Moradores pedem “revisão completa” da
circulação automóvel nas Avenidas Novas
POR O CORVO • 16 JUNHO, 2017 •
Uma enorme confusão. É desta forma que a Associação de
Moradores das Avenidas Novas caracteriza o actual estado do esquema de
circulação automóvel naquela zona da cidade. “Circular de carro, neste momento,
nesta área central, é um verdadeiro inferno. Temos filas que começam frente à
Casa da Moeda e vão até à Avenida de Roma. Há também filas dentro do túnel da
Avenida João XXI, ao meio-dia, coisa que não existia antes. Tudo isto resulta
das intervenções que têm andado a ser feitas pela Câmara Municipal de Lisboa
sem ouvir as pessoas que aqui vivem e trabalham”, acusa José Toga Soares,
presidente da associação, apelando à autarquia liderada por Fernando Medina
(PS) para que “páre de fazer obras à revelia das pessoas que mais directamente
são afectadas”. “Temos uma situação em que, de cada vez que a câmara mexe,
estraga”, acusa.
“Todo o esquema de mobilidade das Avenidas Novas tem que ser
discutido”, afirma a O Corvo o dirigente associativo, replicando um dos pontos
da petição por si dinamizada e que obrigará aos responsáveis camarários da
mobilidade e ambiente a irem, em breve, dar explicações à comissão permanente
de mobilidade e segurança da Assembleia Municipal de Lisboa (AML). José Toga
Soares foi ouvido pelos deputados municipais, a 7 de junho, dos quais garante
ter recebido compreensão em relação às queixas apresentadas. E se é verdade que
estas dizem respeito ao conjunto dos problemas de mobilidade na área, o
objectivo principal da recolha de assinaturas promovida pela associação de
moradores é o de pedir à CML “que suspenda de imediato a introdução de uma via
ciclável em sentido contrário ao do trânsito na Avenida Visconde de Valmor, por
motivos de segurança”.
Acusando a autarquia
de insensibilidade por avançar com tal projecto sem auscultar os moradores, o
texto da petição manifesta perplexidade pela construção de uma via ciclável “em
contramão” e culpabiliza a câmara por se colocar “ao lado de interesses
minoritários, sacrificando os interesses da maioria dos moradores”. O documento
salienta ainda o facto de, alegadamente, a partir do final de junho, estar
previsto o regresso da circulação em sentido único Sul-Norte na Rua Dona Filipa
de Vilhena, obrigando os automóveis a ir para a Visconde de Valmor. Por isso,
pedem à CML que estude o impacto da decisão de aí ter uma ciclovia, em
contra-corrente com um grande caudal de tráfego viário. “Todas as forças
políticas mostraram compreensão pelas questões colocadas por nós”, assegura
José Soares, dando conta da sua audição na AML.
O responsável
associativo afirma que a criação da ciclovia, nestes moldes, e as consequentes
alterações no esquema de circulação e de estacionamento na Avenida Visconde de
Valmor – por si vistas como mais um sinal da alegada falta de planeamento do
sistema de mobilidade nas Avenidas Novas – têm causado um “estrangulamento
viário”. A supressão de uma faixa de rodagem automóvel para isso terá
contribuído. Além disso, acusa, as mudanças no parqueamento “põem em perigo a
segurança, uma vez que as pessoas saem dos carros directamente para cima da
ciclovia”. Os problemas de escoamento de tráfego, sobretudo nas horas de ponta,
serão agravados, sustenta, pelo facto de que, “com os pilaretes que agora ali
foram colocados, e ainda a pequena dimensão dos lugares de estacionamento, os
carros são obrigados a ficar em cima da faixa de rodagem”. Tal poderá ter
consequências graves quando os estrangulamentos impedirem a circulação de
viaturas em marcha de emergência, diz.
Por tudo isso, e em simultâneo com o caminho encetado pela
petição que está a ser discutida na assembleia municipal, a Associação de
Moradores das Avenidas Novas entregou uma proposta, no âmbito do Orçamento
Participativo 2017-18, de reversão e correcção de vários aspectos do esquema de
circulação na Avenida Visconde Valmor. A proposta, com o número 190 do OP, pede
a reposição das duas faixas de rodagem no arruamento e a implantação da
ciclovia no passeio sul. E garante que tal é possível desviando as caldeiras
das árvores do lado sul e do lado norte da rua. De tal modo que apresenta
medições: “os passeios sul e norte ficarão com 3,60 metros de passagem; a
ciclovia manterá 1,90 metros de largura; os estacionamentos ficarão ambos com
2,00 metros de largura”. E até sugere a reabilitação dos passeios,
“notoriamente degradados e a precisar de uma séria intervenção”.
José Soares diz que os problemas agora criados – que sugere
serem decorrentes de diversas recentes intervenções feitas nas Avenidas Novas
em paralelo com a grande obra de requalificação do Eixo Central de Lisboa, nas
avenidas da República e Fontes Pereira de Melo – teriam sido evitados “se a
Câmara de Lisboa tivesse ouvido as pessoas que vivem e trabalham aqui”. “Não há
dúvida que as obras do Eixo Central ficaram muito boas para os peões e para os
ciclistas, mas vieram criar uma nova ordem de problemas para quem quer circular
de automóvel. É preciso primeiro fazer uma avaliação do impacto das obras na
vida das pessoas e só depois avançar. Esta intervenções são caras. Fazer e
depois desfazer, como está agora a acontecer na Dona Filipa de Vilhena, custa
ainda mais”, diz.
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