Novo milho OGM será cultivado
na UE apesar da oposição da maioria dos países
António Carneiro, RTP
11 Fev, 2014, 19:56 IN RTP / notícias
Um novo tipo de milho geneticamente modificado vai poder ser
cultivado na União Europeia, apesar da oposição da maioria dos Estados membros
e do Parlamento Europeu. A abstenção de quatro países, entre os quais Portugal,
levou a que os 19 Estados que se opunham à aprovação da cultura não
conseguissem obter a maioria qualificada necessária no Conselho de ministros
dos Assuntos europeus que se realizou em Bruxelas. Ao abrigo das regras em
vigor, a Comissão Europeia será forçada a aprovar a cultura nas próximas 24
horas, apesar de apenas cinco países terem votado a favor.
Anteriormente, o Parlamento Europeu (PE) tinha recomendado
uma rejeição da autorização, por 385 votos a favor, contra 201 e 35 abstenções.
A recomendação do PE não tinha caracter vinculativo e a
França encabeçava o grupo dos países que queriam proibir o cultivo do novo
organismo geneticamente modificado.
Com o apoio da Irlanda, Holanda e Roménia, o campo dos
opositores passou a 19, que reuniam entre si 210 votos. A esperança de
conseguir os 260 votos necessários para uma maioria qualificada desfez-se
quando a Alemanha, Portugal, Bélgica e República Checa anunciaram a decisão de
se absterem.
Cinco países a favor, quatro abstenções, 19 contra
Na prática, a abstenção equivalia a apoiar a posição da
Espanha, Reino Unido, Suécia, Finlândia e Estónia, os únicos cinco países que
eram declaradamente favoráveis à cultura do novo OGM. Sem os 29 votos da
Alemanha e os 12 votos que Portugal, Bélgica e República Checa respetivamente
detinham, o campo dos que defendiam a interdição do cultivo ficou 50 votos
aquém do total necessário.
Segundo o serviço jurídico do Conselho de Estados, "a
regra exige que, se o Conselho não tomar uma decisão, a Comissão Europeia deva
aprovar a cultura nas próximas 24 horas”.
“Não há maioria qualificada contra e a Comissão Europeia tem
de aprovar esta autorização de cultura”, explicou o Comissário Europeu
encarregado da Saúde e da Proteção dos consumidores, Tonio Borg.
"Se não votarem contra ... são a favor"
Tonio Borg, tinha sido muito claro na abertura do debate, ao
convidar os Estados a assumirem as suas responsabilidades: “Se não votarem
contra, significa que são a favor (…) São estas as regras, não fui eu que as
inventei” .
O ministro francês dos Assuntos Europeus, Thierry Repentin,
não escondeu a sua deceção com o fracasso:
“Estamos numa situação insólita em que uma minoria de países
é capaz de impor a sua vontade a uma maioria”, desabafou.
“A algumas semanas das eleições europeias, dar esta
autorização será extremamente perigoso para a imagem da EU e das suas
instituições", comentou Thierry Repentin.
"A pior das decisões no pior momento"
A ministra Húngara dos Assuntos Europeus, Enikő Győri, foi
ainda mais longe:
“É a pior das decisões no pior dos momentos. Temos uma
maioria clara contra esta autorização. Tomar outra decisão só vai servir para
favorecer a subida da extrema-direita”, lamentou Enikő Győri .
O chefe da diplomacia do Luxemburgo, Jean Asselborn, também
reagiu, denunciando o apoio à cultura do novo OGM, por parte de países “onde o
mesmo não pode ser cultivado por causa do frio”.
O porta-voz do grupo DuPont Pionner, que comercializa o
TC1507, mostrou-se satisfeito com a decisão: “Temos pressa em que a Comissão
anuncie a sua decisão, e quanto mais cedo melhor”, disse Jozsef Mate.
A responsabilidade da Comissão Europeia
Algumas das delegações presentes em Bruxelas insistiram em
que a Comissão Europeia tem “a responsabilidade política de levar em linha de
conta a opinião da grande maioria dos Estados”.
No entanto, Tonio Borg lembrou que a Comissão liderada por
Durão Barroso foi obrigada a relançar o dossier do milho TC1507, depois de ter
sido condenada pelo Tribunal de Justiça da União Europeia, pelo que respeita
aos atrasos no processo de autorização, que tinha sido lançado em 2001 e estava
bloqueado desde 2009 pelas divergências entre os Estados membros.
O tribunal tinha dado um prazo de três meses, que
termina esta quarta-feira, para que a
decisão fosse executada.
O Comissário Europeu da Saúde e Proteção dos consumidores
confirmou que a Comissão Europeia “não tem outra escolha senão aprovar a
autorização de cultivo, mas não tem uma data limite para o fazer, desde que a
demora esteja dentro dos limites do razoável”.
Países podem proibir cultivo no seu território
“Se o milho TC1507 for autorizado, os Estados membros terão
a possibilidade de bloquear essa cultura no seu território”, explicou o Comissário.
De resto, é isso mesmo que se prepara para fazer o
parlamento francês, que deverá adotar a 10 de abril uma proposta de lei que
proíbe a cultura de milho transgénico em França, em particular, a do TC 1507.
O TC1507 tem a denominação comercial de Herculex e pertence
ao grupo norte-americano Pionner .
Milho inseticida
Segundo os fabricantes, este milho foi geneticamente
alterado para apresentar resistência a alguns tipos de insetos. Um dos dois
genes adicionados produz uma espécie de inseticida natural, neste caso, uma
proteína que danifica, seletivamente, o intestino médio dos insetos.
