quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

What the West Doesn’t Understand About Ukraine’s Politics / TIME. Revoluções na Ucrânia / JN


Ukraine

What the West Doesn’t Understand About Ukraine’s Politics

Behind the divisions in today’s Ukraine is a post-Soviet oligarchy rooted in the industrial East

American or European news broadcasts about Ukraine, sometimes even those involving specialists and political scientists, tend to include phrases like “In Ukraine there is a struggle between the Eastern pro-Russian part and the Western pro-European part of the country.” People hearing this could be forgiven for thinking Ukraine consists only of two regions: the West and the East, animated simply by their pro-European or pro-Russian views.

This cliché is nothing new and, indeed, 20 years ago it was a reasonably accurate picture of things. The far east of Ukraine had more affection for Moscow than it had for Kiev, while the West had no love for either Kiev or Moscow, considering itself self-sufficient and part of Europe. Western Ukraine, once part of the Austro-Hungarian Empire and Poland, became part of the USSR only in 1939, unlike the East, which had long been a key source of Soviet industrial wealth, the site of mines, metal-working plants and barrack towns for the workers and their families who had come from all over the Soviet Union. There, almost all significant posts at the provincial, district and town levels were given to men and women from Russia or Soviet Ukraine.

In 1991, Ukraine celebrated the unexpected gift of independence. But in the East—in the coal-rich Donbass region—there was a frightened hush. While western Ukraine and other areas of the country happily started developing small businesses and embraced Ukrainian statehood, the East followed the model of post-Soviet Russia, with a criminal “carving up” of the region’s factories and the development of its own school of oligarchs driven first by a desire to keep Donbass for the use of the Donbass elite alone. In 2004, this elite decided to put forward its own candidate in the presidential election: Viktor Yanukovych.

Although his initial ascent to power was interrupted by the Orange Revolution, Donbass’s representative became the master of the whole country in 2010, and he repeated the policies of 1939.

Russian-speaking inhabitants of Donetsk, the largest city in Donbass, and surrounding mining towns were sent out to be chiefs of police, customs officials and heads of the justice system throughout the country. In Donetsk, a new joke went around: “The people of Donetsk are afraid to go out at night for fear of being grabbed and sent off to be a boss in some other region.” But the inhabitants of many other areas of Ukraine could find nothing to laugh at in the tough, unsmiling manner of their new bosses from Donbass.

The result was a complex national political picture—more complex than the simple division between East and West—and one that, I believe, defines Ukraine today.

Donbass became the shop floor and counting house of Yanukovych’s Party of Regions, a place for coal mining, metal smelting and unimaginably corrupt schemes that allowed state funds and taxes from the region’s businesses to disappear into thin air. Civil society was strangled, and this densely populated area couldn’t produce a single public figure of national importance, not one writer who engaged with the most pressing issues of the day.

The central and western regions had less money but, free from an oligarchy, more ideas and discussion. They became the arts-and-humanities department of the country, with a more active civil society and nonpolitical public figures.

Then there was Crimea, the only area of the country with a large percentage of pro-Russian inhabitants, though there also exists in this region a fast increasing Crimean Tatar population, which is generally anti-Russian. To my mind, the central-southern area and Zakarpattia area make up another region, the commercial region, with seaports like Odessa and Mykolayiv and the tradition of cross-border commerce with Romania, Hungary and Slovakia. There you notice more ideas and more discussion; they too have no time for Donbass.

With these forces ranged against him, Yanukovych finally fled from Kiev. But it is too early for the opposition to celebrate victory. The surviving Donbass elite will try to reassert itself on the national arena once it has caught its breath.

Kurkov is a Ukrainian writer and the author of the critically acclaimed novel Death and the Penguin




Revoluções na Ucrânia
25 Fevereiro 2014, 19:30 por João Carlos Barradas in Jornal de Negócios online

A UE não tem condições para se substituir financeiramente à assistência russa e juntamente com o FMI prover os 35 mil milhões de dólares que o novo ministro das Finanças, Iuri Kobolov, alega precisar até final de 2015.

A tomada do poder em Kiev por uma frente política heterogénea, congregando nacionalistas ucranianos do centro-esquerda à extrema-direita, acentuou a contestação identitária nas regiões russófonas do Leste e Sul.

A União Europeia – muito em particular a Polónia e a Alemanha – e a Rússia estão, por sua vez, de facto à compita pela influência num estado em que pela segunda vez desde 2004 o poder institucional se desagregou ante protestos de rua.

Viktor Yanukovitch incapaz de reprimir as manifestações perdeu o apoio dos poderes regionais e das oligarquias que o sustentaram desde a eleição presidencial de 2010, designadamente dos multimilionários Rinat Akhmetov e Dmitri Firtash, e finou-se numa fuga desnorteada.

Confrontos em cascada

A queda de Yanukovitch custará caro às figuras mais expostas da cleptocracia presidencial, como o seu filho Oleksandr e o testa-de-ferro Sergei Kurschenko, mas presentemente não há condições para a emergência de um poder forte que impunha uma recomposição de interesses a partir do aparelho de estado sacrificando os oligarcas do pós-sovietismo a novos cliques conforme ocorreu na Rússia com Vladimir Putin.

