Ukraine
What the West Doesn’t
Understand About Ukraine’s Politics
Behind the divisions in today’s Ukraine is a post-Soviet
oligarchy rooted in the industrial East
By Andrey Kurkov Feb. 26, 2014 / TIME / http://world.time.com/2014/02/26/ukraine-donbass-yanukovych-kurkov/
American or European news broadcasts about Ukraine,
sometimes even those involving specialists and political scientists, tend to
include phrases like “In Ukraine there is a struggle between the Eastern
pro-Russian part and the Western pro-European part of the country.” People
hearing this could be forgiven for thinking Ukraine consists only of two
regions: the West and the East, animated simply by their pro-European or
pro-Russian views.
This cliché is nothing new and, indeed, 20 years ago it was
a reasonably accurate picture of things. The far east of Ukraine had more
affection for Moscow than it had for Kiev, while the West had no love for
either Kiev or Moscow, considering itself self-sufficient and part of Europe.
Western Ukraine, once part of the Austro-Hungarian Empire and Poland, became
part of the USSR only in 1939, unlike the East, which had long been a key
source of Soviet industrial wealth, the site of mines, metal-working plants and
barrack towns for the workers and their families who had come from all over the
Soviet Union. There, almost all significant posts at the provincial, district
and town levels were given to men and women from Russia or Soviet Ukraine.
In 1991, Ukraine celebrated the unexpected gift of
independence. But in the East—in the coal-rich Donbass region—there was a
frightened hush. While western Ukraine and other areas of the country happily
started developing small businesses and embraced Ukrainian statehood, the East
followed the model of post-Soviet Russia, with a criminal “carving up” of the
region’s factories and the development of its own school of oligarchs driven
first by a desire to keep Donbass for the use of the Donbass elite alone. In
2004, this elite decided to put forward its own candidate in the presidential
election: Viktor Yanukovych.
Although his initial ascent to power was interrupted by the
Orange Revolution, Donbass’s representative became the master of the whole
country in 2010, and he repeated the policies of 1939.
Russian-speaking inhabitants of Donetsk, the largest city in
Donbass, and surrounding mining towns were sent out to be chiefs of police,
customs officials and heads of the justice system throughout the country. In
Donetsk, a new joke went around: “The people of Donetsk are afraid to go out at
night for fear of being grabbed and sent off to be a boss in some other
region.” But the inhabitants of many other areas of Ukraine could find nothing
to laugh at in the tough, unsmiling manner of their new bosses from Donbass.
The result was a complex national political picture—more
complex than the simple division between East and West—and one that, I believe,
defines Ukraine today.
Donbass became the shop floor and counting house of
Yanukovych’s Party of Regions, a place for coal mining, metal smelting and
unimaginably corrupt schemes that allowed state funds and taxes from the
region’s businesses to disappear into thin air. Civil society was strangled,
and this densely populated area couldn’t produce a single public figure of
national importance, not one writer who engaged with the most pressing issues
of the day.
The central and western regions had less money but, free
from an oligarchy, more ideas and discussion. They became the
arts-and-humanities department of the country, with a more active civil society
and nonpolitical public figures.
Then there was Crimea, the only area of the country with a
large percentage of pro-Russian inhabitants, though there also exists in this
region a fast increasing Crimean Tatar population, which is generally
anti-Russian. To my mind, the central-southern area and Zakarpattia area make
up another region, the commercial region, with seaports like Odessa and
Mykolayiv and the tradition of cross-border commerce with Romania, Hungary and
Slovakia. There you notice more ideas and more discussion; they too have no
time for Donbass.
With these forces ranged against him, Yanukovych finally
fled from Kiev. But it is too early for the opposition to celebrate victory.
The surviving Donbass elite will try to reassert itself on the national arena
once it has caught its breath.
Kurkov is a Ukrainian writer and the author of the
critically acclaimed novel Death and the Penguin
Revoluções na Ucrânia
25 Fevereiro 2014, 19:30 por João Carlos Barradas in Jornal
de Negócios online
A UE não tem condições para
se substituir financeiramente à assistência russa e juntamente com o FMI prover
os 35 mil milhões de dólares que o novo ministro das Finanças, Iuri Kobolov,
alega precisar até final de 2015.
A tomada do poder em Kiev por uma frente política
heterogénea, congregando nacionalistas ucranianos do centro-esquerda à
extrema-direita, acentuou a contestação identitária nas regiões russófonas do
Leste e Sul.
A União Europeia – muito em particular a Polónia e a
Alemanha – e a Rússia estão, por sua vez, de facto à compita pela influência
num estado em que pela segunda vez desde 2004 o poder institucional se
desagregou ante protestos de rua.
Viktor Yanukovitch incapaz de reprimir as manifestações
perdeu o apoio dos poderes regionais e das oligarquias que o sustentaram desde
a eleição presidencial de 2010, designadamente dos multimilionários Rinat
Akhmetov e Dmitri Firtash, e finou-se numa fuga desnorteada.
Confrontos em cascada
A queda de Yanukovitch custará caro às figuras mais expostas
da cleptocracia presidencial, como o seu filho Oleksandr e o testa-de-ferro
Sergei Kurschenko, mas presentemente não há condições para a emergência de um
poder forte que impunha uma recomposição de interesses a partir do aparelho de
estado sacrificando os oligarcas do pós-sovietismo a novos cliques conforme
ocorreu na Rússia com Vladimir Putin.
