terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

CARCAVELOS: “CONSTRUÇÃO É UM EXAGERO E UMA BRUTALIDADE” Projeto prevê prédios de 7 andares junto à praia.



CARCAVELOS: “CONSTRUÇÃO É UM EXAGERO E UMA BRUTALIDADE”
Projeto prevê prédios de 7 andares junto à praia.
PUBLICADO A 7 DE FEVEREIRO DE 2014
Por Patrícia Tadeia in SURFTOTAL
Muitos são aqueles que se têm imposto contra o Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos Sul. O assunto tem estado na ordem do dia entre os representantes do movimento de cidadãos Fórum Carcavelos, mas não só. Este é um tema que preocupa moradores, surfistas, e que vai estar hoje em discussão, às 21h, no salão dos Bombeiros da Parede. A sessão vai contar com a participação dos movimentos cívicos e de todos os interessados na discussão do Plano.

A autarquia de Cascais prevê assim a construção de uma urbanização com um máximo de 7 andares, e com 930 fogos, um hotel com 134 quartos e outros serviços. Para a autarquia, o plano traz investimento, emprego, zonas verdes recuperadas, equipamentos sociais e um parque estacionamento.

Sobre o projeto, o movimento de cidadãos Fórum Carcavelos fala em “construção excessiva junto à praia”, acrescentando que existem na zona casas que estão desabitadas. Acusam ainda a câmara de Cascais de tentar aprovar “um atentado urbanístico”.

CONSTRUÇÃO “TREMENDA” E EXAGERADA

“A massa de construção é tremenda, um exagero e uma brutalidade à luz dos conceitos normais de desenvolvimento e esse é o problema mais transversal à comunidade”, diz em entrevista à SurfTotal, Pedro Morais Cardoso.

“No que diz respeito à praia e frente de praia pensamos que a construção em cortina e em altura de prédios e hotéis pode afetar definitivamente esta zona. Sabemos que a costa está a recuar, as notícias nestas semanas são expressivas nesse capítulo com Esposende, Ílhavo e a Costa da Caparica a serem os exemplos mais dramáticos desse recuo! Com este tipo de construção aqui em Carcavelos os problemas vão acelerar de forma definitiva e a praia que está já nesta altura muito reduzida vai certamente ficar pior ou mesmo desaparecer como em outros pontos do país”, acrescenta o local.

Pedro aponta ainda “problemas de inconformidade com os parâmetros legais em vigor”. “Diversas entidades apresentaram reservas fortíssimas a este projecto, existem violações de todos o género e que são graves atropelos ao bem comum ou à segurança das populações”, diz, exemplificando. “Dou o exemplo da saída da ribeira de Sassoeiros que deveria nesta intervenção ser redirecionada para sair voltada a Sueste (em direção ao Rio Tejo) por oposição à sua posição atual e que em caso de risco de cheias graves ou tsunami pode ser decisiva no primeiro impacto”, diz, explicando que, ao mudar a posição da ribeira seria impossível a construção do dito hotel previsto no plano.

Embora não pertença formalmente ao Fórum, Pedro Morais Cardoso afirma que se revê nas suas contestações. “São um conjunto de gente muitíssimo culta e com um nível de instrução altíssimo! Os problemas que o Fórum vê neste projeto são imensos e estão relacionados com História incrível deste terreno onde inclusive existem elementos em classificação pelo IPAR e locais de escavação com interesse arqueológico”, explica.

O movimento de cidadãos contesta ainda a existência de um complexo de torres altas e centros comerciais no plano. “Claramente, pelo que se percebe, a vila vai ficar com uma massa suburbana e disforme completamente saturada e sob pressão demográfica. Para quem vive na Costa do Sol este tipo de lógica que parece ser o estilo deste Presidente de Câmara é um verdadeiro pesadelo”, diz ainda. “A Linha tem uma vida muito própria e uma comunidade que vive com certos parâmetros de convívio, de mobilidade, de segurança e etc. Isto vai no sentido oposto! Isto já foi tentado na Tapada das Mercês, no Cacém e em Massamá, por exemplo, e os resultados parecem não ter sido os melhores”, continua.

