sexta-feira, 21 de junho de 2013

A pergunta ao governo do jovem do PSD foi um momento de esplendorosa ignorância.


As juventudes “abaixo de cão”


Por Ana Sá Lopes
publicado em 20 Jun 2013 in (jornal) i online

A pergunta ao governo do jovem do PSD foi um momento de esplendorosa ignorância.

Têm sido habituais e muito populares as críticas às juventudes partidárias – se os partidos já são vistos como “cão” aos olhos da opinião pública, as juventudes partidárias são evidentemente olhadas com o estatuto de “abaixo de cão”. Há várias razões para isso e nenhuma delas funciona em abono de uma democracia que em Portugal continua a viver uma espécie de retardada juventude – de facto, só faz 40 anos para o ano que vem. Estamos a falar do carreirismo, do aparelhismo, do lambe-botismo a todo o pano e da facilidade de alcançar um emprego seguro na administração pública aos 25 anos com um salário acima da média. A maioria destas críticas são injustas, como é habitual nas generalizações. É justo reconhecer que as juventudes partidárias produziram dirigentes acima da média no PS e no PCP (esse afastado da administração e sem levar o salário de deputado na íntegra para casa) e pelo menos um grande quadro do PSD – Jorge Moreira da Silva. É um facto que no meio do caos presente as qualidades de Jorge Moreira da Silva se encontram em imersão, mas isso é outra história.

Infelizmente, assistimos ontem a mais um momento que conduzirá a opinião pública a rever em baixa a sua opinião sobre as juventudes partidárias, que já considera – e muitas vezes injustamente – abaixo de cão. A famosa “pergunta ao governo” desencadeada pelo líder da JSD, um jovem chamado Hugo Soares, sobre o custo dos sindicatos para o Orçamento do Estado foi um momento esplendoroso de ignorância e falta de mínimos olímpicos de cultura democrática. Se o jovem deputado integrasse um movimento do estilo de Beppe Grilo, estaria no seu elemento. Infelizmente, é do PSD, um partido estruturante do sistema democrático, que defende a existência de sindicatos e tem uma organização chamada Trabalhadores Social-Democratas. A resposta mais tranquila veio do dirigente sindical da FNE. Dias da Silva explicou que não existe “qualquer transferência de dinheiro para as organizações sindicais”, porque “a lei não o prevê”, e quanto à outra questão levantada pelo jovem (as condições negociadas entre sindicatos e empresas para o exercício da actividade sindical), sublinhou ser condição “para que existam sindicatos livres, independentes e democráticos”. Mas sugeriu um levantamento de tudo o que impõe o custo do funcionamento da democracia – e isto inclui o salário do deputado Hugo Soares e o seu direito a dizer barbaridades. Façamos então o estudo.

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