Um segundo gene produz uma enzima que ajuda a eliminar a
atividade de determinados herbicidas usados nas culturas.
Recorde-se que quatro organismos geneticamente modificados
obtiveram até agora uma autorização de cultura na UE, mas apenas um está ainda
a ser cultivado: o milho MON810 do grupo americano Monsanto, que pediu a
renovação da autorização. O cultivo dos outros três foi entretanto abandonado.
Tratava-se de dois milhos, (BT176 e T25) e da batata Amflora.
Modified Corn a Step Closer to Approval in Europe
By STEPHEN CASTLEFEB. 11, 2014 / NEW YORK TIMES / http://www.nytimes.com/2014/02/12/business/international/modified-corn-a-step-closer-to-approval-in-europe.html?_r=0
LONDON — After 13 years, six scientific opinions and two
legal challenges, an insect-resistant type of corn is on the verge of being
approved by the European Union. It would be only the third genetically modified
crop to be authorized for cultivation in the 28-nation bloc.
Despite clear and at times impassioned opposition from a
majority of member countries, opponents of genetically modified crops failed on
Tuesday to muster sufficient support to block the authorization under the
European Union’s complex weighted voting system.
That left no legal alternative under European rules but to
push ahead with the approval, according to Tonio Borg, the European health
commissioner, who spoke to reporters after a meeting of ministers in Brussels.
Formal approval requires one more step, the go-ahead of the European
Commission, the bloc’s executive arm, and Mr. Borg refused to give any
timetable for that decision. He is pushing for a mechanism that would allow
individual states to ban the growing of biotech crops, but would permit the
sale of authorized products throughout the Union.
Supporters of genetically modified crops argue that they
offer an unrivaled opportunity to increase yields, but opponents say they pose
unknown health and environmental risks.
Developed jointly by DuPont Pioneer and Dow Chemical, the
modified corn, or maize, called Pioneer 1507, is designed to improve yields by
resisting pests and is used mostly for animal feed.
DuPont Pioneer said in a statement that its product “should
be approved for cultivation without further delay,” adding that the bloc has “a
legal obligation to itself, to its farmers and scientists and to its trade
partners.”
While the development and cultivation of biotech crops have
been embraced by countries like the United States, India and China, Europeans
tend to be highly suspicious. Last month, the European Parliament passed a
resolution against the approval of Pioneer 1507, and during Tuesday’s debate,
ministers from at least 18 nations spoke out against the authorization.
Critics disputed the European Commission’s claim that
scientific opinions proved the corn was safe, and said that voters would not
understand it if the authorization went ahead.
“I don’t know how we could leave this room and justify to
the public the authorization of this G.M.O.,” said Thierry Repentin, the French
minister for European affairs, referring to opinion polls showing opposition to
genetically altered crops.
Germany did not take a position, and Spain and Britain
pushed for approval. Britain’s minister for Europe, David Lidington, argued
that, based on “the best scientific evidence,” he saw “no reason to block it.”
While science and technology move quickly, resistance in the
Union has imposed its own glacial speed on biotech crops. The application for
cultivation of Pioneer 1507
in Europe was submitted in 2001 and was the subject of
six scientific opinions and two legal cases. The product can be imported into the
bloc from other parts of the world, however.
Only one gene-altered crop is being cultivated commercially
in Europe: MON 810, a
grain modified to protect against a pest known as the European corn borer. It
was authorized in 1998 and is cultivated mainly in Spain, with smaller crops in
Portugal, the Czech Republic, Romania and Slovakia.
In 2012, it represented only 1.35 percent of the 9.5 million
hectares, or 23 million acres, of corn cultivated in the European Union, and
0.23 percent of the 55.1 million hectares of genetically modified corn
cultivated worldwide, according to the European Commission.
In 2010,
a genetically modified starch potato, known as Amflora,
was authorized, but it is not now cultivated within the European Union and its
approval was withdrawn after a legal ruling late last year.
Eight countries in
the bloc, including Germany, Italy and Poland, have banned the cultivation of
MON 810 on their lands. France also had a ban until last August, when it was
annulled by the Conseil d’Etat, the nation’s highest court for administrative
matters, and there is continuing political pressure in France to try to
reinstate it.
Mr. Borg, the European health commissioner, wants to create
a consensus by agreeing to new rules that would give member countries a clear
legal right to decide individually whether to ban or restrict cultivation of
products that win Europe-wide approval. That would not prevent the circulation
of authorized crops within the European Union, however.
As well as controlling cultivation, Europe also regulates
genetically modified products that enter its food chain. At present 49 GM products have been
authorized for human food and animal feed including 27 types of corn, eight
cottons, seven soybeans and three oilseed rapes.
The director of European Union agriculture policy for
Greenpeace, Marco Contiero, said the debate on Tuesday highlighted the
widespread opposition to gene-altered products. “If the commission hides behind
procedural rules and authorizes this crop — despite the substantial opposition
— then it is making a big mistake,” he said.
1 comentário:
Caro ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO,
Permita-me felicitá-lo pelo seu artigo. Foi pertinente, interessante e claro. Não vi mais nenhuma publicação sobre a materia, muito embora a importância que tem na vida das gerações futuras. Os Partidos e subsequentemente os Governos deliberam sem discussão publica.E a imprensa...de uma maneira geral...está calada.Bem haja!
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