UMA HISTÓRIA QUE SE REPETE
O Fórum defende assim uma re-qualificação do espaço da Quinta, mas sem alterações de altura dos prédios. Até porque, esta não é a primeira vez que lidam com este plano. Isto porque os proprietários dos terrenos em causa pedem uma indemnização à câmara de 264 milhões de euros, devido a um projeto aprovado para o local há dezenas de anos que não chegou a ser edificado. Esse mesmo projeto, que data dos anos 50, foi na altura contestado pelos cidadãos e a construção acabou por não avançar.

“A população de Cascais já teve isto, já teve o José Judas [ex-presidente da autarquia] que usava este modelo de desenvolvimento e foi uma catástrofe. O sentimento que começa a emergir é que este elenco vai no mesmo sentido, para todos nós isto é um retrocesso enorme e um balde de água fria, uma desilusão profunda e sobretudo é preocupante, temos de meter mãos à obra e mostrar a esta malta que não é por aí, não queremos isto para Cascais”, acrescenta Pedro Morais Cardoso.

CONTACTOS COM A CÂMARA DE CASCAIS
Sobre um possível contacto com a câmara, a mesma fonte diz: “A Câmara não tem muita permeabilidade como sabes, um cidadão não consegue entrar numa Câmara e falar com alguém!”. “Mas ouvimos as ideias do Sr. Carlos Carreiras nas discussões públicas e o atual presidente está convencido que quando isto avançar vai ser coroado como o homem que revolucionou o concelho e trouxe novas centralidades à região! Está completamente imbuído da ideia que esta é a SUA solução e a sua forma de governar os destinos do Concelho! Construir é a palavra de ordem na Câmara!”, diz ainda Pedro Morais Cardoso.

“A Câmara inclusive diz que não reconhece na população que está alarmada representatividade, foi dito textualmente isto na última discussão pública, em Cascais, o mês passado e pelo Sr. Carlos Carreiras!”, explica. “E existe consistência nisto, a Câmara prevê privatizar toda a frente marítima, além deste despropósito na quinta está já aprovada a construção da Universidade Nova nos terrenos em frente do forte, um Hotel previsto para o espaço antigo do MUSA em frente à Pastorinha e ao lado do antigo Hospital José de Almeida mais um Hotel. Ou seja esta zona vai mesmo capitular se a população não fizer alguma coisa”, avança.

Segundo Pedro “estas investidas dos privados sempre existiram, só mudou uma coisa. A Câmara nunca quis estes projetos e sempre que a população se manifestava e tentava travar a Câmara rejubilava e travava o processo! Isso foi a única coisa que mudou verdadeiramente. Hoje a Câmara quer isto, não quer outra coisa, quer este projeto e quer que Cascais siga este rumo”. Assim, e falando pela população local, Pedro garante que esta não vai baixar os braços.

Entretanto, e contactada pela SurfTotal sobre à petição online contra a alterações do plano e que intitula o projeto de “lóbi do betão” e “jogada urbanística”, a autarquia reagiu dizendo: “A Câmara Municipal desconhece a iniciativa que refere não podendo por isso comentar. Recorde-se, contudo, que as sessões de discussão pública foram amplamente participadas num período de tempo que duplicou os prazos previstos na Lei.”

CAIXA

“Não existe diferença entre surfistas e moradores. Os moradores fazem surf. Ponto! Ou fazem surf, ou são país de surfistas, ou são irmãos de surfistas não existe essa diferença. Claro que existem surfistas aqui na zona que se destacam mais na media especializada e durante os eventos e etc, mas também existem surfistas arquitectos, comerciantes, cientistas, economistas e que nestes problemas se envolvem de forma determinante, não por causa do surf mas porque um projecto deste destrói o nosso modo de vida, modo de vida esse que incluí surfar regularmente!”, Pedro Morais Cardoso

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