O Pinhal Interior Norte onde se situa
Pedrógão já é metade eucaliptal
O que aconteceu em Pedrógão podia ter
acontecido em “três quartos do país”, alerta presidente do Fórum Florestal.
Natália Faria
NATÁLIA FARIA 18 de Junho de 2017, 19:11
Praticamente localizado no centro geográfico de Portugal,
Pedrógão Grande insere-se no agrupamento de concelhos do Pinhal Interior Norte.
Actualmente, porém, o pinheiro que dá nome à região circunscreve-se a não mais
que metade do território: o restante foi colonizado pelo eucalipto, “sobretudo
desde que, na década de 80, o pinheiro bravo foi progressivamente destruído
pelos sucessivos incêndios”, como recorda António Louro, presidente do Fórum Florestal,
a maior federação de produtores florestais do país.
A mistura entre as duas espécies é “um desastre em termos de
paisagem”, como lembra António Louro, para explicar que “o pinheiro bravo dá
severidade ao incêndio, ainda mais em zonas como aquelas de povoamentos jovens,
enquanto o eucalipto ajuda a projectar o incêndio tornando-o muito mais difícil
de controlar”. Mas isto que se diz de Pedrógão Grande podia dizer-se de “três
quartos do país, do Minho até ao Alto Alentejo, que têm condições de coberto
vegetal muito semelhantes”.
No caso de Pedrógão Grande – e dos concelhos que com ele
fazem fronteira, de Castanheira de Pêra a Góis, passando por Sertã e Figueiró
dos Vinhos – o cenário agrava-se à boleia do progressivo despovoamento das
aldeias que se repartem pelas três freguesias do concelho. “Até à década de 80
havia muita gente a explorar pequenas parcelas agrícolas, bastante gado e logo
um certo controlo da paisagem. À medida que as pessoas foram saindo,
desapareceu o gado e a floresta acabou por cobrir tudo, de forma artificial ou
natural, porque basta não fazer nada no terreno para que ele se encha de
floresta”, lembra ainda António Louro.
Os últimos censos mostram que a população de Pedrógão Grande
tem vindo a diminuir de forma muito acelerada: entre 1991 e 2011, perdeu 14,9%
dos seus habitantes que estão agora reduzidos a menos de quatro mil para um
total de 129 quilómetros quadrados. “Há, nesta região, concelhos em que mais de
75% da terra pertence a pessoas que não moram no seu território e que,
portanto, não conseguem fazer uma gestão directa das suas propriedades”,
caracteriza António Louro, dizendo-se esperançoso que este incêndio possa
“obrigar o país ser mais severo na intervenção e na fiscalização junto dos
proprietários”.
A lição que se deve retirar deste incêndio de Pedrogão
aplica-se assim ao resto do território nacional, segundo o presidente do Fórum
Florestal: “O problema dos incêndios não se resolve com o reforço do
dispositivo de combate; é um problema de ordenamento do território e, portanto,
previne-se controlando a paisagem e controlando os combustíveis.”
August 11, 2016 ·
Este artigo foi publicado há 10 anos …
Políticos e outros responsáveis ? Ah é verdade, entretanto,
a nova lei liberalizou o eucalipto …
“Os eucaliptos estão a dominar plantação ou replantação de
florestas ao abrigo de uma nova legislação que organizações ambientalistas e
alguns académicos querem ver revogada.”
OVOODOCORVO
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Os incêndios e a desertificação do
Portugal florestal
JORGE PAIVA 23/01/2006 – PÚBLICO
Antes da última glaciação, Portugal estava coberto por uma
floresta sempre-verde (laurisilva). Durante essa glaciação a descida drástica
da temperatura fez desaparecer quase por completo essa laurisilva, tendo sido
substituída por uma cobertura florestal semelhante à actual taiga. Após o
período glaciar, a temperatura voltou a subir, ficando o país com um clima
temperado como o actual. Assim, a floresta glaciar foi substituída por
florestas mistas (fagosilva) de árvores sempre-verdes (algumas delas relíquias
da laurisilva) e outras caducifólias, transformando o país num imenso carvalhal
caducifólio (alvarinho e negral) a norte, marcescente (cerquinho) no centro e
perenifólio (azinheira e sobreiro) para sul, com uma faixa litoral de floresta
dominada pelo pinheiro-manso e os cumes das montanhas mais frias com o
pinheiro-da-casquinha (relíquia glaciárica). Por destruição dessas florestas,
particularmente com a construção das naus (três a quatro mil carvalhos por nau)
durante os Descobrimentos (cerca de duas mil naus num século) e da cobertura do
país com vias férreas (travessas de madeira de negral ou de cerquinho para
assentar os carris), as nossas montanhas passaram a estar predominantemente
cobertas por matos de urzes ou torgas, giestas, tojos e carqueja. A partir do
século XIX, após a criação dos "Serviços Florestais", foram
artificialmente re-arborizadas com pinheiro-bravo, tendo-se criado a maior
mancha contínua de pinhal na Europa. A partir da segunda década do século XX,
apesar dos alertas ambientalistas, efectuaram-se intensas, contínuas e
desordenadas arborizações com eucalipto, tendo-se criado a maior área de
eucaliptal contínuo da Europa. Sendo o pinheiro resinoso e o eucalipto produtor
de óleos essenciais, produtos altamente inflamáveis, com pinhais e eucaliptais
contínuos, os incêndios florestais tornaram-se não só frequentes, como também
incontroláveis. Desta maneira, o nosso país tem já algumas montanhas
transformadas em zonas desérticas.
