Museu Judaico, em Lisboa, "tem
sido discutido intensamente"
Vereadores do PCP pediram mais diálogo com os moradores de
Alfama e câmara diz que há disponibilidade para fazer "ajustamentos ao
projecto".
JOÃO PEDRO PINCHA 31 de Maio de 2017, 20:55
Nos últimos meses, parte da população e associações locais
têm-se queixado de que o projecto do museu não se coaduna com o largo para onde
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Nos últimos meses, parte da população e associações locais
têm-se queixado de que o projecto do museu não se coaduna com o largo para onde
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A criação do Museu Judaico no Largo de São Miguel, em
Alfama, “tem sido um processo de enorme participação”, disse esta quarta-feira
o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Nos últimos meses, parte da
população e associações locais têm-se queixado de que o projecto do museu não
foi discutido publicamente e que o mesmo não se coaduna com o largo para onde
está previsto.
O tema foi levado à reunião pública da autarquia e chegou
mesmo a gerar alguma tensão entre os eleitos. O comunista Carlos Moura falou do
assunto logo no início da sessão. “Não enjeitamos o facto de termos aprovado a
existência deste museu”, disse, referindo-se ao facto de o projecto ter
merecido votação unânime na câmara. Mas, acrescentou, “nós cuidávamos que se
tivesse tido em conta a participação dos habitantes”.
Foi o vice-presidente Duarte Cordeiro que respondeu, pois
Fernando Medina está no estrangeiro. “Temos tido a sensibilidade de ouvir as
pessoas”, disse, acrescentando que “não se pode confundir a falta de
participação com discordâncias” relativas ao projecto. “Tem sido um processo de
enorme participação. Não sei se haverá consenso, mas nem sempre é possível
haver consenso.”
O vereador do Urbanismo interveio de seguida. “Não sei se os
presentes tinham noção de que, no tempo do fascismo, as sinagogas tinham de
estar escondidas, não podiam ter fachada para a rua”, disse Manuel Salgado, que
considera “normal” que o projecto do museu inclua uma estrela de David numa das
fachadas. O foco neste ponto deixou Carlos Moura indignado. “Não temos nada
contra o museu nem contra estarem lá os símbolos do judaísmo. Se não ouvirmos a
população e nos comportarmos sobranceiramente às suas preocupações, podemos
estar a gerar problemas bastante graves para o futuro.”
Na resposta, Duarte Cordeiro acusou o vereador comunista de
aparecer “pela porta do cavalo para apresentar um lamento por uma posição que
teve”. “Falta de discussão com a população? Tem sido discutido intensamente.
Isto tem sido muito discutido”, disse ainda o vice-presidente, lembrando uma
reunião promovida pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior a 6 de Abril.
Cordeiro afirmou que Carlos Moura estava a tentar “boicotar uma decisão tomada
por unanimidade”.
Foi o também comunista João Bernardino que se indignou desta
vez. “Foi uma intervenção muito infeliz. O senhor respondeu de uma forma inaceitável”,
disse. Duarte Cordeiro insistiu. “Esta é uma matéria incómoda para o PCP. O PCP
quer revisitar a posição que assumiu”, afirmou.
Para acicatar ainda mais os ânimos, o vereador das Finanças
tomou a palavra. “Não estou disponível para que as questões que possam estar em
causa cheguem a questões religiosas”, afirmou João Paulo Saraiva, salientando
que o PCP não tinha posto a tónica nesse ponto. Mas Carlos Moura não gostou da
insinuação e gerou-se uma acesa troca de palavras fora dos microfones. “As
palavras do sr. vereador não são admissíveis!”, disse o comunista. “Mas tu és
surdo? Queres ouvir a gravação?”, gritou Saraiva. “Esta discussão nem sequer
tocou tangencialmente [na questão religiosa]”, disse Moura.
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