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Direcção Editorial
05/10/2015 - PÚBLICO
Os
próximos tempos serão instáveis e não há cenários fechados.
As eleições de
domingo deixaram o país num impasse. Não houve maioria absoluta e
não há sinais evidentes de que, à esquerda, algum partido se
mostre disponível para viabilizar um Governo minoritário da
coligação, a não ser que esta faça grandes concessões
programáticas. A própria situação de fragilidade do Presidente da
República não lhe dá grande margem de manobra para mediar
negociações capazes de ultrapassar com sucesso a instabilidade
política que os resultados das legislativas prenunciam. Tanto mais
que, tendo saído como a força política mais votada, é impossível
ignorar que a PaF perdeu centenas de milhares de votos e muitos
mandatos na Assembleia da República, ficando absolutamente manietada
no cumprimento do seu programa, mesmo que por milagre o conseguisse
fazer passar no Parlamento. Cavaco Silva não deixará de ter isso em
conta na sua avaliação política, mas não é esse o seu único
problema. Do lado do PS, as dificuldades não serão menores. Os
números também são dramáticos para António Costa, que perdeu as
eleições para a coligação, apesar de quatro anos em que os
portugueses sofreram a maior austeridade de que há memória em 40
anos de democracia. Decepcionante, tanto mais que o líder do PS
pediu a maioria absoluta até ao último minuto da campanha, contra
todos os indicadores e todas as evidências, mas também
decepcionante à luz das expectativas que o próprio Costa colocou há
um ano sobre si próprio, quando proferiu a sentença de morte sobre
António José Seguro, apoucando a sua vitória nas europeias.
Mas Costa não é
Seguro e ontem à noite já mandou recados em todas as direcções.
Aos que já estão a afiar internamente as facas para lhe cobrar a
derrota, avisou que não se demite. Ao sector moderado do partido,
deu garantias de que “o PS não contribuirá para maiorias
negativas”. À ala mais à esquerda, prometeu indisponibilidade
para “viabilizar as políticas da coligação”, enumerando mesmo
as quatro linhas vermelhas do seu programa eleitoral – virar de
página da austeridade, defesa do Estado social, relançar o
investimento na ciência e cultura e respeito pelos compromissos
europeus e internacionais de Portugal – e, finalmente, disse ao
Bloco e ao PCP que se, de facto, não querem um governo da coligação,
então que se comprometam numa alternativa. Em suma, Costa não dá
qualquer sinal de querer sair de cena, colocando-se mesmo no
epicentro de todas as soluções, seja para não derrubar de imediato
um eventual governo minoritário de direita, seja para liderar um
executivo à esquerda.
Um dos aspectos mais
assinaláveis desta eleição é justamente o peso que ganharam os
dois partidos à esquerda do PS. Pela primeira vez, deixaram de ser
dispensáveis na procura de uma solução de Governo estável e
estarão, sem dúvida, no epicentro das conversações. O seu
crescimento exponencial, sobretudo o Bloco de Esquerda, é um sinal
de que ninguém se pode alhear.
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