Posição
de Schäuble sobre a Grécia abre conflito no Governo de coligação
da Alemanha
RITA SIZA 21/07/2015
- 19:06
Além
da divergência com a chanceler Angela Merkel, o ministro das
Finanças alemão está em ruptura com os parceiros de coligação
sociais-democratas. Mas a popularidade de Schäuble está a aumentar
junto da opinião pública alemã.
O ministro das
Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, já disse que está
preparado para deixar o cargo se for obrigado a assinar mais
concessões nas negociações com a Grécia. Mas o aumento da tensão
e do confronto dentro da coligação alemã poderá forçar a sua
demissão para evitar uma crise de governo, especula o site de
informação dedicado à União Europeia, Euractiv.com – que aponta
para as duras críticas do vice-chanceler, Sigmar Gabriel, e outros
dirigentes sociais-democratas (SPD) à actuação de Schäuble como
um prenúncio da ruptura e saída do executivo do inflexível
ministro.
As diferenças entre
Schäuble e a chanceler Angela Merkel, no que diz respeito às
soluções para atacar a crise grega, já eram públicas. Mas segundo
o Euractiv.com, as recomendações do ministro alemão, nomeadamente
para uma saída temporária da Grécia do euro, enfureceram o SPD: o
líder do partido e vice-chanceler Sigmar Gabriel acusou Schäuble de
dificultar a posição germânica com “propostas desarrazoadas e
irracionais”.
Em declarações à
televisão pública ZDF, Sigmar Gabriel classificou a ideia de um
Grexit de cinco anos como um “despropósito”. “O senhor
Schäuble parece que está a querer provocar o Partido Social
Democrata”, disse, tornando clara a divisão no seio da coligação.
A posição do ministro das Finanças ao longo da crise grega começa
a ter um pesado custo político para a chanceler Angela Merkel, que
segundo diz a imprensa germânica, saiu enfraquecida do
braço-de-ferro com Schäuble.
Numa entrevista à
revista Der Spiegel, este fim-de-semana, Wolfgang Schäuble
desvalorizou os efeitos do seu “desacordo” com Merkel
relativamente à questão grega, lembrando que “opiniões
divergentes fazem parte da democracia” e garantindo que a chanceler
sabe que pode confiar nele. Mas Schäuble também disse que não
aceitaria ser “coagido” para tomar decisões: “E se alguém
tentar, irei ter com o Presidente para pedir que seja dispensado das
minhas responsabilidades e exonerado do cargo”, prometeu o
governante.
As palavras de
Wolfgang Schäuble ainda irritaram mais os sociais-democratas, que
interpretaram a sua ameaça de demissão como mais uma prova de que
“o centro-direita [CDU, o partido de Merkel e Schäuble] perdeu o
Norte no que diz respeito à política europeia”. “O alarde que
Schäuble fez da sua suposta intenção de se demitir é tão eficaz
como os alegados benefícios do Grexit”, comparou o vice-presidente
do SPD, Ralf Stegner.
Segundo o diário
Süddeutsche Zeitung, o eventual abandono de Wolfgang Schäuble do
executivo provocaria uma “rebelião” no partido que representaria
o fim do Governo de Merkel. Para o jornal, a proeminência política
do responsável das Finanças fez dele um “segundo chanceler” e
determinou “o fim da omnipotência de Merkel”. “Com a sua linha
dura contra a Grécia durante as negociações, ele conquistou os
seus correligionários políticos. Se o grupo parlamentar conservador
pudesse votar livremente em quem mais confia para conduzir o dossier
grego, Schäuble seria o escolhido numa vitória clara sobre Merkel”,
estima o jornal.
E não é só entre
os cristãos-democratas que a popularidade de Wolfgang Schäuble está
em alta. Numa sondagem YouGov, 49% dos alemães manifestavam o seu
apoio às posições do ministro das Finanças nas negociações
sobre a Grécia, enquanto 46% se mostravam satisfeitos com a gestão
da crise de Angela Merkel.
Sem comentários:
Enviar um comentário