Vara
detido no caso Sócrates por suspeita de corrupção e fraude fiscal
Caixa
Geral de Depósitos terá financiado negócio de empreendimento
turístico, que Ministério Público acredita ter sido favorecido por
Sócrates, quando Armando Vara era administrador da CGD
Pedro Sales Dias /
10-7-2015 / PÚBLICO
Armando Vara foi
ontem detido para interrogatório no âmbito da investigação ao
ex-primeiro-ministro José Sócrates, conhecida como Operação
Marquês. A detenção ocorreu no contexto de buscas à residência
do ex-ministro socialista, sendo que o Departamento Central de
Investigação e Acção Penal liderou buscas em todo o país.
A Procuradoria-Geral
da República (PGR) confirmou entretanto que Vara foi detido na
sequência de um “mandado de detenção fora de flagrante delito
para sujeição a interrogatório judicial” e que os indícios
apontam para crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de
capitais.
O ex-ministro
socialista está detido nas celas do Comando Metropolitano da PSP de
Lisboa, onde chegou antes da hora do jantar. Será hoje inquirido
pelo juiz Carlos Alexandre no Tribunal Central de Instrução
Criminal, em Lisboa, para a aplicação das medidas de coacção a
que ficará sujeito durante o desenvolvimento do inquérito.
De acordo com a PGR,
ontem “foram também realizadas buscas domiciliárias, em
instalações de sociedades e numa instituição bancária”, nas
quais estiveram ainda presentes inspectores da Autoridade Tributária
e agentes da PSP.
Em causa estará o
empreendido turístico de Vale do Lobo, no Algarve e a suspeita de
que, através do Plano Regional de Ordenamento do Território Algarve
(PROTAL), José Sócrates terá favorecido então aquele complexo
turístico, com uma decisão do Conselho de Ministros que encabeçou
como chefe do Governo. O empreendimento turístico é propriedade de
um conjunto de investidores portugueses e estrangeiros que o
adquiriram em 2006. A Caixa Geral de Depósitos terá então
financiado o negócio numa altura em que Armando Vara era
administrador daquela instituição bancária.
O maior banco
português, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) detém também 24% do
capital da sociedade. A CGD está presente na estrutura accionista da
Vale do Lobo — Resort Turístico de Luxo, S.A. através da
Wolfpart, SGPS criada pelo banco em 2006. Em 2012, esta empresa
apresentou resultados líquidos negativos superiores a 64 milhões de
euros. O resort foi fundado em 1962 pelas multinacionais Trusthouse
Forte e Costain plc que o venderam ao empresário holandês, a Sander
van Gelder. Já no final de 2006, o resort foi vendido aos actuais
proprietários.
No início do mês
passado, o Ministério Público fez buscas naquele complexo tendo
estado presentes o procurador titular do processo Rosário Teixeira,
o juiz Carlos Alexandre, inspectores da Autoridade Tributária e
agentes da PSP. A administração daquele empreendimento confirmou
que as autoridades procuraram documentação e provas relacionadas
com antigos fornecedores do empreendimento. Terá também sido
recolhido material informático. “Toda a colaboração foi
prestada”, insistiu então fonte da administração.
Em termos políticos,
Armando Vara começou como deputado nos anos 80, teve uma passagem
pela vereação da Câmara da Amadora, e chegou ao Governo pela mão
de António Guterres, em 1995, como secretário de Estado da
Administração Interna (dos ministros Alberto Costa e Jorge Coelho).
No segundo mandato de Guterres subiu a ministro-adjunto do
primeiro-ministro e depois passou a ministro da Juventude e do
Desporto. Esteve neste cargo apenas três meses, forçado a sair
depois da polémica com a Fundação para a Prevenção e Segurança,
que fundou e trabalhava para o Estado.
Jsoé Sócrates está
preso desde Novembro do ano passado. Indiciado por crimes de fraude
fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção, é
actualmente o único arguido neste processo que continua em prisão
preventiva.
Os restantes seis
arguidos no processo estão com medidas de coacção mais leves.
Entre eles, estão o ex-motorista de Sócrates João Perna, o
empresário e amigo de Sócrates, Carlos Santos Silva, o
administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca Rodrigues, o advogado
Gonçalo Ferreira, o administrador da Octapharma Paulo Lalanda Castro
e a mulher de Carlos Santos Silva, Inês Pontes do Rosário. António
Morais, ex-professor de Sócrates, também foi constituído arguido,
mas no âmbito de um inquérito autónomo.
Sem comentários:
Enviar um comentário