Filha do rei de Espanha disse 182 vezes “não sei” no
interrogatório do “caso Nóos”
PÚBLICO 20/02/2014 - 15:24 / PÚBLICO
Transcrição da sessão de 8 de
Fevereiro foi divulgada. “Em casa, não falo de negócios com o meu marido.”
A filha do rei de Espanha que foi ouvida pela justiça no dia
8 de Fevereiro, no âmbito do “caso Nóos” – em que o marido é acusado de desvio
de dinheiro público –, respondeu 182 vezes “não sei”, 55 “não me lembro” e 52
“desconheço”.
As contas foram feitas pelo jornal espanhol El País, a
partir da transcrição do interrogatório, divulgado esta quinta-feira. O jornal
diz que 123 vezes Cristina tanbém respondeu “não me parece” – no total,
foram-lhe feitas 400 perguntas durante seis horas e meia, sendo que algumas
tiveram sequência. Por exemplo: “Sabe disto?”, ao que Cristina respondia “Não
sei” ou “Desconheço”.
A transcrição confirma que Cristina de Bórbon se desvincula,
durante toda a sessão, dos negócios do marido, Iñaki Urdangarín, acusado de corrupção
e desvio de fundos públicos através da Fundação Nóos, que dirigia e que, em
teoria, seria uma instituição sem fins lucrativos. A infanta era sócia, com o
marido, da empresa Aizoon, que servia para desviar verbas da Nóos, e foi
chamada para se apurar se cometeu fraudes, entre elas fiscais.
Veja-se uma passagem em que o juiz pergunta se ela ou o
marido receberam algum empréstimo da Aizoon:
“Não sei”.
“Como não sabe?”
“Não sei, vossa senhoria, ele é que tratava de todas as
questões fiscais”.
E foi assim durante mais de cinco horas, comenta o El País.
Cristina de Bórbon diz ao juiz que desconhecia totalmente as
actividades empresariais e financeiras do marido e explica porquê: “Em casa,
não falo de negócios com o meu marido”.
Admitiu que entrou na Aizoon a pedido de Urdangarín e porque
“lhe pareceu bem”. Basicamente, a partir daí, refere outro jornal espanhol, o
El Mundo, nega ter conhecimento de qualquer actividade da empresa de que era
sócia – disse que entrou com dinheiro para a constituição da Aizoon.
Cristina diz mesmo ao juiz que não sabe como funciona uma
sociedade mercantil, como a Aizoon. E ofende-se quando lhe é perguntado se se
sentiu usada: “Não, não me parece. Vossa senhoria quase que me ofende”. A
seguir, o seu advogado, Jesús Silva, fá-la explicar como é o seu dia de dona de
casa – Cristina de Bórbin trabalha em part time na fundação La Caixa –, o que
ela faz com grande detalhe.
Os dois jornais concluem que a infanta, que foi o primeiro
membro directo da monarquia espanhola a ser interrogado num processo judicial,
se limita a dar respostas evasivas. Numa das repostas não-evasivas, confirma
que o marido a trata por “kid” (miúda), conforme está nos emails de Urdangarín
para a mulher que constam do processo.
Em resumo, a infanta espanhola diz que “confiava” totalmente
no marido e que nunca questionou os seus negócios, que desconhecia.
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