Extinção
da EPUL “foi um bom negócio” para a câmara, diz liquidatária
da empresa
Conclusão
dos prédios do Martim Moniz e reestruturação da dívida da empresa
são alguns dos pontos positivos apontados
Inês Boaventura /
7-7-2015 / PÚBLICO
Margarida Saavedra,
que integrou a comissão liquidatária da Empresa Pública de
Urbanização de Lisboa (EPUL), considera que “só o tempo dirá se
foi uma boa ou má decisão política” extinguir a empresa, mas
manifesta, desde já, uma certeza: este “foi um bom negócio”
para a Câmara de Lisboa, que, com a liquidação, “não perdeu
dinheiro, ganhou”.
O Relatório de
Liquidação da EPUL, que fechou a 31 de Dezembro de 2014, no dia em
que a empresa assinalava o seu 43.º aniversário, deverá ser hoje
discutido na Assembleia Municipal de Lisboa. Na semana passada, o
documento foi aprovado em reunião camarária com os votos favoráveis
da maioria, a abstenção do CDS e os votos contra do PSD e PCP.
Em entrevista ao
PÚBLICO, a social-democrata Margarida Saavedra, que era um dos
quatro liquidatários da empresa, faz “um balanço positivo” do
processo que agora chega ao fim no que diz respeito aos resultados
alcançados, embora não deixe de sublinhar as dificuldades que o
mesmo ofereceu. “Foram dos piores anos da minha vida profissional”,
diz a arquitecta, que nota que “não foi fácil” a “relação
da EPUL com a câmara”. Isto porque, explica, o município assumiu
neste processo diferentes papéis, alguns dos quais “incompatíveis
e contraditórios”, como os de “accionista único, cliente,
credor e devedor”. Em relação ao último, acusa a câmara de ter,
ao longo do tempo, “ignorado ou tentado escamotear a sua situação
de devedora”.
A arquitecta vê
como “positivo” o trabalho feito pela comissão liquidatária em
aspectos como a protecção dos interesses dos trabalhadores da
empresa e o facto de a comissão “ter conseguido reestruturar todas
as dívidas” da EPUL, da qual transitou para a câmara uma dívida
de 48,6 milhões de euros ao Santander.
A principal crítica
de Margarida Sa-avedra tem a ver com a forma como foi feita a
valorização dos terrenos de que a empresa era proprietária. A esse
respeito, manifesta discordância com o facto de esse património ter
sido transmitido para a câmara “com os valores contabilísticos,
com os valores que a EPUL pagou à data da aquisição”, não se
considerando o seu valor comercial. “A diferença entre a avaliação
e o valor contabilístico é de 148 milhões de euros”, sublinha a
também deputada do PSD na assembleia municipal, acusando a câmara
de “utilizar subterfúgios contabilísticos para subvalorizar” os
activos que recebeu. “Não sei por que é que a câmara insiste em
dizer uma coisa que os números contrariam, diz, manifestando
estranheza para com o facto de se “mascarar um bom negócio,
dizendo que foi mau”.
Margarida Saavedra
dá ainda conta do “orgulho” que sente por a comissão
liquidatária ter conseguido fazer “num tempo recorde” aquilo que
“ninguém conseguiu fazer em 13 anos”: concluir o empreendimento
da EPUL no Martim Moniz. Também positivo é o balanço feito pela
arquitecta do cumprimento do plano de liquidação que tinha sido
traçado. “Não conheço nenhum caso de uma entidade que tenha
cumprido um plano de liquidação tão à risca. Foi uma boa
prática”, nota.
Quanto àquele que
foi o trabalho da empresa ao longo de quatro décadas, Margarida
Saavedra sublinha o papel que esta teve na “construção maciça”
de casas para jovens e para pessoas que, de outra forma, não teriam
recursos para se fixar em Lisboa. Lembrando que a EPUL promovia esses
processos “desde o início até à chave na mão”, a arquitecta
frisa que “na câmara, não há nenhum serviço que consiga fazer
isso”. “Esta câmara, até agora, reabilitou 85 fogos. É
completamente ridículo, não fixa ninguém”, remata.
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