Seguristas
descontentes põem pressão em Costa. “É a prova dos nove”
RITA DINIS /
21/7/2015, OBSERVADOR
Seguristas chegam ao
Largo do Rato em polvorosa. António Galamba fala em "prova dos
9" sobre a unidade do partido, Álvaro Beleza admite que pode
não aceitar lugar. "Até ao lavar dos cestos é vindima".
Os ânimos aquecem e
a reunião da Comissão Política do PS que vai fechar as listas dos
candidatos a deputados ainda nem começou. À chegada ao Largo do
Rato, os chamados seguristas deixaram claro ao que vêm: “É o dia
da prova dos nove sobre a unidade do partido”, começou por dizer
António Galamba, ex-membro do Secretariado Nacional de António José
Seguro. Álvaro Beleza, por outro lado, que tem o seu lugar garantido
como elegível na lista de Lisboa, admitiu aos jornalistas que pode
até não aceitar o lugar.
Tudo parece depender
do peso que, no final da reunião, e feitas as contas, os seguristas
vão ter nas listas do partido para as legislativas.
Falando aos
jornalistas à entrada da reunião, António Galamba apressou-se a
deixar um recado enfurecido ao secretário-geral que, em setembro,
destronou António José Seguro sob o lema de ser a pessoa certa para
assegurar a unidade do PS: “A direção nacional tem estado a lutar
pela sua verdade sobre a unidade do partido – uma verdade que não
corresponde à realidade dos factos”. A verdade é que, como
sublinhou Galamba, entre os 19 cabeças de lista confirmados por
Costa, só um (Pedro do Carmo, Beja) pertence à ala segurista.
O critério
aritmético que tem sido usado pela direção socialista é a bitola
de 2011 – “onde as listas foram elaboradas por José Sócrates”
– e não o critério de que António José Seguro “teve 30,6% de
votos nas primárias”, alertou o ex-dirigente socialista. Um
critério errado, segundo o ex-secretário nacional de Seguro, mas
que faz a direção nacional socialista afirmar que as listas agora
em ponderação terão, no total, mais nomes ligados a Seguro do que
as listas de 2011.“Esse critério é quase o mesmo que o termo de
comparação usado pelo primeiro-ministro Passos Coelho para falar do
desemprego, é errado”, atirou ainda António Galamba.
As palavras-chave
são união e mobilização. Para Galamba, que até ver não consta
de nenhuma das 19 listas do PS para as legislativas, ainda nada está
perdido – “até ao lavar dos cestos é vindima”, disse – mas
uma coisa é certa, a reunião desta noite promete ser quente. “É
o dia da prova dos nove” para saber se Costa consegue ou não a
unidade do partido.
Álvaro Beleza ainda
pode recusar lugar
Também Miguel
Laranjeiro, ex-secretário nacional do PS para a Organização,
também excluído à partida das novas listas, quis falar em
“unidade” e em “mobilização”. “A reunião ainda agora vai
começar, por isso vamos ver se António Costa consegue unir o
partido”, disse, visivelmente mais calmo do que António Galamba, e
acrescentando que “não” tinha recebido qualquer sinal da parte
do líder do partido de que iria entrar nas listas. Depois de as
federações distritais preencherem dois terços das listas, o
secretário-geral ainda tem uma quota de um terço para ocupar nas
listas.
Na mesma linha mas
mais incisivo foi Álvaro Beleza, braço direito de Seguro, que
esteve nas negociações das listas com a direção do PS, que deixou
claro aos jornalistas que, apesar de ter um lugar assegurado no 11º
posto da federação de Lisboa, ainda não é certo de que aceite o
lugar. Tudo parece depender do desfecho da reunião desta noite, que
é como quem diz, do peso que os seguristas terão no cenário
global. “Houve coisas que correram bem e outras menos bem, mas
ainda vamos a tempo de corrigir essas coisas”, disse.
“O partido tem de
ser inclusivo, plural e independente das sensibilidades”,
continuou, rejeitando a ideia de que o PS seja um partido de “fações”
e que, por isso, tenha de “respeitar as pessoas pelo mérito e por
tudo aquilo que deram até aqui ao partido”. O objetivo, diz, é
“unir e somar”, não dividir.
Costa
não conseguiu evitar guerras do aparelho nas listas às legislativas
Líder
do PS teve de repescar os excluídos pelas distritais. Tentativa de
renovação ensombrada pelas lutas por lugares nas listas feitas pelo
aparelho
O
deputado Rui Duarte comunicou pessoalmente a Costa que desistia de
ser candidato na tentativa de salvar a lista de Coimbra
António
Costa viveu ontem à noite o final da sua primeira prova de fogo como
líder do PS, no que diz respeito à elaboração e à aprovação de
listas eleitorais.
