Moradores da Mouraria pedem ajuda da
Assembleia Municipal de Lisboa em acção de despejo
O prédio foi vendido e os moradores
receberam ordens de saída do local.
LUSA 6 de Junho de 2017, 22:24
Cerca de 20 moradores da Rua dos Lagares, na Mouraria,
deslocaram-se esta terça-feira à Assembleia Municipal de Lisboa para pedir a
intervenção dos deputados municipais devido a um possível despejo de que 40
pessoas poderão ser alvo.
Em causa estão 16 famílias que habitam no mesmo prédio
daquela freguesia de Arroios e que poderão ser despejadas uma vez que o prédio
foi vendido e os moradores receberam cartas com ordem de saída, "devido ao
fim do contrato de arrendamento". Segundo os mesmos, têm de sair "até
ao final do ano".
Carla Pinheiro, moradora na Mouraria há mais de 40 anos,
interveio em representação dos restantes moradores e explicou que "o
prédio foi vendido, mas antes da escritura, os novos proprietários mandaram
cartas intimidatórias". Actualmente, os moradores pagam "rendas entre
os 250 e os 400 euros", apontando não conseguir suportar valores mais altos.
"Ninguém quer saber de nós porque tudo é negócio",
afirmou, vincando: "Só temos uma solução, ir viver na rua, pois não
podemos suportar as rendas que hoje se praticam".
Para as famílias, que incluem idosos e crianças, "morar
fora de Lisboa não é exequível", uma vez que "a maior parte das
pessoas trabalham ao pé do bairro e não têm dinheiro para dois ou três
passes", referiu Carla Pinheiro, em declarações à agência Lusa. "Nós
nascemos e vivemos sempre na Mouraria, somos a luz do bairro", elencou.
Por isso, pediu aos deputados municipais que "ajudem a
arranjar uma solução", defendendo que "se a Câmara de Lisboa tem
casas, tem soluções, e deviam ser para casos como este".
Outra das moradoras que interveio na sessão plenária foi
Alessandra Esposito, que foi taxativa: "se não forem tomadas medidas,
teremos um bairro fantasma, onde a miséria será a única atracção".
"Todos nós temos direito a um tecto e queremos contribuir para o futuro do
nosso bairro", apontou.
Na reunião desta terça-feira da Assembleia Municipal de
Lisboa (AML), a vereadora da Habitação da Câmara de Lisboa não esteve presente.
Quem respondeu a estes moradores foi a presidente da AML, Helena Roseta, que
lembrou que "já foi mudada a lei das rendas, mas ainda não foi promulgada
pelo Presidente da República".
"Vamos ver qual é a melhor ajuda que vos podemos
dar", observou a presidente, acrescentando que iria "transmitir à
câmara as preocupações" e "esperar para ver que resposta é que será
possível dar".
No final de Fevereiro, o vereador do Urbanismo informou que
o município iria fazer uma vistoria e intimar os donos deste prédio degradado
com 16 fogos, para os obrigar a fazer obras de reabilitação.
Desde aí, "a vistoria foi feita" pelos técnicos
municipais, e apenas foi atribuída a classificação de "mau estado de
conservação" a uma das fracções, enquanto as restantes foram classificadas
com o nível médio, explicou Manuel Salgado. Carla Pinheiro disse à Lusa que o
prédio já sofreu obras, "mas para inglês ver".
Estes moradores já estiveram por duas vezes em reuniões
públicas do executivo municipal e também já pediram ajuda ao primeiro-ministro,
António Costa, mas dada a falta de respostas admitem "lutar até ao
fim".
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