Queixa-se do mau tempo? 2015 vai ser muito pior. El
Niño regressa em força
Por Marta Cerqueira
publicado em 19 Fev 2014 in (jornal) i online
Chuvas intensas na América do Sul e meses de seca na
Austrália. El Niño surge no Pacífico mas afecta todo o mundo. Está previsto que
aconteça no final de 2014, mas as consequências podem perdurar mais de um ano
Num momento em que se atravessa um dos invernos mais
chuvosos dos últimos anos, é difícil imaginar o termómetro do calor a bater
recordes. Não será igual para todas as regiões do planeta, mas espera-se que
2015 seja o ano mais quente desde que há registos. As previsões dos cientistas
têm em conta uma média global e o culpado por este provável Verão prolongado é
o fenómeno El Niño, que está de regresso já no final deste ano.
Esta é a primeira vez que a previsão é feita com quase um
ano de antecedência. Um grupo de cientistas alemães publicou um estudo na revista
da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos que revoluciona a forma
convencional de prever o fenómeno, até aqui baseada na leitura das condições do
mar e do vento. "Este novo método assenta num índice que compara a
temperatura do ar na zona onde costuma ocorrer o El Niño e no resto do
Pacífico, permitindo prever o fenómeno um ano antes de acontecer e, desta vez,
com 76% de probabilidade", explicaram ao i Armin Bunde e Josef Ludescher,
autores do estudo.
Apesar de não conseguirem ainda prever a intensidade do
próximo El Niño, os investigadores acreditam que 2015 seja um ano recorde em
temperaturas altas. "O fenómeno está ligado normalmente a cheias na
América Central e do Sul e a secas na Austrália e na Indonésia", explicam.
Além disso, as temperaturas globais poderão subir para níveis bastante mais
elevados que o normal, ultrapassando as de 1998 e 2000, anos de El Niño.
O FENÓMENO O El Niño ocorre quando as águas do Pacífico
ficam anormalmente quentes, provocando efeitos no clima de quase todo o mundo.
O fenómeno foi originalmente reconhecido por pescadores da América do Sul, que
associaram a falta de capturas à ocorrência no mar de temperaturas mais altas
que o normal. Isto acontecia habitualmente por alturas do Natal e final de ano,
e daí a designação, referindo-se ao Menino Jesus.
Apesar de acontecer com um intervalo médio de 3 a 4 anos, João Carlos Santos
considera que existem poucas regras quando se fala de El Niño. O investigador
do Centro de Investigação e de Tecnologias Agro-ambientais e Biológicas da
Universidade de Trás-os-Montes avisa ser "impossível criar fórmulas de
periodicidade e intensidade, até porque só a partir dos anos 80 é que se
começou a ter registos mais pormenorizados da água do mar".
Essa incerteza é ainda mais marcante quando se fala de
efeitos em Portugal. "As previsões para a Europa Ocidental são muito
difíceis, porque existem vários factores meteorológicos que definem o clima,
nomeadamente a oscilação do Atlântico Norte e as correntes de jacto, dois
fenómenos difíceis de prever". João Carlos Santos explica que, para a
Europa, as previsões devem ser feitas apenas com dois a três meses de antecedência
para que se aproximem o mais possível da realidade.
Isabel Trigo, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera,
fala de uma ligeira tendência para que, em anos de El Niño, a península Ibérica
tenha um Outono e Inverno mais chuvosos e, por outro lado, o norte da Europa
tenha mais frio. "Se olharmos para um todo, vemos que é essa a tendência,
mas já aconteceram anos de El Niño com efeitos contrários. Não existem dois El
Niño iguais nem com o mesmo impacto", acrescentou.
A investigadora esclarece que El Niño não tem acontecido com
mais frequência nos últimos anos mas, quando surge, tende a ter uma maior
intensidade. "Mas, por outro lado, só nas últimas décadas é que se começou
a registar os fenómenos com mais cuidado." Apesar de não se ter provado
ainda que as alterações climáticas influenciem a periodicidade e intensidade do
fenómeno, Isabel Trigo garante que "o que acontecer à frequência de El
Niño vai ter consequências no clima a nível global".
A especialista confirma que o impacto de El Niño em 2014,
tal como aconteceu com os últimos, vai afectar a América do Sul com mais
precipitação e, por outro lado, causar um Verão seco na Austrália, podendo
agravar os incêndios florestais que normalmente afectam a região nos meses mais
quentes. Apesar de haver opiniões diversas quanto à intensidade, a especialista
aponta para um El Niño "moderado a intenso, com consequências que se farão
sentir já no final do ano e durante 2015".
“Turistas de visita à América do Sul devem preparar os
guarda-chuvas”
Armin Bunde, Investigador da Universidade Justus-Liebig,
Alemanha
El Niño vai afectar as temperaturas a um nível global? Sim,
2015 pode ser o ano mais quente a um nível geral, apesar de não podermos ainda
prever a intensidade do El Niño.
Quais serão as zonas mais afectadas? Se El Niño tiver uma
forte intensidade, os turistas devem estar preparados com guarda--chuvas se
visitarem a América do Sul, e devem levar uma quantidade extra de água se
preferirem férias na Austrália.
Existem previsões para a Europa? Alguns cientistas acreditam
que um forte El Niño pode levar a invernos rigorosos na Europa. Mas é uma zona
difícil para fazer previsões a longo prazo.
O actual mau tempo que atinge a Europa pode ser associado a
um fenómeno de El Niño ou La Niña? Essa teoria está errada. Não se pode
associar o mau tempo a estes fenómenos, porque não estamos num período de La
Niña.
Como é feita a previsão de um El Niño? Fazemos as medições
de temperatura entre a base onde normalmente ocorre o El Niño e o resto do
Pacífico, assinalando as conexões entre as temperaturas atmosféricas dentro e
fora da bacia do El Niño. O aumento da força dessas conexões no ano antes de
acontecer um ElNiño pode fazer prever o fenómeno.
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