Costa
à espera do atoleiro da coligação, seguristas com pressa para
clarificação
Nuno Sá Lourenço
05/10/2015 -PÚBLICO
A sala socialista
irrompeu numa gigantesca ovação quando o secretário-geral, António
Costa, declarou este domingo que não vai abandonar a liderança
socialista apesar de reconhecer a sua “responsabilidade política e
pessoal” pelo facto de o PS não ter alcançado “os seus
objectivos”.
“Manifestamente
não me vou demitir”, disse taxativamente António Costa, ainda
antes das 23h, já depois de colocar sobre a coligação de direita o
“ónus” de “criar condições de governabilidade”.
O seu plano,
portanto, é preparar um governo por si liderado enquanto a coligação
se defronta com um Parlamento sem mandatos suficientes para aprovar
as “suas políticas”.
O ex-autarca não
terá no entanto um partido unido atrás de si quando ensaiar essa
estratégia. Assim que os resultados eleitorais começaram a revelar
a vitória da coligação, o conjunto de dirigentes derrotados na
última disputa interna não perderam tempo a exigir a demissão do
actual líder.
As declarações
foram muitas e dispersas pelo país. Mas Álvaro Beleza assumiu a
ruptura no mesmo local onde Costa garantira a sua manutenção no
cargo. O ex-membro do secretariado de Seguro esperou pela declaração
do secretário-geral e, à saída do quartel-geral socialista das
eleições, fez a sua declaração de guerra. "Não se pode
disputar um partido depois de uma vitória por poucos e depois de uma
derrota clara não haver assumção de responsabilidades e
clarificação”, disse ladeado por Eurico Brilhante Dias, outro
ex-membro da direcção de Seguro. À medida que abandonava o local,
alguns socialistas presentes fizeram questão de o cumprimentar
depois de o ouvir falar no hall do Altis.
António Costa, no
entanto, estava noutro patamar. A sua agenda para os próximos tempos
é a de transformar uma governação da coligação num atoleiro, ao
mesmo tempo que trabalha para criar aquilo que a direita não tem
condições para conseguir.
Na sua decalaração
ao país, Costa destacou a “perda da maioria”, que representava
“um novo quadro político” no qual o PSD e o CDS tinham o “ónus”
de criar “condições de governabilidade”.
“O PS sempre foi
defensor de moções de censura construtivas”, disse, antes de
garantir que não iria “viabilizar a prosecução pela coligação
da sua política”. Mas adiantou que não se poderia contar em ser
apenas “uma maioria do contra”.
Traduzido por uma
dirigente do PS, Costa tenciona ir “à luta” nos primeiros
embates que o próximo governo de direita terá: “Banco BES, défice
e aumento de impostos”. “O PS não vai aprovar cortes de salários
e de pensões”, garantiram ao PÚBLICO. E no meio desse atoleiro, a
liderança do PS trataria de “encontrar soluções de
governabilidade” à esquerda. O plano é poder apresentar uma
solução com base em “acordos de incidência parlamerntar medida a
medida”.
Houve quem
insistisse na ideia, como o ex-líder Ferro Rodrigues. “Quem tem de
se adaptar a uma nova lógica parlamentar é a coligação",
disse Ferro Rodrigues. "É bom que [PSD e CDS-PP] percebam que
vai ser tudo muito diferente".
A oposição
interna, no entanto, não está disponível para dar uma segunda
oportunidade a Costa. A comissão política para esta terça-feira
será o primeiro palco para a confrontação que exigiu Beleza.
A contestação
chegou dos mais variados locais. O ex-dirigente distrital José
Junqueiro assumiu-o a partir de Viseu. “No início desta
legislatura, o PS iniciou uma oposição construtiva e ebteve sucesso
nas eleições autárquicas e europeias. Esse processo foi
interrompido pelo doutor António Costa que defendeu uma vitória
rápida nestas eleições. Os resultados desta noite contrariam esses
objectivos. Estamos à espera que o secretário-geral interprete
estes resultados”, disse ao PÚBLICO.
Mota Andrade, líder
da federação do PS de Bragança, lamentou a derrota do partido e
pediu a demissão de Costa para que se “repense a política” e
haja “novos intervenientes”. João Ribeiro criticou abertamente
Costa: “Uma conferência de imprensa de António Costa
absolutamente lamentável. Cada voz do PS que se cale perante este
exercício de cinismo e de alienação estará a condenar o PS a uma
irrelevância dificilmente recuperável”.
Mas Francisco Assis
afastava este domingo qualquer intenção de avançar para a
liderança dos socialistas, avisando que “não patrocinará nenhum
movimento dentro do PS” nesse sentido e sai em defesa do
secretário-geral. “Não tenho a mais pequena disponibilidade para
ser candidato e estou muito bem onde estou”, declarou, deixando um
sinal de que não se vai deixar empurrar para uma candidatura.
Vítor Ramalho,
próximo de Mário Soares, foi menos agressivo falando numa solução
que apelasse à unidade do partido. Sem entrar num processo de
“flagelação interna”, mas começando já a “centrar e a
analisar as causas externas e internas para esta situação”. Foi
assim que o ex-deputado e antigo líder da federação distrital de
Setúbal confirmou a intenção de um grupo de socialistas para
avançar com a proposta de agendar um congresso extraodinário do PS
para depois de Março
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