sábado, 1 de junho de 2013

Sinais dos Tempos ...



Ruy de Carvalho. "Não apoio mais políticos. Não quero ter mais desilusões"

Por Sílvia Caneco
publicado em 1 Jun 2013 in (jornal) i online

O actor explica ao i o comentário que deixou no Facebook e diz que as Finanças não fazem as televisões cumprir a lei

Passa das 21h30 e Ruy de Carvalho já fez mais de 100 quilómetros e ainda tem 14 cenas para estudar. O cansaço só ficará esquecido quando, a todo o momento, se lembrar que alguém no Facebook o acusou de ter andado a "bufar" colegas à PIDE. "Eu? O meu melhor amigo, o Canto e Castro, era comunista. Ele deixava o 'Avante' em cima da mesa e eu ia lá escondê-lo para ele não ser apanhado." Há uma semana escreveu um comentário no Facebook a acusar as Finanças de "rapina" e de não lhe reconhecer direitos consagrados na lei. O post, dirigido aos ministros, foi partilhado por 16 889 pessoas e comentado em blogues. E se uns aplaudiram, outros depressa lhe lembraram que foi mandatário de Cavaco ou apoiante de Passos Coelho. "Só por isso não tenho direito a indignar-me?", pergunta. Durante a conversa precisará da ajuda da filha Paula para o socorrer nas partes mais técnicas da explicação da carta que o fez escrever aquela mensagem. Apoio a políticos? Não haverá mais, a não ser ao filho.



Se eu fosse o Vítor Gaspar o que é que me acontecia agora?
Ó Vítor Gaspar, porque é que não resolve acabar com a austeridade para as pessoas terem dinheiro para se mexerem, não sofrerem tanto? Quando vai pedir àqueles senhores que recebem milhares para receberem poucochinho para distribuir pelos outros? Até quando vai cortar nos reformados? Dizia-lhe: pensa duas vezes na asneira que estás a fazer. Não lhe fazia mal nenhum, não faço mal aos meus semelhantes.



No post que escreveu no Facebook fala da "raiva miudinha" do Ministério das Finanças, no "silêncio do primeiro- -ministro" e nos "olhos baixos do Presidente da República". Aos 86 anos já se pode dizer tudo o que nos vai na cabeça?
Eu disse. Há pessoas que até estimo pessoalmente mas quando fazem coisas que não me agradam tenho de dizer, não é verdade? Até ao meu pai eu diria se achasse que não se estava a portar bem.



O que dizia a carta que recebeu das Finanças e o deixou tão indignado?
Dizem que tenho de refazer o IRS dos últimos três anos porque, segundo eles, não tenho direitos conexos e como tal não posso ter uma isenção fiscal que está consagrada na lei. Acham que o meu trabalho não é propriedade intelectual. Não sou considerado actor, mas um simples prestador de serviços.



O que diz exactamente a lei?
Há dezenas de actores que não sabem que têm estes direitos. Sempre que um actor, músico ou bailarino passa no meio audiovisual, o meio que o retransmite é obrigado a pagar uma percentagem ao artista consoante a sua participação, se foi protagonista, o número de episódios, etc. Estes benefícios fiscais que estão instituídos na lei portuguesa, no Código de Direitos de Autor, estão também no estatuto dos benefícios fiscais e das Finanças. Soube disso porque uma funcionária das Finanças alertou a minha filha quando comecei a fazer mais televisão, que estava a ser prejudicado porque tinha direito a isenções fiscais de quem tem a imagem a correr por todo o lado. Com esta lei, um actor tem isenção fiscal em metade dos seus rendimentos, com um tecto de 20 mil euros. Às vezes recebemos um euro por isto. Recebi agora uma carta de Espanha que me dá 400 e tal euros.



Já percebeu quanto dinheiro é que vai ter de devolver se isto avançar?
Eles têm lá o dinheiro retido. Vão fazer as contas e vão-me obrigar a pagar, mas vou continuar a preencher dizendo que são direitos conexos. Eles têm é de tomar outra atitude: obrigar as empresas a declarar como devem.



