“O
PS falhou.” Ana Gomes
Seguristas
à espera da demissão de António Costa
“Mais
do que uma vitória da coligação há uma derrota do PS”, reagiu
Ana Gomes
ANA SÁ LOPES E LUÍS
CLARO
04/10/2015 20:44:54
/ Jornal i online
O PS tem de
"reflectir bastante", diz Álvaro Beleza. Ana Gomes
afirmou-se “chocada”. E Eurico Brilhante Dias, outro dirigente do
PS que integrou a equipa de Seguro, afirmou que resultado terá de
ter uma leitura política, como tiveram o das primárias, das
europeias e das autárquicas.
Se António Costa
não se demitir esta noite, o PS entra em polvorosa imediata. Ao que
o i apurou, os antigos apoiantes de António José Seguro estão já
a preparar um jantar – que pode ser amanhã ou terça-feira –
para analisar o futuro do partido e a “estratégia” depois da
derrota. Se o secretário-geral insistir em ficar à frente do
partido apesar do resultado, os pedidos de demissão de António
Costa vão surgir um pouco por todo o país.
Para já, Ana Gomes
afirmou-se “chocada” com os resultados [uma frase semelhante ao
“estado de choque” em que António Guterres ficou em 1991 quando
Jorge Sampaio foi derrotado por Cavaco Silva]. “Mais do que uma
vitória da coligação há uma derrota do PS”, afirmou a
eurodeputada para quem o partido “mais do que nunca tem que fazer
uma análise nos órgãos próprios”. Ana Gomes afirmou que a
“culpa” dos resultados “tem a ver com a estratégia de toda a
direcção do PS que tem de ser analisada rapidamente”.
Eurico Brilhante
Dias, outro dirigente do PS que integrou a equipa de Seguro, afirmou
que “todos os resultados têm uma leitura política”, recordando
que o resultado das primárias, das europeias e das autárquicas
“também tiveram leituras políticas”.
Também Álvaro
Beleza, o antigo dirigente seguristas que negociou com Costa os
lugares da minoria nas listas, afirmou: “Surpreende-me que os
portugueses não tenham confiado no PS”. Para Beleza, o PS tem de
“reflectir bastante”: “O debate e a reflexão que existir a
seguir tem de ser primeiro um confronto de ideias e não de pessoas”.
António Galamba, um
dos dirigentes mais próximos de António José Seguro, escreveu no
Facebook estar “incrédulo com as narrativas que estão a ser
construídas desde sexta”: “A coerência é um bem muito escasso.
E a falta de vergonha na cara também. Pelo andar da carruagem ainda
se perde na noite das eleiçõpes a confiança dos que foram votar”.
Galamba referia-se à possibilidade de, não havendo maioria de
direita, o PS tentar formar governo apoiado na maioria de esquerda do
parlamento. A ideia não colhe junto deste sector.
António
Costa faz alta pressão. Só derruba governo com entendimentos à
esquerda
LILIANA VALENTE /
5/10/2015, OBSERVADOR
António
Costa diz que não vai fazer maiorias negativas no Parlamento e que o
PS só apresenta moções de censura construtivas. O "ónus",
diz, está do lado do Governo. O líder socialista não se demite.
Quando António
Costa subiu ao palco os resultados ainda não estavam fechados.
Estava a perder por cinco pontos e a coligação PSD/CDS longe da
maioria absoluta. E foi por isso que o líder socialista se agarrou
ao resultado menos mau para dizer que não se demite da liderança do
partido e dizer ao mesmo tempo que não contribui para “uma maioria
negativa no Parlamento”. Resposta dada à esquerda. E à direita? O
líder socialista diz apenas que o “ónus” de criar um governo
estável está nas mãos de Passos Coelho e Paulo Portas mas que
“ninguém conte com o PS para viabilizar as políticas contrárias”
às do partido.
Nas respostas aos
jornalistas, António Costa garantiu que não se juntará ao PCP e ao
BE para impedir o Governo de Passos Coelho de tomar posse. Disse
Costa que o PS só faz “moções de censura construtivas. Não
inviabilizaremos um Governo sem termos um governo para viabilizar.
Ninguém conte connosco para sermos só uma maioria do contra sem
condições de formar uma alternativa”.
Já antes tinha
chutado para o PSD e CDS o “ónus” da criação de condições
para governar.
A perda da maioria
pela coligação constitui um novo quadro político fruto da
expressiva vontade de mudança que constitui o PSD e CDS no ónus de
criarem condições de governabilidade parlamentar. Há um novo
quadro, PSD e CDS não podem julgar que pode continuar a governar
como se nada tivesse acontecido”, disse.
Mas isso não
significa que o líder do PS esteja disponível para coligações com
PSD/CDS. “O PS assume a plena responsabilidade de garantir que a
vontade dos portugueses não se perca na ingovernabilidade, mas
também não se perca no vazio ou alheamento”, defendeu.
Nos bastidores, os
socialistas próximos de Costa iam sublinhando que o líder não
colocou de fora das possibilidades a rejeição do programa de
Governo. E iam repescando uma velha proposta de António Vitorino que
esteve em análise numa revisão constitucional de fazer acompanhar
cada moção de censura com uma proposta de governo alternativo.
Uma das primeiras
questões em cima da mesa será a aprovação do Orçamento do
Estado. Costa não quis dizer o que vai fazer quando PSD e CDS
apresentarem o documento até porque, lembrou, ainda muito vai
acontecer até lá. “Infelizmente essa pergunta é extemporânea.
Há outras perguntas que se vão colocar até chegar ao momento do
Orçamento”. Costa tinha dito em declarações ao Expresso que
chumbaria um Orçamento da coligação, mas entretanto neste discurso
da noite eleitoral preferiu não se pronunciar sobre o assunto. É
que antes da aprovação do Orçamento do Estado estará a votação
do programa do Governo, se BE e PCP apresentarem moção de rejeição.
E quanto a isso, Costa garante que o PS “não contribuirá para
maiorias negativas que criem obstáculos, nem para gerarem
alternativas que não sejam suscetíveis de criar alternativas
credíveis de governo”.
O líder socialista
até apareceu mais descontraído do que seria normal para alguém que
perdeu umas eleições. E depois de felicitar Passos Coelho e Paulo
Portas, o secretário-geral do PS garantiu que não iria sair do
partido: “Manifestamente não me vou demitir”, disse. E a sala
explodiu em aplausos. Antes, tinha dito que era ele e apenas ele o
responsável pelos resultados do PS: “O PS não alcançou os
objetivos eleitorais a que se propôs. Eu como secretário-geral
assumo por inteiro a responsabilidade política e pessoal”.
Costa quer ficar de
pedra e cal apesar de logo de seguida ter garantido que o partido vai
reunir os seus órgãos políticos par fazer a avaliação, admitiu
que não será empecilho: “Nunca sou nem serei um problema para o
PS. Nunca faltei quando foi preciso”, disse.
O líder socialista
quis assim arrumar a parte interna. Mas no piso de cima apressou-se a
falar Álvaro Beleza a pedir que o “partido tem de fazer uma forte
reflexão e uma clarificação em relação ao que aconteceu”
através de um congresso extraordinário e entretanto o Público dava
conta da intenção de vários socialistas de exigirem essa reunião
magna a Costa.
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