Merkel quer discutir rede europeia de comunicações
para fugir aos EUA
MARIA JOÃO GUIMARÃES 16/02/2014 - in Público
Algumas agências alemãs já
não confiam no email. Informação sensível viaja em papel, e a pé.
Uma rede de comunicações europeia para fugir aos olhares dos
espiões norte-americanos – a chanceler alemã Angela Merkel quer discutir esta
ideia com o Presidente francês, François Hollande, quando os dois se
encontrarem esta quarta-feira.
As revelações sobre o grau de espionagem dos EUA através da
Agência Nacional de Segurança (NSA) não param de surgir. Na Alemanha, sabe-se
que não só espiaram o telemóvel de Merkel (ainda antes de ocupar a chefia do
Governo) mas também o do seu antecessor, Gerhard Schröder.
No seu podcast semanal, Merkel notou que empresas como a
Google ou Facebook têm as suas operações com base em países com pouca protecção
de dados, mas continuam activas noutros – como a Alemanha – com um elevado grau
de protecção de dados.
A Alemanha – onde, por causa da apertada vigilância no tempo
do nazismo e também da ex-RDA, há uma grande desconfiança sobre recolha de
dados e muita preocupação com a privacidade – impôs alterações na política de
privacidade quer à Google quer ao Facebook para respeitarem a lei alemã.
“Vamos falar com a França sobre como poderemos ter um bom
nível de protecção de dados”, disse Merkel. “Sobretudo, vamos falar de
fornecedores que dêem segurança aos nossos cidadãos, para que não tenhamos de
enviar emails e outra informação para o outro lado do Atlântico.”
O gabinete de Hollande confirmou que a ideia já tinha sido
apresentada e que França concorda com ela. “É importante que tomemos juntos a
iniciativa”, disse um responsável francês citado pela Deutsche Welle.
Consumidores querem informação a salvo
Várias agências alemãs mudaram já o seu modo de trabalhar
após as informações sobre a espionagem da NSA reveladas por Edward
Snowden. “Quando a versão alemã do FBI precisa
de partilhar informação sensível, entrega-a via papel”, diz o correspondente em
Berlim do grupo norte-americano de imprensa McClatchy, Matthew Schofield. “Há
um ano, teriam confiado na segurança do email.”
Agora, a informação viaja a pé, disse Peter Henzler, o
"número dois" da polícia de investigação criminal e segurança interna
da Alemanha, falando num painel sobre o modo de contrariar a vigilância
norte-americana.
Florian Glatzner, responsável da agência de protecção dos
consumidores, disse que está a receber muitas perguntas sobre como podem
assegurar que as suas comunicações e dados estejam a salvo da espionagem
electrónica da NSA.
Inquéritos deram conta de mudanças no comportamento face às
redes sociais: 32% disseram ter deixado o Facebook ou reduzido muito o tempo
que passam na rede social por medo de serem espiados.
A ideia de ter empresas alemães a tomar conta dos dados não
era bem vista, comentou Daniel Castro, analista da Information Technology &
Innovation Foundation em Washington. Mas isto era o ano passado. “As empresas
alemãs não queriam um produto alemão para as ajudar num mercado global, queriam
o melhor produto [e esse era americano]. Mas ainda que a maioria continue a
achar que é má ideia, estão a aceitá-la como uma ideia necessária”.
Thomas Kremer, membro da comissão de protecção de dados da
Deutsche Telekom, comentou: “O que quer que achemos de Edward Snowden, ele criou
uma consciência sobre a segurança na Internet e devíamos estar gratos por isso.”
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