Este problema acontece porque as televisões não cumprem a lei?
Ou isso, ou são favorecidas, ou o Estado não as obriga a cumprir. Os canais temáticos são os únicos que pagam os direitos conexos. O governo de Sócrates dividiu a categoria B em várias categorias, e as televisões não declaram na categoria certa, que é o B13. O Estado não pode ter uma lei que não faça cumprir. Há seis anos que a GDA (Direitos dos Artistas) está em guerra com as televisões e estas continuam a dizer que não pagam os direitos conexos. As Finanças antes aceitavam, agora dizem que o nosso rendimento não é de propriedade intelectual, mas não fazem cumprir a lei. E assim fazem as televisões ganhar mais dinheiro à conta das pessoas.



1323 pessoas deixaram comentários no post que publicou no Facebook. Alguns deles não são muito simpáticos. Como lida com isso?
Tenho um respeito enorme pelas pessoas. Agora aqueles que difamam não. Difamações não tolero. Uma pessoa está no Facebook a dizer que eu escrevi cartas para a PIDE e que elas estão todas na Torre do Tombo. Isso é mentira. Pode ter sido outro Ruy de Carvalho, mas não era eu. Eu a escrever cartas para a PIDE? Olha eu. E a dizer mal de colegas? Nem pensar nisso. Os meus colegas não têm cor política. São meus amigos sejam de que partido forem. O meu melhor amigo, o Canto e Castro, era comunista. Deixava o "Avante" em cima da mesa e eu ia escondê-lo para não o apanharem.



Mas há pessoas a criticar directamente o que está na lei: que os actores tenham benefícios fiscais. Não tem vontade de responder a isso?
Se calhar queria responder que estão enganados. O diálogo é a melhor forma.



As pessoas criticaram-no porque estão mal informadas?
As pessoas têm fel a mais, têm de tirar o fel.



Mas é uma pessoa acarinhada pelo público. Não o surpreende esse fel?
Quem diz mal é uma minoria, mas está autorizada a falar. A democracia é isso e a liberdade é isso. Não se pode é mentir nem difamar. Uma pessoa diz que tem provas de que estão na Torre do Tombo cartas que escrevi para a PIDE. Eu estou morto por vê-las. E lê-las. E eu não queria, mas os meus filhos querem pôr um processo: se o dizem, vão ter de provar.



Já teve vontade de ir à Torre do Tombo ver quem é esse Ruy de Carvalho?
Se tivesse alguma coisa a ver com isso acha que não teria sido já divulgado? Fizeram um inquérito a toda a gente que fez bufaria. Eu tenho raiva aos bufos, estar a ouvir para ir contar, acho horrível. Eu sou o chamado poço, daqui não passa nada. É como as minhas colegas, aquelas vigarices que vêm nas revistas. Coitadas, algumas nem têm tempo para respirar e ver os filhos.



Reparou que este seu comentário foi referido até nos blogues mais importantes do país?
A minha filha falou-me disso.



Ficou surpreendido?
Uns acharam que tinha razão, outros não, outros esclareceram-se. Agora recomendo a todos que leiam bem o que disse. Não tratei só de mim, tratei de defender os meus colegas também. Isto não é um discurso egoísta.



Percebe que neste momento em que todos somos chamados a pagar a crise haja pessoas que estão de fora a pensar que os actores têm benefícios fiscais que eles não têm?
É porque não conhecem a lei, não sabem que temos direitos conexos, que tem toda a gente cuja imagem é reproduzida na televisão. Como outras profissões têm os seus direitos. Esta defesa destes pequenos direitos que as pessoas têm já é alguma coisa. Nesta profissão há muitos de- sempregados. Se ganharem 400 e tal euros de vez em quando, são 400 e tal euros. Há pessoas que não têm dinheiro para viver. Há outras que têm de viver com o apoio da GDA e da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). E pessoas com talento. A profissão de actor será sempre uma profissão de recibo verde. E agora muito mais, porque não há companhias fixas e as poucas que há passam grandes dificuldades. São pessoas que estão quatro, cinco meses sem trabalhar. E precisam de ver os seus direitos defendidos.



