OPINIÃO
A Europa, uma união de solidariedades
THIERRY REPENTIN e MICHAEL ROTH 24/02/2014 - 05:56 / PÚBLICO
Devemos voltar a dar sentido e ânimo à Europa das
solidariedades. A solidariedade é, ao mesmo tempo, um ideal e um valor, um
método e políticas.
A Europa atravessou, nestes últimos anos uma crise económica
e social profunda. Os Europeus ainda estão a sofrer as consequências disso. A
taxa de desemprego, especialmente dos jovens, atinge níveis insuportáveis em
bastantes países da União. A dúvida instalou-se. Os movimentos populistas
incitam muitos dos nossos concidadãos. A Europa é apontada, erradamente, como
bode expiatório de todos os nossos males.
Como ministros dos assuntos europeus e encarregados da
cooperação entre a Alemanha e a França, não nos resignamos. Bem pelo contrário.
A Europa não é o problema, é antes uma das soluções. Precisamos de uma Europa
mais forte, mais solidária, mais próspera e mais justa.
Devemos voltar a dar sentido e ânimo à Europa das
solidariedades. A solidariedade é, ao mesmo tempo, um ideal e um valor, um
método e políticas. Devemos agir para consolidar o que faz a originalidade da
Europa, esta ligação inquebrável entre uma união de valores e um modelo de
estado social.
Durante muito tempo, a Europa social foi unicamente um tema
para belos discursos. A sua ambição disfarçava bem a fraqueza das suas
realizações e dos meios que lhe estavam afectos. Agora temos de recuperar o
crescimento em toda a Europa, mas um crescimento solidário que não deixará
ninguém para trás. Estamos comprometidos nesta via, com o pacto de Junho de
2012 que repôs o crescimento e o emprego no centro do projecto europeu, com uma
união bancária para proteger os depositantes e responsabilizar os bancos, com a
inclusão de uma dimensão social na União Económica e Monetária, com o acordo
sobre a deslocalização dos trabalhadores que cria um equilíbrio justo entre
liberdades económicas e direitos sociais fundamentais. A luta contra o
desemprego jovem traduziu-se por uma mobilização pessoal dos chefes de Estado e
de governo assim como pela atribuição, pela primeira vez, de um orçamento de 6 MM de euros em 2014 e 2015
para combater este problema dramático.
Teremos de prosseguir nos próximos meses. Estaremos
empenhados em assegurar uma melhor convergência económica e social. Ficaremos,
naturalmente, muito atentos para que a dimensão social não seja o parente
esquecido da construção europeia. Faremos campanha junto dos nossos parceiros
europeus para a introdução de salários mínimos definidos a nível nacional.
Precisamos de mais ambição para a coerência social e societal.
Nos períodos de crise económica e social, são ainda maiores
os riscos de que se quebrem os valores fundamentais sobre os quais assenta a
sociedade europeia. Devemos defender estes valores sem tréguas porque eles têm
a ver com a própria identidade da Europa. A dignidade humana, a liberdade, a
democracia, a igualdade, o Estado de direito e a universalidade dos direitos do
homem, são o nosso sustentáculo de valores. Sempre que são atacados, é a
confiança dos europeus no seu projecto comum que se deteriora, é a função do
modelo que a Europa exerce junto dos seus vizinhos, tanto a Leste como a Sul,
que se altera. Basta sair da Europa para se compreender a que ponto assim é. Os
que se manifestam na Praça Maïdan, em Kiev, como os que tentam, pondo em risco
a própria vida, atravessar o Mediterrâneo, têm “desejo da Europa”. Os nossos
valores geram aspirações. Esta é também a razão pela qual estamos abertos à
elaboração de um mecanismo político que vise assegurar de forma mais eficaz o
respeito pelos nossos valores no seio da União Europeia, sem enfraquecer os
instrumentos existentes.
A Europa que juntos apoiamos é, ao mesmo tempo, uma Europa
de soluções concretas e uma Europa que nunca renuncia aos seus valores.
Democracia, crescimento e solidariedade, eis o tríptico que entendemos manter
vivo para relançar a Europa, devolver a confiança aos cidadãos e permitir a
cada geração contribuir concretamente, como Europeus convictos, para um mundo
melhor. Este é o sonho europeu que guia a nossa acção.
Secretários-gerais para a cooperação franco-alemã e,
respectivamente, Ministro delegado junto do Ministro dos Negócios Estrangeiros
do governo francês, encarregado dos Assuntos Europeus, e Ministro-adjunto dos
Negócios Estrangeiros do governo alemão, encarregado dos Assuntos Europeus
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