Sempre fomos contra o crime da eucaliptização desordenada e
contínua. Fomos vilipendiados, maltratados, injuriados, fomos chamados à
Judiciária, etc. Mas sabíamos que tínhamos razão. Infelizmente não vemos nenhum
dos que defenderam sempre essa eucaliptização vir agora assumir as culpas
destes "piroverões" que passámos a ter e que, infelizmente, vamos
continuar a ter. Também sempre fomos contra o delapidar, por sucessivos
Governos, dos Serviços Florestais (quase acabaram com os guardas florestais).
Isso e o êxodo rural (os eucaliptos são cortados de 10 em 10 anos e o povo não
fica 10 anos a olhar para as árvores em crescimento tendo, por isso, sido
"forçado" a abandonar as montanhas e a ficar numa dependência
económica monopolista, que "controla" o preço da madeira a seu belo
prazer) tiveram como resultado a desumanização das nossas montanhas pelo que,
mal um incêndio florestal eclode, não está lá ninguém para acudir de imediato
e, quando se dá por ele, já vai devastador e incontrolável.
Infelizmente vamos continuar a ter "piroverões"
por mais aviões "bombeiros" que comprem ou aluguem. Isto porque,
entre essas medidas, não estão as duas que são fundamentais, as que poderiam
travar esta onda de incêndios devastadores que nos tem assolado nas últimas
décadas. Uma, é a re-humanização das montanhas, que pode ser feita com pessoal
desempregado que, depois de ter frequentado curtos "cursos de
formação" durante o Inverno, iria vigiar as montanhas, percorrendo áreas
adequadas durante a Primavera e Verão. A outra medida fundamental seria, após
os incêndios, arrancar logo a toiça dos eucaliptos e replantar a área com
arborização devidamente ordenada. Isto porque os eucaliptos rebentam de toiça
logo a seguir ao fogo, renovando-se a área eucaliptada em meia dúzia de anos,
sem grande utilidade até porque o diâmetro da ramada de toiça não é rentável
para as celuloses. Mas como tal não se faz, essa mesma área de eucaliptal torna
a arder poucos anos após o primeiro incêndio e assim sucessivamente. Muitas
vezes, essas mesmas áreas são também invadidas por acácias ou mimosas, bastando
para tal que exista um acacial nas proximidades ou nas bermas das rodovias,
pois as sementes das acácias são resistentes aos fogos e o vento ajuda a
dispersá-las por serem muito leves. As acácias, como são heliófitas (plantas
"amigas" do Sol), e não havendo sombra de outras árvores após os
incêndios, crescem depressa aproveitando a luminosidade e ocupando aquele nicho
ecológico antes das outras espécies se desenvolverem.
Mas como vivemos numa sociedade cuja preocupação
predominante é produzir cada vez mais, com maior rapidez e o mais barato
possível, as medidas propostas são economicamente inviáveis por duas razões:
primeiro, porque é preciso pagar aos vigilantes e respectivos formadores;
segundo, porque arrancar a toiça dos eucaliptos é muito dispendioso (custa o
correspondente ao lucro da venda de três cortes, isto é, o lucro de 30 anos). É
bom também elucidar que os eucaliptais só são lucrativos até ao terceiro corte
(30 anos). Depois disso, estão a abandoná-los, o que os torna um autêntico
"rastilho" ou, melhor, um terrível "barril de pólvora",
áreas onde os seus óleos essenciais, por vaporização ao calor, são explosivos
e, quando a madeira do eucalipto começa a arder, provocam a explosão dos
troncos e respectiva ramada, lançando ramos incandescentes a grande distância.
Este "fenómeno" tem sido bem visível nos nossos
"piroverões".
Por outro lado, pelo menos uma destas medidas (arranque da
toiça e re-arborização ordenada) não tem resultados imediatos mas a longo
prazo. Por isso os governantes não estão interessados na aplicação dessas
medidas, pois interessa-lhes mais resultados imediatos (as eleições são de
quatro em quatro anos...) do que de longo prazo.
Assim, sem resultados imediatamente visíveis e com uma
despesa tão elevada, os governos nunca vão adoptar tais medidas. Preferem
gestos por vezes caricatos, como distribuir telemóveis aos pastores, mas que nunca
não acabarão com os "piroverões".
Finalmente, após a referida delapidação técnica e funcional
dos Serviços Florestais (antigamente, os incêndios florestais eram quase sempre
apagados logo no início e apenas pelo pessoal e tecnologia dos Serviços Florestais),
esqueceram-se da conveniente profissionalização e apetrechamento dos bombeiros,
melhor adaptados a incêndios urbanos.
Se os nossos governantes continuarem, teimosamente, a não
querer ver claramente o que está a acontecer, caminharemos rapidamente para um
amplo deserto montanhoso, com a planície, os vales e o litoral transformados
num imenso acacial, tal como já acontece em vastas áreas de Portugal. Biólogo
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