Acha que há pessoas neste momento a pensar "o que é que um actor deu ao país que eu não dei?"
Se calhar há. Tentei dar bom teatro, bons espectáculos, tentei sofrer bastante e às vezes sem receber nada. Se há pessoas que também deram muito ao seu país, louvo-as por isso. Não sou mais que um agricultor ou uma mulher-a-dias, sou igual. E cada um tem de defender os seus direitos. Dei um trabalho voluntário a um governo, fui presidente da comissão executiva do Ano Internacional das Pessoas Idosas, convidado por Ferro Rodrigues, e ao contrário do que se pensou na altura não ganhei um tostão.



Arrepende-se de ter sido mandatário de Cavaco e apoiante de Passos Coelho?
Fui mandatário dos idosos. Posso não ter acertado, mas não estou arrependido. Tenho é pena que não tenham cumprido aquilo que prometeram e que eu julgava que iam fazer. Nunca fui do PSD, votei no PSD. Mas isso tira-me o direito de protestar?



Sente-se enganado?
Em relação aos idosos sinto. Estão a atacá-los, a tirar-lhes tudo.



E se alguma destas pessoas voltasse a candidatar-se e a pedir o seu apoio para uma campanha, dava?
Não, acabou-se. Não há mais apoios. Não quero ter mais desilusões. Só entrarei na lista de honra do meu filho [João de Carvalho, candidato do PSD à Câmara de Vila Franca de Xira].



E quando Passos Coelho sair do governo vai juntar-se ao pai dele e fazer uma festa?
Não fazia uma festa, deixava-o em paz.



Acha que pode vir melhor?
Já não acredito. Não me esqueci de nada do que ficou para trás, tenho boa memória.



E se este governo cair, em quem vai votar sendo social-democrata?
Se calhar voto no meu partido, que é aquele em que tenho votado sempre, porque há outros homens capazes.



É um problema de pessoas e não de partidos?
Claro, as coisas morrem pelas pessoas e vivem pelas pessoas.



Não se aborrece por os seus filhos se meterem na política?
Eles gostam. Eu nunca me meti, só apoiei políticos. Não me saí lá muito bem, mas enfim... acreditei que eles iam fazer trabalho. Houve um que não fez porque não o deixaram: o Carmona. Mas não é um político, é um grande homem. Como pessoa é extraordinário, mas ele já não concorre mais.



Foi também mandatário de Santana Lopes. Ele surpreendeu-o na Câmara de Lisboa?
Ele não teve amigos. Nem no partido nem fora dele. Um Presidente por quem tenho uma grande consideração, o Sampaio, mandou-o embora de repente. Tenho a impressão que foi um bocadinho precipitado aquilo que fizeram. Ele trabalhou na cultura, e era amigo das pessoas da cultura. Mas não apoiei uma nova candidatura dele e disse-lhe que não voltava a apoiar.



Ligou a alguma destas pessoas quando recebeu esta carta das Finanças?
Não.



Também escreveu: "não sei para que servem as comendas que me penduram ao peito..."
Premeiam-me porque dizem que sou actor, mas depois para as Finanças sou um prestador de serviços. As Finanças pelos vistos não acreditam.



Já lhe apeteceu mandar as medalhas de volta para Belém?
Não ia fazer isso, era uma desconsideração a três presidentes da República. Perguntei só se valia a pena dizerem bem de um homem, condecorarem-no, para a seguir dizerem que não é actor.



Já não foi a primeira vez que deu que falar no Facebook. Quando partilhou uma petição contra o abate de um cão que matou uma criança...
Está livre, o Zico está livre!



Teve meio mundo contra si.
Mas também tive alguns a favor. Estou contente por se ter mudado o destino do cão, que, dizem, terá sido só uma arma do crime. O tribunal resolveu entregar o cão a uma associação.



