Moradores continuam a queixar-se dos
ajuntamentos no Jardim do Arco do Cego
POR O CORVO • 2 JUNHO, 2017 •
Apesar das melhorias realizadas no local, os residentes da
zona do Jardim do Arco do Cego dizem que os incómodos causados pelos
ajuntamentos diários de milhares de jovens são cada vez maiores. “Bêbados e
drogados continuam a fazer barulho até tarde, continuam a impedir-nos de entrar
nos prédios, de circular nos passeios, urinam à nossa porta. Deixam ainda
muitos copos, garrafas, beatas de cigarros, tremoços e outro lixo, até de
manhã. E se reagimos, insultam-nos”, queixou-se Raquel Matos Paisana, uma representante
dos moradores, na passada terça-feira (30 de maio), perante a Assembleia
Municipal de Lisboa. Lamentando a continuada degradação das condições de
habitabilidade daquela zona, pediu “mais brio” à Câmara Municipal de Lisboa
(CML) na resolução de um problema que, afinal, nem é exclusivo daquela área. A
tranquilidade no espaço público, em várias zonas da capital, está sob ameaça,
reconheceu Helena Roseta, presidente da assembleia.
Elogiando as intervenções realizadas, recentemente, pela CML
e pelas juntas das freguesias Avenidas Novas e do Areeiro, para minorar o
impacto da frequência do Jardim do Arco do Cego por tão vasta mole humana, a
moradora afirma que, todavia, as razões de descontentamento se mantêm.
“Reconhecemos e agradecemos o trabalho feito, mas, infelizmente, não chega. A
falta de habitabilidade desta zona da cidade continua a crescer, agora mais
lentamente, mas ainda progressivamente”, disse, salientando que as queixas “não
se tratam de nenhuma reacção de velhos a querer civilidade versus novos a
querer divertir-se”. Raquel Matos Paisana diz que as condições de vida de quem
ali vive continuam a degradar-se, fruto dos ajuntamentos “de pessoas a consumir
droga e cerveja vendida aos milhares de litros por mês”, os quais acontecem
todos os dias, “das 14 horas em diante”. Ambiente que, diz, atrairá “marginais”
e alguns menores, a quem são vendidas bebidas alcoólicas.
“O barulho mantém-se para além do fecho de alguns
estabelecimentos, às 23 horas, por vezes toda a noite. Há cervejarias a venderem
cerveja take-away, outras com promoções do tipo ‘pague uma e leve duas’ ou
outras ainda em que os clientes fazem barulho até tarde”, acusa a residente,
criticando também o que considera a insuficiente capacidade e número de
papeleiras entretanto ali colocadas para acolher o lixo produzido. Além disso,
mantêm-se as pragas de ratos e ratazanas e os arbustos estão danificados,
afirma. Algo que sucede apesar da intensificação das operações de limpeza do
jardim e dos passeios circundantes, mesmo ao domingo. Há até uma recolha de
copos de plástico entre as 17h e as 21h. Mas tudo isso, que é elogiado pelos
moradores, parece não chegar. “Os comerciantes têm direito ao lucro, bem como
as cervejeiras, tal como os consumidores ao prazer. Mas não aceitamos que impeçam
a habitabilidade da zona. Não nos conformamos, não desistimos”, promete.
A exigência da representante dos moradores para que a CML
tome novas medidas visando que essas pessoas “tenham uma vida normal, razoável
e saudável” encontrou simpatia em Helena Roseta, presidente da assembleia
municipal. A responsável máxima por aquele órgão autárquico disse já ter
alertado a câmara para esta realidade, mas reconheceu que “o regulamento não
chega” para pôr cobro aos comportamentos “indevidos”. “É difícil à câmara
impedir tais abusos. Temos que ter aqui alguma intervenção e ver que mais
diligências podem ser feitas”, disse Roseta, antes de admitir que esta é uma
tarefa de difícil conclusão. “Como acontece noutros pontos da cidade, o que se
está a constatar é que, se do ponto de vista dos estabelecimentos as coisas
melhoraram um pouco, do ponto de vista do espaço público nem por isso. Temos
que ver como se faz noutras cidades, para minorar estas questões. Mas não é
fácil”, desabafou.
As reclamações agora apresentadas na AML sobre o Jardim do
Arco do Cego surgem pouco mais de um ano depois de, no mesmo local, o
vice-presidente da câmara, Duarte Cordeiro, ter anunciado um conjunto de
intervenções com o objectivo de adaptar o local a esta realidade e que a venda
de bebidas se realizasse “de forma menos conflituosa com os moradores”. Cerca
de um mês depois, a 28 de junho, em entrevista a O Corvo, o também detentor do
pelouro da Higiene Urbana apelava à “responsabilidade colectiva” dos
comerciantes daquela área. “Acho que o que faz sentido é os responsáveis dos
negócios envolverem-se e ajudarem a controlar o problema – em vez de estarem
apenas fechados no seu negócio e gerarem um problema que, depois, pode, no
limite levar à sua ruína. Isso passa por serem os primeiros a mediarem os
conflitos com os moradores, envolverem-se na lavagem do local e até da
concepção do próprio local”, disse, na altura, Duarte Cordeiro.
Texto: Samuel Alemão
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