segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Seguristas à espera da demissão de António Costa / António Costa faz alta pressão. Só derruba governo com entendimentos à esquerda


O PS falhou.Ana Gomes

Seguristas à espera da demissão de António Costa
Mais do que uma vitória da coligação há uma derrota do PS”, reagiu Ana Gomes

ANA SÁ LOPES E LUÍS CLARO
04/10/2015 20:44:54 / Jornal i online

O PS tem de "reflectir bastante", diz Álvaro Beleza. Ana Gomes afirmou-se “chocada”. E Eurico Brilhante Dias, outro dirigente do PS que integrou a equipa de Seguro, afirmou que resultado terá de ter uma leitura política, como tiveram o das primárias, das europeias e das autárquicas.

Se António Costa não se demitir esta noite, o PS entra em polvorosa imediata. Ao que o i apurou, os antigos apoiantes de António José Seguro estão já a preparar um jantar – que pode ser amanhã ou terça-feira – para analisar o futuro do partido e a “estratégia” depois da derrota. Se o secretário-geral insistir em ficar à frente do partido apesar do resultado, os pedidos de demissão de António Costa vão surgir um pouco por todo o país.

Para já, Ana Gomes afirmou-se “chocada” com os resultados [uma frase semelhante ao “estado de choque” em que António Guterres ficou em 1991 quando Jorge Sampaio foi derrotado por Cavaco Silva]. “Mais do que uma vitória da coligação há uma derrota do PS”, afirmou a eurodeputada para quem o partido “mais do que nunca tem que fazer uma análise nos órgãos próprios”. Ana Gomes afirmou que a “culpa” dos resultados “tem a ver com a estratégia de toda a direcção do PS que tem de ser analisada rapidamente”.

Eurico Brilhante Dias, outro dirigente do PS que integrou a equipa de Seguro, afirmou que “todos os resultados têm uma leitura política”, recordando que o resultado das primárias, das europeias e das autárquicas “também tiveram leituras políticas”.

Também Álvaro Beleza, o antigo dirigente seguristas que negociou com Costa os lugares da minoria nas listas, afirmou: “Surpreende-me que os portugueses não tenham confiado no PS”. Para Beleza, o PS tem de “reflectir bastante”: “O debate e a reflexão que existir a seguir tem de ser primeiro um confronto de ideias e não de pessoas”.

António Galamba, um dos dirigentes mais próximos de António José Seguro, escreveu no Facebook estar “incrédulo com as narrativas que estão a ser construídas desde sexta”: “A coerência é um bem muito escasso. E a falta de vergonha na cara também. Pelo andar da carruagem ainda se perde na noite das eleiçõpes a confiança dos que foram votar”. Galamba referia-se à possibilidade de, não havendo maioria de direita, o PS tentar formar governo apoiado na maioria de esquerda do parlamento. A ideia não colhe junto deste sector.



António Costa faz alta pressão. Só derruba governo com entendimentos à esquerda
LILIANA VALENTE / 5/10/2015, OBSERVADOR

António Costa diz que não vai fazer maiorias negativas no Parlamento e que o PS só apresenta moções de censura construtivas. O "ónus", diz, está do lado do Governo. O líder socialista não se demite.

Quando António Costa subiu ao palco os resultados ainda não estavam fechados. Estava a perder por cinco pontos e a coligação PSD/CDS longe da maioria absoluta. E foi por isso que o líder socialista se agarrou ao resultado menos mau para dizer que não se demite da liderança do partido e dizer ao mesmo tempo que não contribui para “uma maioria negativa no Parlamento”. Resposta dada à esquerda. E à direita? O líder socialista diz apenas que o “ónus” de criar um governo estável está nas mãos de Passos Coelho e Paulo Portas mas que “ninguém conte com o PS para viabilizar as políticas contrárias” às do partido.

Nas respostas aos jornalistas, António Costa garantiu que não se juntará ao PCP e ao BE para impedir o Governo de Passos Coelho de tomar posse. Disse Costa que o PS só faz “moções de censura construtivas. Não inviabilizaremos um Governo sem termos um governo para viabilizar. Ninguém conte connosco para sermos só uma maioria do contra sem condições de formar uma alternativa”.

Já antes tinha chutado para o PSD e CDS o “ónus” da criação de condições para governar.

A perda da maioria pela coligação constitui um novo quadro político fruto da expressiva vontade de mudança que constitui o PSD e CDS no ónus de criarem condições de governabilidade parlamentar. Há um novo quadro, PSD e CDS não podem julgar que pode continuar a governar como se nada tivesse acontecido”, disse.
Mas isso não significa que o líder do PS esteja disponível para coligações com PSD/CDS. “O PS assume a plena responsabilidade de garantir que a vontade dos portugueses não se perca na ingovernabilidade, mas também não se perca no vazio ou alheamento”, defendeu.

Nos bastidores, os socialistas próximos de Costa iam sublinhando que o líder não colocou de fora das possibilidades a rejeição do programa de Governo. E iam repescando uma velha proposta de António Vitorino que esteve em análise numa revisão constitucional de fazer acompanhar cada moção de censura com uma proposta de governo alternativo.

Uma das primeiras questões em cima da mesa será a aprovação do Orçamento do Estado. Costa não quis dizer o que vai fazer quando PSD e CDS apresentarem o documento até porque, lembrou, ainda muito vai acontecer até lá. “Infelizmente essa pergunta é extemporânea. Há outras perguntas que se vão colocar até chegar ao momento do Orçamento”. Costa tinha dito em declarações ao Expresso que chumbaria um Orçamento da coligação, mas entretanto neste discurso da noite eleitoral preferiu não se pronunciar sobre o assunto. É que antes da aprovação do Orçamento do Estado estará a votação do programa do Governo, se BE e PCP apresentarem moção de rejeição. E quanto a isso, Costa garante que o PS “não contribuirá para maiorias negativas que criem obstáculos, nem para gerarem alternativas que não sejam suscetíveis de criar alternativas credíveis de governo”.

O líder socialista até apareceu mais descontraído do que seria normal para alguém que perdeu umas eleições. E depois de felicitar Passos Coelho e Paulo Portas, o secretário-geral do PS garantiu que não iria sair do partido: “Manifestamente não me vou demitir”, disse. E a sala explodiu em aplausos. Antes, tinha dito que era ele e apenas ele o responsável pelos resultados do PS: “O PS não alcançou os objetivos eleitorais a que se propôs. Eu como secretário-geral assumo por inteiro a responsabilidade política e pessoal”.

Costa quer ficar de pedra e cal apesar de logo de seguida ter garantido que o partido vai reunir os seus órgãos políticos par fazer a avaliação, admitiu que não será empecilho: “Nunca sou nem serei um problema para o PS. Nunca faltei quando foi preciso”, disse.


O líder socialista quis assim arrumar a parte interna. Mas no piso de cima apressou-se a falar Álvaro Beleza a pedir que o “partido tem de fazer uma forte reflexão e uma clarificação em relação ao que aconteceu” através de um congresso extraordinário e entretanto o Público dava conta da intenção de vários socialistas de exigirem essa reunião magna a Costa.

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