Porque é que defendeu esta causa?
Sou louco por cães. Reparou que tenho aqui um grande amigo, não reparou? E a cadela, viu? A Joana está ali deitada. Este é o Boss. Até os homens são maus. Também são de raças perigosas: matam a mulher, matam mais de uma pessoa. E não os matamos. Normalmente o cão é o retrato do que o dono ensina.



Quando aderiu às redes sociais?
Adiro só através da minha filha, é ela que escreve. Telemóveis é a única coisa em que sei mexer, e mal. Nas tecnologias sou um grande aselha.



Sendo actor, não deveria ser de esquerda?
Os actores não têm sítio. Não selecciono pessoas pela cor política. Eles sabem as minhas ideologias, não discuto as deles.



Se fosse novo emigrava?
Não, gosto de ir em representação do meu país, mas depois voltava, aqui é que eu tenho de oferecer o meu trabalho.



E se não tivesse trabalho?
Procurava, sofria era muito. Tive grandes dificuldades, mesmo contratado. Cheguei a não ter dinheiro para beber um café porque não me pagavam a tempo. Mas os meus filhos nunca sentiram isso. Descia a rua de carro, depois deixava o carro lá em baixo e ia a pé, porque não tinha dinheiro para o eléctrico. Juntava o dinheirinho no canto da gaveta para dar à minha mulher no fim do mês, por isso é que eles nunca perceberam que eu estava com dificuldades. E na altura, quando eu estava quase a rebentar, convidaram-me para director do Teatro Experimental do Porto. Salvaram-me.



Também nunca deu esse conselho aos seus filhos e netos?
Dois netos estão a trabalhar fora. Um é geólogo e outro aviador comercial. Um está no Brasil e outro na Turquia.



A sua reforma dá para as suas despesas?
Se desse completamente para as minhas despesas não estava a trabalhar, estava a descansar, embora não me deixem descansar. Tenho essa vantagem. Mas não vou abdicar de tudo o que consegui na vida. Agora não tenho mais nada, vivo só com dois tostões? 53 anos de descontos e recebo mil e poucos euros de reforma. Depois de reformado ainda descontei no Teatro Nacional para tentar subir mais um pouco. Descontei sempre, nunca faltei a um compromisso fiscal.



É indigno que uma pessoa que descontou 50 e tal anos da sua vida tenha uma reforma desse valor?
Indigno não é, porque há muita gente que tem muito menos e as mesmas necessidades que eu tenho. Talvez me habituasse mal a ter alguma comodidade e me custasse muito perdê-la. Embora não faça nada de exuberante, não bebo champanhe todos os dias. Quem tem jeito para a sua profissão merece parar mas também ser compensada economicamente para poder viver com qualidade. Lembro-me sempre de uma pergunta que o Otelo Saraiva de Carvalho, que eu até conheço, e acho que é uma pessoa gira, fez ao Olof Palme: se já tinha acabado com os ricos. Ele respondeu que queria era acabar com os pobres. O fundamental era isso.



Conhece casos dramáticos entre artistas? Gente a passar fome?
Sei que uns passam, outros têm a dignidade de dizer que não estão a passar. Não faço ideia como é que não tendo nenhum dinheiro na carteira vivem. Conheço bastantes desempregados, não vou dizer nomes.



Já lhe ligaram a pedir ajuda para encontrar trabalho?
Não, o actor é capaz de morrer de fome e não dizer a ninguém. E quando o põem a trabalhar imediatamente se recompõe. Ainda não recebeu mas vai trabalhar como se já tivesse dinheiro para comer.



Daqui a dois anos como será a cultura em Portugal?
Por este caminho, não será grande coisa. É claro que também precisamos muito do apoio das pessoas, dos que vão ao teatro, às exposições e aos museus. Também gosto muito de desporto, mas para o futebol há sempre dinheiro. Para a arte não há muito.



Como é que se convence um país com mais de um milhão de desempregados de que é preciso ir ao teatro?
É muito difícil. E entre esses desempregados também há actores, pessoas que não comem. E se calhar alguns quando abrem o pano e não vêm ninguém perguntam: o que é que eu vou comer amanhã? Na arte o grande subsídio são as pessoas. Se comprarem todos pode ser mais barato. Não é preciso ir ao teatro todos os dias. Quatro vezes por ano a quatro companhias é uma grande ajuda.



