Câmara
vai aplicar coima à Estamo por demolição ilegal de edifício
A
empresa pública demoliu um edifício no interior do complexo do
antigo Hospital Miguel Bombarda sem a necessária autorização do
município e da Direcção-Geral do Património Cultural
Inês Boaventura
/24-7-2015 / PÚBLICO
A Câmara de Lisboa
decidiu instaurar um processo de contra-ordenação à empresa
pública Estamo por ter demolido um edifício no recinto do antigo
Hospital Miguel Bombarda sem a necessária licença. A demolição
também não foi autorizada pela Direcção-Geral do Património
Cultural, apesar de o imóvel em causa se encontrar na zona de
protecção de um conjunto de interesse público.
O caso foi
denunciado a 7 de Julho pela Associação Portuguesa de Arte Outsider
e por quatro organizações científicas e religiosas, que divulgaram
a informação de que nesse mesmo dia tinha sido ali demolida uma
garagem “com traça do arquitecto Carlos Ramos, da década de
1950”.
Ontem, em reunião
pública da Câmara de Lisboa, o vereador Carlos Moura abordou o
assunto, perguntando o que tinha o executivo a dizer sobre o facto de
haver “um proprietário que avança ilegalmente com demolições”,
sem as necessárias autorizações do município e da DGPC. Algo que,
sublinhou o autarca do PCP — referindo-se ao debate que foi feito
em torno do futuro da Colina de Santana e à decisão tomada de se
avançar com um Programa de Acção Territorial para o local —,
aconteceu “em desrespeito de tudo o que foi anteriormente
decidido”.
Em resposta, o
vereador do Urbanismo informou que, na sequência do alerta que lhe
tinha chegado, tinha sido feito uma vistoria, no dia 15, que
confirmava a realização de uma demolição “sem licença”. “Não
entrou processo nenhum no município nem na DGPC”, explicitou
Salgado, acrescentando que “será aplicada uma coima pela
infracção” e que “está em curso o procedimento
contra-ordenacional”, depois de uma decisão nesse sentido ter
sido, anteontem, objecto de um despacho seu. Manuel Salgado fez
distribuir aos vereadores da oposição uma informação escrita
sobre a vistoria realizada por técnicos camarários, mas recusou
fornecê-la ao PÚBLICO.
Nesse documento,
técnicos da Divisão de Uniformização e Fiscalização Urbanística
confirmam que “foi integralmente demolido” um edifício, com
cerca de 12 metros de largura e 19 de comprimento, sendo que à data
da vistoria “parte dos materiais sobrantes” ainda se encontravam
no local. Entre eles, descrevem, estão “serralharias de ferro dos
portões com puxadores em círculo” (cuja existência tinha sido
referida pela Associação Portuguesa de Arte Outsider na sua
denúncia), que “apesar de apresentarem alguns danos resultantes da
sua desmontagem” pareciam estar “em condições de serem
recuperados e reaproveitados”.
Na informação
técnica diz-se ainda que “a construção demolida deixou em
aberto, na fronteira com os edifícios vizinhos, um desnível de
alguns metros de altura”, “constituindo um local com risco de
queda elevado”. Face a isso, o chefe de divisão propôs a abertura
de um procedimento de contra-ordenação, “por realização de
obras de demolição sujeitas a prévio licenciamento sem o
respectivo alvará”, bem como “a notificação do proprietário
para que sejam tomadas as devidas medidas de salvaguarda dos portões
de ferro” e para que “sejam introduzidas no local medidas de
segurança na fronteira com os edifícios vizinhos”.
Em respostas
enviadas ao PÚBLICO, a Estamo, a empresa de capitais públicos
tutelada pelo Ministério das Finanças que é proprietária do
antigo Hospital Miguel Bombarda e que ali pretende construir um
empreendimento imobiliário, justificou a demolição com “o facto
de o imóvel estar em estado de ruína eminente e em perigo de
colapso, representando um enorme risco para os moradores do edifício
contíguo”. “Estruturalmente tratava-se de uma ruína em risco de
colapso e de construção recente, como o demonstravam as paredes de
alvenaria de tijolo furado e as chapas de fibrocimento da cobertura”,
acrescentou a empresa.
Também a presidente
da Assembleia Municipal de Lisboa, Helena Roseta, questionou a Estamo
sobre o assunto. Em resposta, o presidente da empresa disse que a
demolição “tinha de ser imediata, face ao perigo que representava
para as pessoas e bens”, mas reconheceu que este não foi um
processo exemplar: “Deveríamos ter notificado posteriormente quer
a câmara quer a DGPC do que se estava a passar, uma vez que o
barracão distava menos de 50 metros do Pavilhão de Segurança.”
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