Os grupos económico-financeiros mais ligados aos sectores
mineiros, metalúrgicos e da indústria pesada, optam preferencialmente pela
manutenção de um estado independente e unitário em vez de apoiarem movimentos
separatistas que levariam as regiões russófonas a cingir-se à tutela de
Moscovo.
A Ucrânia apesar da dependência energética de Moscovo não
pode, por outro lado, prescindir da UE que é parceiro comercial com peso
equivalente à Rússia e foco de influência nas regiões Ocidentais ligadas
historicamente a Polónia e ao antigo Império Austro-Húngaro.
Políticos e empresários já testados em lutas pelo poder,
como Yulia Timoshenko ou Petro Poroshenko, estão de novo na liça política, mas
a sua capacidade de mobilização é limitada pela imagem generalizada de
corrupção que sucessivos governos e presidentes têm deixado.
A pouco entusiástica recepção a Timoshenko na Praça da
Independência de Kiev no sábado da libertação da antiga primeira-ministra não
obstou a que o seu braço-direito Oleksandr Turchinov fosse eleito presidente do
Parlamento e chefe de estado interino, mas as relações de forças entre as
diversas facções políticas impedem a emergência de líderes indiscutíveis.
A forte e decisiva mobilização de grupos de extrema-direita
anti-russos e anti-semitas e a influência de "Liberdade", liderado
por Oleh Tianibok e quarto maior partido parlamentar, são factores
condicionantes na formação de um governo de transição e "casus belli"
ideológico para o Kremlin agitar a ameaça nazi-fascista.
A tensão russo-ucraniana
O "Partido das Regiões" renegou Yanukovitch, viu
desertarem 77 deputados, perdeu a maioria, mantendo 130 mandatos, sendo ainda a
maior bancada entre os 450 deputados, mas foi impotente para impedir que o
Parlamento reinvestido de poderes reforçados pelo retorno à constituição de
2004 agravasse a tensão étnico-político-regional com um ataque directo à sua
base de apoio.
A "Rada" revogou a lei de Julho de 2012 que
permitia o estatuto de "língua regional" aos idiomas falados por pelo
menos 10% da população de uma região, caso do russo em áreas do Sul e Leste da
Ucrânia além do romeno e húngaro em localidades da Transcarpátia (antiga
Ruténia da Checoslováquia transferida para a URSS em 1945).
A reimposição do ucraniano como língua única oficial a todos
os níveis da administração é tida como uma afronta pelos russófonos (cerca de
30% da população) e surge como mais um factor de mobilização para os
contestatários da frente no poder em Kiev.
A regionalização ou federalização são agora apresentadas
como alternativas a um centralismo que favoreça determinado grupo
etno-linguístico e nessa lógica o governador da região russófona de Kharkiv
Mikahilo Dobkin anunciou a sua candidatura às eleições presidenciais de 25 de
Maio juntando-se a Vitali Klitsckho um dos líderes do protestos mais cultivados
pela UE.
Em Sevastopol, porto com 350 mil habitantes, o russo Aleksei
Chali foi, entretanto, eleito presidente da câmara e por toda a península da
Crimeia (território russo cedido por Nikita Krushov à Ucrânia em 1954) a maioria
russa manifesta oposição aos novos poderes em Kiev.
Uma Primavera com a faca na
garganta
O Kremlin, que negociou a permanência em Sevastopol da sua
esquadra do Mar Negro até 2024, só em último recurso favorecerá uma partilha da
Ucrânia e desde já, contestando a legitimidade das novas autoridades, congelou
o apoio financeiro a Kiev para pagamento de serviço de dívida e aquisição de
gás natural (17 mil milhões de dólares dos quais 5 mil milhões já desembolsados
na sequência da recusa de Yanukovitch em assinar em Novembro um "Acordo de
Parceria" com a UE).
A UE não tem condições para se substituir financeiramente à
assistência russa e juntamente com o FMI prover os 35 mil milhões de dólares
que o novo ministro das finanças, Iuri Kobolov, alega precisar até final de
2015, sem considerar sequer uma reestruturação da dívida de Kiev que terá de
ser negociada com Moscovo.
A eliminação de subsídios, designadamente a combustíveis,
desvalorização do hrivnia, cortes para conter um défice orçamental que rondará
os 7% a 8% do PIB, revisão das leis de concorrência e sistema fiscal, são
algumas das obrigações a que terá de se comprometer um governo em Kiev para
obter financiamentos em caso de ruptura com Moscovo.
As fúrias que assolam a Ucrânia, a recusa do Kremlin em aceitar
um governo em Kiev ideologicamente desafecto e oposto a uma "União
Euroasiática" aduaneira e económica pautada pelos interesses de Moscovo,
dificilmente permitirão a eleição de uma maioria suficientemente coerente e com
abrangência nacional para impor reformas socialmente muito gravosas.
Com as presidenciais de Maio, a que se juntarão eleições
para a câmara de Kiev, seguindo-se provavelmente legislativas antecipadas para
substituir a "Rada" votada em Outubro de 2012, se começará a perceber
se a Ucrânia tem condições para subsistir como estado unitário ou se a secessão
é alternativa realista e até lá resta tentar escapar à bancarrota.
Jornalista
barradas.joaocarlos@gmail.com
http://maneatsemper.blogspot.pt/
Sem comentários:
Enviar um comentário