Os grupos económico-financeiros mais ligados aos sectores mineiros, metalúrgicos e da indústria pesada, optam preferencialmente pela manutenção de um estado independente e unitário em vez de apoiarem movimentos separatistas que levariam as regiões russófonas a cingir-se à tutela de Moscovo.

A Ucrânia apesar da dependência energética de Moscovo não pode, por outro lado, prescindir da UE que é parceiro comercial com peso equivalente à Rússia e foco de influência nas regiões Ocidentais ligadas historicamente a Polónia e ao antigo Império Austro-Húngaro.

Políticos e empresários já testados em lutas pelo poder, como Yulia Timoshenko ou Petro Poroshenko, estão de novo na liça política, mas a sua capacidade de mobilização é limitada pela imagem generalizada de corrupção que sucessivos governos e presidentes têm deixado.

A pouco entusiástica recepção a Timoshenko na Praça da Independência de Kiev no sábado da libertação da antiga primeira-ministra não obstou a que o seu braço-direito Oleksandr Turchinov fosse eleito presidente do Parlamento e chefe de estado interino, mas as relações de forças entre as diversas facções políticas impedem a emergência de líderes indiscutíveis.

A forte e decisiva mobilização de grupos de extrema-direita anti-russos e anti-semitas e a influência de "Liberdade", liderado por Oleh Tianibok e quarto maior partido parlamentar, são factores condicionantes na formação de um governo de transição e "casus belli" ideológico para o Kremlin agitar a ameaça nazi-fascista.

A tensão russo-ucraniana

O "Partido das Regiões" renegou Yanukovitch, viu desertarem 77 deputados, perdeu a maioria, mantendo 130 mandatos, sendo ainda a maior bancada entre os 450 deputados, mas foi impotente para impedir que o Parlamento reinvestido de poderes reforçados pelo retorno à constituição de 2004 agravasse a tensão étnico-político-regional com um ataque directo à sua base de apoio.

A "Rada" revogou a lei de Julho de 2012 que permitia o estatuto de "língua regional" aos idiomas falados por pelo menos 10% da população de uma região, caso do russo em áreas do Sul e Leste da Ucrânia além do romeno e húngaro em localidades da Transcarpátia (antiga Ruténia da Checoslováquia transferida para a URSS em 1945).

A reimposição do ucraniano como língua única oficial a todos os níveis da administração é tida como uma afronta pelos russófonos (cerca de 30% da população) e surge como mais um factor de mobilização para os contestatários da frente no poder em Kiev.

A regionalização ou federalização são agora apresentadas como alternativas a um centralismo que favoreça determinado grupo etno-linguístico e nessa lógica o governador da região russófona de Kharkiv Mikahilo Dobkin anunciou a sua candidatura às eleições presidenciais de 25 de Maio juntando-se a Vitali Klitsckho um dos líderes do protestos mais cultivados pela UE.

Em Sevastopol, porto com 350 mil habitantes, o russo Aleksei Chali foi, entretanto, eleito presidente da câmara e por toda a península da Crimeia (território russo cedido por Nikita Krushov à Ucrânia em 1954) a maioria russa manifesta oposição aos novos poderes em Kiev.

Uma Primavera com a faca na garganta

O Kremlin, que negociou a permanência em Sevastopol da sua esquadra do Mar Negro até 2024, só em último recurso favorecerá uma partilha da Ucrânia e desde já, contestando a legitimidade das novas autoridades, congelou o apoio financeiro a Kiev para pagamento de serviço de dívida e aquisição de gás natural (17 mil milhões de dólares dos quais 5 mil milhões já desembolsados na sequência da recusa de Yanukovitch em assinar em Novembro um "Acordo de Parceria" com a UE).

A UE não tem condições para se substituir financeiramente à assistência russa e juntamente com o FMI prover os 35 mil milhões de dólares que o novo ministro das finanças, Iuri Kobolov, alega precisar até final de 2015, sem considerar sequer uma reestruturação da dívida de Kiev que terá de ser negociada com Moscovo.

A eliminação de subsídios, designadamente a combustíveis, desvalorização do hrivnia, cortes para conter um défice orçamental que rondará os 7% a 8% do PIB, revisão das leis de concorrência e sistema fiscal, são algumas das obrigações a que terá de se comprometer um governo em Kiev para obter financiamentos em caso de ruptura com Moscovo.

As fúrias que assolam a Ucrânia, a recusa do Kremlin em aceitar um governo em Kiev ideologicamente desafecto e oposto a uma "União Euroasiática" aduaneira e económica pautada pelos interesses de Moscovo, dificilmente permitirão a eleição de uma maioria suficientemente coerente e com abrangência nacional para impor reformas socialmente muito gravosas.

Com as presidenciais de Maio, a que se juntarão eleições para a câmara de Kiev, seguindo-se provavelmente legislativas antecipadas para substituir a "Rada" votada em Outubro de 2012, se começará a perceber se a Ucrânia tem condições para subsistir como estado unitário ou se a secessão é alternativa realista e até lá resta tentar escapar à bancarrota.

Jornalista

barradas.joaocarlos@gmail.com


http://maneatsemper.blogspot.pt/


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