CDU
com subida amarga diz-se disposta a dar a mão ao PS
Maria Lopes
05/10/2015 - PÚBLICO
Jerónimo
de Sousa considera que a “hecatombe” eleitoral da direita permite
ao PS ter “condições para formar Governo”.
Foi uma noite com
travo amargo e com o entusiamo molhado pela chuva que começou a cair
quando se conheceram as projecções, pelas 20h. A festa a sério
fazia-se do outro lado da Avenida da Liberdade, no cinema São Jorge,
com o Bloco, e no Centro de Trabalho Vitória, nem uma bandeira da
CDU se viu. Apenas os jovens iam gritando as palavras de ordem do
costume, sem conseguir esfumar o ambiente de algum constrangimento
por o Bloco de Esquerda ultrapassar a CDU em alta velocidade.
De tal maneira que
Jerónimo de Sousa se viu forçado a descer ao rés-do-chão para
falar duas vezes, a segunda já quando parte da comunicação social
tinha desmobilizado e o líder do PCP teve afinal a certeza que a CDU
conseguira mais votos (mais mil, à hora de fecho desta edição),
mais percentagem (8,3% em vez dos 7,9%) e mais um deputado que os 16
de há quatro anos – no Porto somou mais um aos dois que elegera.
Ao contrário,
porém, de outras eleições, desta vez Jerónimo nunca falou numa
vitória da CDU. Preferiu sempre falar em “objectivos cumpridos”,
sobretudo o de acabar com a maioria absoluta de PSD/CDS. Que a CDU
acabou por transformar na sua bandeira da noite eleitoral. Os
comunistas e os ecologistas consideram que essa foi a sua vitória,
de tal modo que o líder comunista até se pôs em bicos de pés.
Para Jerónimo, a
perda da maioria absoluta por parte de PSD e CDS, leva que a haja um
“quadro” em que “o PS tem condições para formar Governo”. O
líder do PCP prometeu mesmo rejeitar “qualquer tentativa de
formação do Governo ou de aprovação do programa de Governo”. E
Francisco Lopes, do Comité Central e apontado como o melhor colocado
para suceder a Jerónimo de Sousa já tinha avisado por volta das
21h: com esta “hecatombe”, PSD e CDS perdem a possibilidade de
formar Governo, “a menos que haja da parte do Presidente da
República uma entorse relativamente aos resultados eleitorais”.
“Ou se alguma força que tem estado na oposição favorecer a
criação desse Governo”, acrescentou depois.
Ao dar assim a mão
ao PS, Jerónimo de Sousa espera que António Costa não lhe vire as
costas e acabe por, ele sim, estender a sua mão à direita. E terá
já em mente a apresentação de um voto de rejeição do programa do
Governo no Parlamento, colocando a bola do lado dos socialistas. A
CDU, vincou, está disposta “a dar a sua contribuição para
resolver os problemas nacionais” , mas não a qualquer custo. “Nós
dissemos claramente que não precisamos de favores para ir para o
Governo, não precisamos de acordos que não se baseiam numa política
alternativa, patriótica e de esquerda.”
Jerónimo
limitou-se, no entanto, a lançar o isco a António Costa –
questionado pelos jornalistas admitiu que confia na comunicação
social para levar a mensagem ao líder do PS – e não adiantou em
que áreas aceita negociar. Os programas da CDU e do PS são
compatíveis ao ponto de viabilizar um programa ou orçamento
socialista? Porque “a melhor prova do pudim é comê-lo”, o
secretário-geral comunista prefere esperar que a iguaria chegue à
mesa. Mas vai avisando que há pontos fundamentais como a reposição
de salários, pensões e reformas, ou o Serviço Nacional de Saúde e
a carga fiscal.
Jerónimo de Sousa
não resistiu a fazer a vitimização da CDU, que foi “muitas vezes
discriminada, silenciada” pela comunicação social, forçada a
fazer uma campanha “sem holofotes nem reportagens a dobrar” –
“fenómeno maior que a multiplicação dos pães”.
Sem “ciumeira”
do BE
Na CDU recusou-se
qualquer frustração com o facto de se perder o terceiro lugar para
o Bloco de Esquerda. “Nós não andamos em nenhuma competição com
o Bloco. O Bloco não é o nosso adversário”, dizia Jorge Pires,
da comissão política. E vincou: “Ser ultrapassado pelo Bloco não
é problema; problema seria a coligação PSD/CDS ter maioria
absoluta.” Jerónimo de Sousa também desvalorizou, lembrando que
há quatro anos o resultado foi diferente e dos comunistas não se
ouviu palavra. “O Bloco teve a expressão que teve, fazemos esse
registo, mas não peçam ao PCP que se trave aqui um duelo, um
despique ou uma ciumeira. Não, a vida é assim mesmo”, disse
Jerónimo. “Os resultados são os que são, nós teremos o nosso
próprio caminho e não entraremos em concorrência, em qualquer
arrelia ou ciumeira”, acrescentou.
Questionado sobre se
esta foi a sua última campanha eleitoral, o líder comunista sorriu,
disse que não e que o verão mais vezes na rua em breve. Nas
presidenciais? Abanou a cabeça, ainda de sorriso nos lábios, “para
agradecer” aos militantes e activistas da CDU. O congresso
sucessório do PCP deverá realizar-se em 2016.
Sem comentários:
Enviar um comentário