Margarida Gomes e
São José Almeida / 22-7-2015 / PÚBLICO
António Costa
terminou ontem o difícil jogo de equilíbrio para acabar as listas
de candidatos a deputados
A Comissão Política
Nacional (CPN) sufragou os nomes dos candidatos numa reunião que se
anunciava como complexa e difícil, já que o processo de selecção
de candidatos foi nalguns casos polémico, com particular destaque
para Coimbra e para o Porto, onde a situação foi de ruptura.
O resultado final
salda-se por umas listas onde a renovação de nomes é considerável,
sendo que é de salientar o peso de gente mais nova em idade.
Destaca-se que o facto de Costa ter tido de repescar nomes como o de
João Soares, Jorge Lacão e Alberto Costa, ou de deputadas como Inês
de Medeiros, que não foram escolhidos por nenhuma distrital.
Nas guerras por
lugares, o clima aqueceu em relação à representação dos
apoiantes do anterior secretário-geral, António José Seguro, mas
ontem à noite tudo indicava que a representação seria igual à
actual, ficando contudo de fora das listas figuras como Miguel
Laranjeiro, António Braga, Mota Andrade, José Junqueiro, Miguel
Freitas, Luís Pita Ameixa, Jorge Fão. A anterior presidente, Maria
de Belém Roseira, saiu por vontade própria.
Uma das notícias
destas listas prende-se com os cabeças de lista, onde apenas dois
nomes repetem o estatuto: Paulo Pisco no mesmo círculo, o da Europa,
e Vieira da Silva, que se estreia em Santarém. Estreantes são
também alguns cabeças de lista independentes: o investigador
Alexandre Quintanilha no Porto, a vice-reitora Helena Freitas em
Coimbra, a jurista Maria Manuel Leitão Marques em Viseu, o
economista Manuel Caldeira Cabral em Braga, o investigador Tiago
Brandão de Brito em Viana do Castelo.
Estreantes à frente
de listas são também os militantes: Margarida Marques, antiga
secretária-geral da JS, em Leiria, José Apolinário, também antigo
líder da JS, em Faro, Ascenso Simões, director de campanha, em Vila
Real, e em Évora, Capoulas Santos, ex-ministro da Agricultura com
Guterres e ex-eurodeputado.
Os casos
problemáticos
Um dos casos mais
problemáticos foi a lista de Coimbra. Porém, ao fim da tarde, o
deputado Rui Duarte, número três na lista, manifestava a sua
indisponibilidade para ser candidato, numa derradeira tentativa de
salvar a lista. A decisão foi por ele comunicada pessoalmente a
Costa. Em Coimbra, em representação de Costa, entrou João Galamba
do Secretariado.
“Esta decisão,
que é pessoal e ponderada, prende-se com o facto de entender que não
devo integrar uma lista que não merece o acordo do secretário-
geral, ao mesmo tempo que não poderia nunca permitir, por força das
responsabilidades que exerço no partido em Coimbra, que a lista
(...) estivesse exposta ou vulnerável a qualquer polémica, ainda
que reconheça que o ruído é próprio da época, motivado por
conveniências, vaidades e conflitos internos e definitivamente
temporário.” A esta decisão não será alheia ao facto de a
comarca de Coimbra ter enviado à Assembleia da República um pedido
de levantamento de imunidade parlamentar do deputado Rui Duarte, que
o Ministério Público quer constituir arguido e ouvi-lo nessa
qualidade pelo “crime continuado de falsificação de documentos”,
relacionado com a inscrição fraudulenta de militantes no partido.
Santarém, cuja
distrital é liderada pelo deputado António Gameiro, que fez
campanha pelo ex-líder socialista, António José Seguro, estava
também na mira da CPN. Em Santarém surge em quinto o primeiro
apoiante de Costa, o seu chefe de gabinete João Sequeira. Eram
esperadas alterações à lista de Viana do Castelo por entender que
não reflectia a representatividade alcançada nas primárias a
seguir a Tiago Brandão Rodrigues, nas três primeiras posições
estavam ex-apoiantes de António José Seguro. Existia a expectativa
de que a número três, Dora Brandão, fosse substituída pela
deputada Sandra Pontedeira.
Previa-se que o caso
do Porto, cuja lista foi chumbada, fosse discutido à parte, numa
reunião com Costa, o líder da distrital, José Luís Carneiro, e
Manuel Pizarro, que tem uma quota na lista, no âmbito de um acordo
feito com o presidente da federação do Porto. O objectivo era
fechar a lista para que o secretário-geral do PS a pudesse levar à
votação na CPN.
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