Há
pontos de entendimento nas pensões mas acordo para reforma parece
difícil
Passos
voltou a desafiar Costa para um entendimento na Segurança Social.
Aumento das receitas da Segurança Social é um dos pontos onde
poderá haver convergência entre a coligação e o PS
Depois
de ser um dos temas a marcar a campanha, a reforma do sistema de
pensões parece querer agora também dominar o debate pós-eleitoral
entre o futuro Governo e a oposição.
Sérgio Aníbal e
Raquel Martins / 6-10-2015 / PÚBLICO
Reforma do sistema
de pensões deve ser um dos temas do debate entre o futuro Governo e
a oposição
Logo no discurso da
noite das eleições, Passos Coelho fez da Segurança Social o ponto
de partida para o eventual lançamento de pontes entre o futuro
Governo e os socialistas, dizendo que o PS, “sendo um partido
europeísta, estará disponível para possibilitar que reformas
importantes ainda possam ter lugar no nosso país nos próximos anos,
com destaque para a reforma da Segurança Social”.
Do lado do PS,
alguns minutos antes, António Costa tinha estabelecido “quatro
objectivos essenciais” para poder cumprir o seu mandato e
concretizar o programa. Um desses objectivos é “a defesa do Estado
social e dos serviços públicos, na Segurança Social, na educação
e na saúde, para um combate sério à pobreza e às desigualdades”.
As declarações
pós-eleitorais sobre o assunto são ainda demasiado vagas para
avaliar a probabilidade de um entendimento na área das pensões,
mas, olhando para o que está escrito nos programas eleitorais e para
o que foi dito durante a campanha, é possível detectar de forma
mais nítida alguns pontos de entendimento, mas também linhas
vermelhas que tornam pouco provável um acordo amplo para uma reforma
do sistema de pensões.
O entendimento mais
provável está na diversificação das fontes de financiamento, um
objectivo expresso nos dois programas eleitorais. Com um novo corte
das pensões colocado de lado por agora, o Governo deverá, a
acreditar no que foi sendo dito por Passos Coelho, tentar um aumento
imediato das receitas da Segurança Social. Num debate televisivo,
Passos Coelho disse explicitamente a Costa que seria através de
novas fontes de financiamento que se poderia encontrar uma solução
para a meta de 600 milhões de euros, prevista no Programa de
Estabilidade para 2016. E lembrou que o PS propõe no seu programa
novas receitas para o sistema, provenientes, por exemplo, da taxa de
IRC, das portagens das auto-estradas ou do agravamento das
contribuições das empresas com alta rotatividade dos seus
trabalhadores. “Só essas medidas fazem mais do 600 milhões. Eu
espero que nos possamos entender sobre isso”, disse o
primeiro-ministro a António Costa.
Há outras medidas,
como o congelamento das pensões, com excepção das mínimas, que
permite pensar que o futuro Governo minoritário consegue encontrar
formas de obter apoio parlamentar para a sua gestão da Segurança
Social para o próximo ano.
Há, no entanto,
diferenças claras quando se fala de uma reforma completa. Coligação
e PS têm, logo à partida, divergências sobre os problemas que o
sistema enfrenta, com os socialistas a defenderem que o desequilíbrio
financeiro se deve essencialmente à perda de empregos e o PSD/CDS-PP
a detectar falhas na sua actual estrutura.
Por outro lado, a
proposta de plafonamento apresentada pela coligação e a proposta de
redução da TSU apresentada pelo PS foram alvo de críticas fortes
pelo lado contrário da barricada.
Pedro Côrte-Real,
professor da Universidade Nova de Lisboa que fez uma análise
comparada dos programas eleitorais para o grupo Cidadania Social, tem
ainda assim uma visão optimista sobre a possibilidade de
convergências. No programa eleitoral do PS, nota, “não ficou
completamente fechada a porta a uma discussão” sobre a necessidade
de reformar o sistema de pensões em Portugal, uma vez que se admite
que a situação da Segurança Social sofreu alterações com a
actuação do Governo. “Continuo a achar que são mais as
semelhanças do que as diferenças e o PS e a coligação estão mais
próximos do que poderá parecer numa primeira leitura dos programas
eleitorais de cada um”, refere.
Para o professor, PS
e coligação estão próximos “nos pontos essenciais”. “Quer
um quer outro defende um regime público com gestão pública; um
sistema obrigatório e universal e a manutenção de um modelo de
repartição em que os activos de hoje pagam a reforma dos actuais
pensionistas”. Ou seja, resume, o sistema de repartição é para
manter, com alteração de aspectos como as fontes de financiamento.
Sem comentários:
Enviar um comentário