Há mais apoio às exposições da Joana Vasconcelos do que ao teatro?
Isso tem a ver com gostos. Na cultura não pode haver preferidos, mas os bons. Houve um ministro da Cultura, o Lucas Pires, que quando tomou posse disse "a cultura não tem cor partidária".



Faz-se novelas porque se gosta ou porque se precisa de ganhar dinheiro?
Eu gosto de fazer. Gosto de representar, seja onde for. E as séries e as telenovelas são uma forma de chegar às pessoas.



A maior parte dos actores acha que as novelas são uma coisa menor.
Isso é conversa. Dizem isso mas depois fazem. Há poucos que resistam, a maior parte deles gosta de estar na montra.



Há muita gente com falta de jeito para a representação ou os mais velhos exageram?
Acho que há aí gente com muita qualidade, agora há uns que não têm mesmo jeito e querem ter à força. Tenho muitos colegas novos e gosto muito deles todos. Alguns chegam um bocadinho aflitos ao pé de mim, mas eu também tenho problemas, não são só eles. Os que não têm terão de desistir. Não é uma profissão que se possa levar sem o mínimo de jeito. Não se pode ir lá só para a montra.



Um actor quando chega à idade da reforma não deve parar?
Se a reforma chegar, mas... e se o público precisar de o ver? Tem de haver velhos no espectáculo. Um actor faz falta. Se todos os velhos se reformassem quem fazia o papel de um velho que está a cegar, como é o meu caso agora?



Vive sozinho?
Em Paço de Arcos, ao pé do comboio fantasma [o SATU]. Vendi a casa em Benfica porque a minha mulher não podia subir escadas. Mas continuo a ir a Benfica todas as semanas. Tenho hábitos lá. Vou à Nilo, às lotarias, aos óculos, arranjar as minhas unhas, à minha calista, ainda tenho essas vaidades. E uma unha encravada.



A morte da sua mulher fê-lo pensar mais na morte?
Não. É uma coisa certa, tenho de morrer. Pergunto é como é que ainda vivo tanto e como é que ainda estou tão capaz de viver. Ela era uma pessoa extraordinária e não merecia ter partido tão cedo e ter sofrido tanto. A minha mulher era madeirense. Quando morrer, já pedi aos meus filhos para juntarem as cinzas dos dois e mandarem-nas para a Madeira. Que ela foi feita lá de encomenda para mim, a minha Ruth. Era mais nova que eu nove meses. Éramos o casal Ruru. E tratávamo-nos por velho e velha. Ela tinha 17 anos e eu 18 quando nos conhecemos. Ela já tinha namoro e eu nunca tinha namorado ninguém. Era vadio, mas compromissos nada. Não se pode mentir, vivi a vida um bocadinho. Mas tive uma mulher extraordinária, que me ajudou muito, até pelo curso que tinha - Filosofia e História -, pela outra arte que tinha - era bailarina -, conhecia bem o meu meio, deu--me dois filhos maravilhosos, ia-me dando outra menina mas não vingou. Vinha mais uma coisinha destas, toda politizada [aponta para a filha].



Tem medo que a idade lhe tire lucidez?
Isso sim. A lucidez chega até ao ponto de não conseguirmos tomar banho sozinhos. Vivo sozinho com a minha cadela, governo-me sozinho, tenho uma pessoa que vai lá a casa fazer umas coisas, mas levanto-me sozinho, ponho despertadores mas nunca tocam, acordo sempre antes.



Venceu dois cancros. Escondeu a doença enquanto trabalhava?
Não podia. Era operado, estava cinco dias no hospital, mais um dia em casa. A seguir já estava a trabalhar.



Qual era a primeira frase que gostaria de ver escrita no seu obituário?
Descansa em paz. Ou então, como costumo dizer aos amigos, lembrem-se de que quando estiver a ser cremado os meus tomates vão estar grelhados. Que ao menos assim riem-se.

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