para ser aprovada a demolição do edifício.
Mas, apesar disso, o mesmo chefe de divisão conclui assim a sua
apreciação do projecto: “Entende-se, salvo melhor opinião,
aceitar a demolição proposta”.
Daí que a
recomendação do provedor saliente: “Parece, aliás, que a câmara
municipal aplica e desaplica, alternadamente, as disposições do
Plano de Urbanização do Núcleo Histórico da Madragoa, da versão
inicial do Plano Director Municipal e do novo PDM sem que se alcance
o critério e fundamentação”.
Depois de uma
“aturada apreciação” do caso e de ponderadas as explicações
prestadas pelos serviços dirigidos por Manuel Salgado, Faria Costa
não hesita em classificar as decisões camarárias como ilegais e
nulas. A fundamentar esse entendimento, diz que a autarquia recorreu,
em 2013, a uma versão do PDM que já não estava em vigor desde o
ano anterior para determinar as áreas de estacionamento e as áreas
a construir pelo promotor [um fundo de investimento gerido por José
António José de Mello]. Já o cálculo das áreas a ceder para o
domínio público foram determinadas com base na actual versão do
PDM, em vigor desde 2012. Por isso, Faria Costa recomenda a Fernando
Medina que declare a nulidade das decisões em causa, devendo, nos
termos da lei e no prazo de 60 dias, informá~lo sobre se acata tal
recomendação.
O projecto do
quarteirão dos Marianos tem sido objecto de forte contestação dos
moradores e proprietários vizinhos, que já dirigiram três petições
à assembleia municipal contra a sua aprovação. Uma delas originou
uma recomendação à câmara, aprovada por unanimidade, e visava,
sobretudo, a conservação da memória da Fábrica Constância. A
última está ainda em apreciação na Comissão de Urbanismo da
assembleia. O presidente dessa comissão, Victor Gonçalves (PSD),
elaborou uma proposta de recomendação acerca da mesma petição,
mas o documento foi chumbado esta quarta-feira pelos representantes
dos PS.
No seu relatório,
Victor Gonçalves propunha que a assembleia recomendasse à câmara a
redução do número de pisos de alguns dos edifícios e outras
medidas que iam ao encontro das reivindicações dos peticionários e
das posições defendidas pelo presidente da Junta de Freguesia da
Estrela, Luís Newton (PSD). Victor Gonçalves disse, ontem, ao
PÚBLICO que, face à recomendação do provedor, a discussão da
petição deixa de fazer sentido.
Luís Newton, por
sua vez, manifestou-se agradado com a iniciativa do provedor. “Estou
satisfeito, mas também frustrado por não estar a ser encontrada uma
solução para um espaço que se encontra muito degradado”,
afirmou.
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