Um
dia depois, três candidatos e um Congresso no PS
Nuno Sá Lourenço e
Margarida Gomes 05/10/2015 - PÚBLICO
O
desafio à liderança já se adivinhava desde domingo. Costa não
esperou muito para abrir a porta à clarificação.
Os cadernos
eleitorais ainda não arrefeceram e já há militantes a
posicionar-se para disputar a liderança do PS com António Costa.
Depois da declaração de força assumida no dia da derrota
assegurando que não se demitia, o secretário-geral socialista
concretizou a sua disponibilidade para a clarificação interna. O
líder aproveitará a reunião desta terça-feira para o fazer.
Apresentará à Comissão Política uma proposta para a realização
de um Congresso.
A decisão de Costa
resulta da sua própria iniciativa enquanto líder. O
secretário-geral tem o poder de convocar um congresso em qualquer
momento. No último Congresso, no final do ano passado, foram
revogadas algumas das disposições impostas por António José
Seguro. Os estatutos definem a duração de dois anos para os
mandatos internos, embora se admita a "possibilidade de
ajustamentos do calendário eleitoral interno quando tal for
reconhecido pela Comissão Nacional, tendo sobretudo em atenção os
ciclos eleitorais".
No mesmo dia
começaram a manifestar-se apoios. Entre estes, o do histórico
socialista, Manuel Alegre. "O PS não implodiu, teve um
resultado honroso, não é para cantar vitória, mas mantém-se como
a principal força de esquerda e como uma referência fundamental da
democracia", citou a Lusa. "Não vamos tentar destruir esse
capital político do PS, que tem agora um líder que se adapta a essa
circunstância. É fundamental que António Costa se mantenha firme à
frente do PS", rematou.
Mas por essa altura
já Álvaro Beleza havia tomado posição. “Sou candidato”,
confirmou esta segunda-feira, embora admitindo “desistir se houver
alguém com melhores condições”. O anúncio do médico acontece
perante o silêncio do eurodeputado Francisco Assis. O ex-membro da
direcção trabalha já para arregimentar os descontentes com António
Costa. Nas contas dessa revolta entram as estruturas onde o segurismo
mantém ainda algum poder. E há militância potencial, asseguram os
desafiadores da actual liderança, em Setúbal, Leiria, Santarém,
Bragança, Braga, Porto e Coimbra.
No PS, as
movimentações vão ganhando velocidade. De acordo com vários
dirigentes distritais e locais do PS, já estão marcadas “reuniões
oficiais e para-oficiais em quase todos os distritos hoje à noite
[segunda-feira]”, para preparar uma estratégia para a comissão
política que se aproxima.
No entanto, parece
que Beleza não vai conseguir congregar todos. Segundo a Rádio
Renascença, Rui Prudêncio, antigo presidente da Federação
Regional do Oeste do PS, admitiu avançar também. Tal como Beleza,
apoiou o ex-líder do PS, António José Seguro, no combate das
primárias, que disputou com o actual secretário-geral dos
socialistas.
Enquanto Beleza e
Prudêncio dão sinais de ir a jogo, Francisco Assis continua em
silêncio absoluto. O que se sabe é que o eurodeputado não estará
na reunião da Comissão Política. O parlamentar europeu, que há já
algum tempo está a ser pressionado para disputar a liderança, terá
conversado com António Costa na noite de domingo, mas a conversa
entre ambos parece estar no segredo dos deuses.
Particularmente no
Porto, Assis terá bastantes apoios, mas o ex-líder da bancada
parlamentar não parece disponível para disputar a liderança nesta
altura. De resto, em declarações ao PÚBLICO na semana passada,
Francisco Assis afastou qualquer intenção de avançar, avisando que
“não patrocinará nenhum movimento dentro do PS” com vista a uma
candidatura sua e sai em defesa do secretário-geral. “Não tenho a
mais pequena disponibilidade para ser candidato”, frisou.
A ala socialista
mais conotada com Seguro olha com alguma desconfiança para Álvaro
Beleza. Consideram que o ex-membro do secretariado nacional do PS
“não tem experiência e não teve capacidade negocial nem para a
comissão política nem para a lista de deputados”. “Ele faz mal
em avançar. É um erro”, atira o ex-vice-presidente da bancada
parlamentar socialista José Junqueiro, que aplaude a decisão de
António Costa de propor a realização de um congresso. “Era isso
que António Costa deveria ter dito na noite de domingo “, defende
o ex-líder da distrital do PS de Viseu, vincando que o congresso
deve ser electivo e terá de ser antecedido de primárias, porque –
vinca – “o actual líder foi eleito em primárias”.
Junqueiro desafia
personalidades do PS como António Vitorino e Jorge Coelho a “sair
da sua zona de conforto e a ir ao congresso apresentarem-se como
alternativa”. “No PS há um conjunto de personalidades, que têm
uma grande capacidade e que têm a obrigação de aparecer e dizer
que estão disponíveis “, afirma ainda o ex-deputado, sublinhando
que se o congresso for electivo e não houver ninguém disponível
para ser candidato significa isso que o partido se resignou” com o
resultado eleitoral das legislativas.
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