O
primeiro dia da nova vida da Livraria Lello
RITA NEVES COSTA
23/07/2015 - PÚBLICO
O
sistema de acessos pagos para entrar na Livraria Lello entrou em
vigor esta quinta-feira. Para a administração, o balanço da medida
é positivo.
Depois de uma semana
de burburinho em redor das entradas pagas, deduzíveis na compra de
livros, a Livraria Lello inaugurou o novo sistema esta quinta-feira.
Um talão de três euros para os visitantes, válido por um mês, e
um cartão “Amigo Lello” de dez euros para clientes mais
esporádicos e válido durante um ano. O dia adivinhava-se um desafio
para a administração e os funcionários mas o cenário habitual
manteve-se: os turistas continuaram a aglomerar-se na Rua das
Carmelitas, no Porto.
Pouco depois das
10h, o trabalho começava e o primeiro passo era esclarecer as
pessoas que se dirigiam à livraria. Era necessário ir para o outro
lado da rua, adquirir os “bilhetes” no centro de acolhimento e só
depois permanecer à entrada da Lello. “Agora a fila é daquele
lado”, esclarecia um dos funcionários a duas turistas. “Podem
deduzir na compra de livros”, dizia outro.
O esforço para não
afugentar os futuros visitantes e clientes era visível em cada uma
das informações dadas. “Vamos ver se as pessoas vão mesmo para a
fila”, dizia uma funcionária da livraria. Tudo era explicado ao
pormenor mas as dúvidas também eram muitas. “Podemos entrar? Não?
Então como fazemos?”, questionava um turista. Durante esta
quinta-feira, o centro de acolhimento era o lugar para se formava
agora a fila, visivelmente mais organizada do que as dos dias
anteriores.
Três funcionários
recebiam as pessoas, efectuavam o pagamento das entradas e ofereciam
um guia da Lello. O pequeno folheto está disponível em várias
línguas e apresenta as “singularidades da livraria”: os
pormenores decorativos e arquitectónicos, a história e um mapa do
interior. Os acessos de três euros foram os mais requisitados.
Já no interior da
Livraria Lello, ainda não é possível subir ou descer a escadaria
sem algumas interrupções, contudo o caos é "organizado".
Carla Ribeiro, directora de marketing da Lello, esclarece que a
divisão das filas entre o centro de acolhimento e a livraria promove
a organização no interior. “Este método torna tudo mais calmo,
permite que as pessoas possam usufruir do espaço”.
O PÚBLICO encontrou
Maria Carlota Feliciano, de 79 anos, sentada numa poltrona no piso
superior a ler um livro. Vem de Ansião, está pela primeira vez na
livraria e concorda com a medida. “Pelo que diziam, tinham muitas
pessoas e era muita confusão”, afirma.
Do Brasil para o
Porto, Eduardo Fonseca confessa que ficou “surpreso” quando soube
que teria de pagar para entrar na Lello. Porém, admite que se “as
pessoas entrarem só para tirar fotografias, devem pagar”.
Joaquim Fidalgo foi
um dos clientes habituais que recebeu o cartão “Amigo Lello”
gratuitamente. A nova medida é o chamado “pau de dois bicos”.
“Faz algum sentido, porque a livraria arrisca-se a que os clientes
não consigam entrar, com tantas pessoas; por outro lado, tenho pena
porque não quero pensar na Lello como um monumento”, afirma o
cliente.
José Manuel Lello,
um dos proprietários da livraria, registou apenas o episódio de uma
pessoa que se mostrou desagradada com o sistema. No geral, o balanço
foi positivo: a “afluência parece ser a de um dia normal” e “as
pessoas mostraram-se contentes por saber que podiam trocar o crédito
por livros”. O proprietário realça que o número de compradores
aumentou, embora ainda não tenha números para divulgar.
Até à meia-noite,
há representação, ballet e música. E as palavras de Eça de
Queirós e Florbela Espanca ressoaram entre as paredes de uma das
mais belas livrarias do mundo.
Texto editado por
Ana Fernandes
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