Lusitano Clube retomará em Setembro
actividade em casa nova em São Vicente
POR O CORVO • 21 JUNHO, 2017 •
Ao fim de longos meses de impasse e de inactividade, o
Lusitano Clube encontrou, por fim, novas instalações. A partir de Setembro, ou
mesmo no final de Agosto, a colectividade de Alfama funcionará num edifício
arrendado à Câmara Municipal de Lisboa (CML), nos números 25 a 29 das Escolas
Gerais, perto da Igreja de São Vicente de Fora. A mudança do rés-do-chão do 81
da Rua São João da Praça, onde estava desde a fundação, em 1905, para o imóvel
municipal obrigará a uma redefinição do papel da instuição, que passará a estar
mais virada para a educação e a formação e não tanto para o lazer e o
entretenimento que a vinham notabilizando nos dois últimos anos, quando uma
nova direcção tomou posse. “Vamos ter de nos reiventar e funcionar como uma
bandeira do rejuvenescimento das colectividades. Isto tem que ser como um grito
de revolta, algo que traga esperança”, diz a O Corvo David Costa, presidente da
direcção.
Assumindo o cansaço e
o desgaste provocados tanto pelo processo de despejo a que o clube foi sujeito,
iniciado há cerca de um ano, como pela incerteza prolongada sobre o desfecho da
busca de novas instalações, o dirigente reconhece que o Lusitano conhecerá uma
existência algo diferente. As limitações do novo espaço – a rondar uma centena
de metros quadrados, quase três vezes inferior ao anterior – e o ambiente em
redor, com a muita vizinhança ali existente a impossibilitar a realização de
actividades barulhentas, obrigam uma redefinir de prioridades. “Vamos
reiventarmo-nos, apostar na educação e na formação. Teremos aulas e workshops,
onde tentaremos dar um contributo no combate à iletarcia digital da população
sénior ou realizar aulas de código de programação aos miúdos”, explica David
Costa, assumindo que as festas e a música ao vivo serão uma raridade. “O local
não se coaduna com concertos, embora dê para realizar algo mais acústico”, diz.
Em todo o caso, o
tempo é ainda de “identificar pontos de interesse” que permitam à colectividade
integrar-se no novo poiso, o qual, embora seja ainda no bairro de Alfama, se
localiza na freguesia de São Vicente – as antigas instalações situavam-se na
freguesia de Santa Maria Maior. O objectivo passa por “envolver mais a
população, bem como as outras colectividades e a junta de São Vicente”, a qual
respondeu de imediato à solicitação do Lusitano Clube para apontar e discutir
quais as actividades que ali poderão vir a ser desenvolvidas. “Queremos
intervir para construir algo com a comunidade, para não estarmos de costas
voltadas”, afirma David Costa, imaginando o grande potencial que tal relação
poderá ter. “Nesta zona, percebemos que ainda existe vida, há aqui ainda muita
gente a viver e com a qual será possível estabelecer uma relação. No outro
lado, na Rua de São João da Praça, sinto que está a ficar moribunda, entregue
apenas ao turismo”.
Mas os desafios à
existência futura do Lusitano não deixarão de ser uma preocupação constante.
Antes de mais, porque o valor da renda mensal acompanhou numa relação
inversamente proporcional a mudança no espaço disponível. Ou seja, se a área é
agora três vezes inferior ao que existia, a prestação a pagar todos os meses ao
senhorio subiu na mesma conta. Se antes era pouco mais de 300 euros, será agora
ligeiramente inferior a um milhar de euros mensais. “Já não há rendas como aquelas
a que as colectividades estavam habituadas. Vai ser, por isso, mais duro.
Teremos um grande desafio pela frente, sem dúvida, que é o de fazer receitas
suficientes para assegurar a nossa existência”, considera o presidente da
direcção, sem deixar de agradecer à Câmara de Lisboa a ajuda dada na pesquisa
por um novo lugar.
“A realidade será
agora três vezes mais dura, devido ao valor da renda e às limitações de espaço.
Além disso, este processo foi longo e moroso. Estamos parados há demasiados
meses. Mas conseguimos ficar em Alfama e, assim, manter as nossas raízes. Mas
vamos ter de nos saber reiventar, olhando para o que podemos fazer com as
populações”, afirma David Costa, sublinhando a importância simbólica desta nova
prova de resistência do Lusitano – instituição que já conheceu outros momentos
de grande dificuldade ao longo dos seus quase 112 anos de existência. Nas
Escolas Gerais, o primeiro ano será de teste, assume o dirigente, vislumbrando
o segundo ano nas novas instalções como um momento de consolidação do projecto.
“A partir do terceiro ano, ou isto funciona ou vamos ter de procurar outro
caminho. Tem de haver uma grande resiliência, um acompanhamento semanal, para
que isto resulte”, diz. Por agora, há que preparar o regresso após as férias do
verão.
Texto: Samuel
Alemão Fotografia: Hugo David
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