Socialistas versão poucochinho
Por Ana Sá Lopes
publicado em 14 Fev 2014 in (jornal) i online
O debate sobre a falência dos
socialistas europeus, ninguém no PS o quer fazer
Ontem, na "Quadratura do Círculo", António Costa
intimava Seguro a ter um resultado excelente nas europeias - a pena de
"ganhar poucochinho" seria a de nas legislativas fazer "uma
coligação poucochinha e fraquinha". Nada mais certo, mas a grande resposta
aos problemas de António Costa veio do militante do CDS António Lobo Xavier:
"Quem partilha estas ideias tem de fazer um pouco mais do que agitar-se em
vésperas de eleições e dizer que o secretário-geral não presta. Faz parte dos
deveres de militância assumir uma ruptura leal e franca." Esta é a magna
questão.
Há nesta história toda do "posicionamento" do PS
uma sucessão de "poucochinhos" que não irão contribuir um avo para
uma mudança de políticas que se impõe. O consenso sobre a fraqueza da liderança
de António José Seguro não é difícil e é verdade que o processo das europeias é
mais um contributo para acentuar a fragilidade. Mas os chamados
"críticos" nem têm uma alternativa consistente a apresentar (quem?,
outra vez o Costa?) nem sequer se entendem num programa mínimo entre si - o
maralhal que se juntou para levar Costa em ombros, e falhou, ia dos elementos
mais à esquerda aos mais à direita dentro do PS, entre os quais há divergências
profundas em várias matérias. Era um entendimento forjado numa pessoa, mas não
num programa. Essa mixórdia de temáticas acabou tristemente num abraço cínico e
num acordo de treta entre Seguro e Costa.
Agora junta-se ao coro José Sócrates, que pressiona Seguro
quanto ao "posicionamento" do PS para estas eleições, revela desilusão
com Hollande e diaboliza Merkel - que foi a primeira pessoa que teve direito a
ver o seu PEC IV, já que em Portugal foram poucos os escolhidos. Estamos em
plena história da carochinha: a submissão à senhora Merkel começou com
Sócrates, apesar de Passos pôr mais enlevo na coisa. E veja-se como Merkel se
coligou com os socialistas alemães sem que a política europeia mude um
milímetro. Mesmo que o senhor Schulz venha a ser eleito presidente da Comissão
Europeia, o que acontecerá se os socialistas tiverem muitos votos em Maio,
sê-lo-á com o beneplácito de Merkel. E como os socialistas deram as mãos à
direita para instituir na Europa o Tratado Orçamental - um colete-de-forças que
ilegaliza as políticas socialistas -, é difícil que o bom do Schulz faça muito melhor
que o José Barroso. Seguro é mau, mas toda esta discussão é
"poucochinha". A outra, a que verdadeiramente interessa - a da
falência dos socialistas europeus -, o partido não a quer fazer.
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