quarta-feira, 26 de junho de 2013

Detidos e feridos em acção de despejo de horta comunitária na Graça.

Populares protestaram contra operação ordenada pelo vereador José Sá Fernandes. Houve pelo menos dois detidos



Detidos e feridos em acção de despejo de horta comunitária na Graça.


Por Inês Boaventura in Público
26/06/2013

Os apoiantes da Horta do Monte falam em violência policial, mas o comandante da Polícia Municipal de Lisboa garante que "não houve nenhuma carga policial" e diz desconhecer a existência de feridos
Duas pessoas foram detidas ontem pela Polícia Municipal de Lisboa e pelo menos três terão ficado feridas durante uma operação de limpeza de um terreno, na Graça, onde estava instalada há vários anos uma horta comunitária. Os apoiantes da Horta do Monte falam em violência policial, mas o comandante André Gomes nega essa versão e diz que tanto quanto sabe a única pessoa ferida foi um agente daquela força.
Segundo a coordenadora da horta, pouco depois das 7h, quando os primeiros populares chegaram ao terreno, na Calçada do Monte, "já estavam as máquinas a destruir tudo". "Os polícias não nos deixaram entrar, foram violentos", descreve Inês Clematis, lamentando que a autarquia tenha optado por uma "desocupação forçada, em total desrespeito pelas pessoas envolvidas e pela comunidade".
De acordo com a coordenadora da horta, duas pessoas foram detidas pela polícia e outras três ficaram feridas. Um dos feridos, descreve Inês Clematis, "foi arrastado por um polícia e ficou com o braço todo arranhado" e outro "levou bastonadas nas costas quando estava a tentar acalmar as pessoas". "Não era preciso fazer isto à bruta nem magoar as pessoas", lamenta.
Versão semelhante tem Armand Munoz, que na sequência dos incidentes de ontem de manhã sofreu um ferimento na cabeça e foi assistido no Hospital de São José. Este morador da zona conta que cerca de dez pessoas estavam no exterior da horta a observar os trabalhos de limpeza em curso quando alguém, que se apresentou como funcionária da Câmara de Lisboa, avançou em direcção a uma dessas pessoas enquanto lhe gritava que não podia tirar fotografias.
"Eu interponho-me à frente da minha amiga, a senhora empurra-me e a polícia vem toda para cima de nós", descreve, acrescentando que a sua amiga se queixa de ter sido então agredida por um agente, com bastonadas nas costas. "O polícia, enraivecido, diz vai para a tua terra à minha amiga, que é francesa, ela chama-lhe cabrão, ele passa-se, empurra-me, eu caio e parto a cabeça na calçada", conta Armand Munoz.
"Comecei a sangrar e quando olhei para trás vejo duas pessoas deitadas no chão, a ser algemadas", conclui, adiantando que vai apresentar queixa contra o agressor. "Estávamos totalmente impotentes. Não houve razão de ser para isto", lamenta Armand Munoz.
O comandante da Polícia Municipal de Lisboa confirmou ao PÚBLICO que houve dois detidos, um homem de nacionalidade turca e uma mulher francesa, por "resistência e coacção a funcionários". Segundo André Gomes, estas duas pessoas "forçaram a entrada" na horta quando esta se encontrava vedada para que fossem realizados os trabalhos de limpeza ordenados pelo vereador José Sá Fernandes.
"O casal desviou a rede, meteu-se lá dentro e começou a injuriar os funcionários", descreve o comandante, acrescentando que o homem que acabou por ser detido "agarrou um agente da polícia pelas costas e atirou-o ao chão". André Gomes acrescenta que esse elemento da Polícia Municipal ficou com os óculos partidos e com escoriações num braço e num dedo.
Quanto à existência de três feridos entre os apoiantes do projecto da horta comunitária, o comandante diz que não tem conhecimento dessa situação e nega que tenha sido a Polícia Municipal a chamar a ambulância que transportou Armand Munoz para o hospital. "A polícia só desviou as pessoas do terreno. Não houve nenhuma carga policial", afirma André Gomes, admitindo que "houve alguma confusão no local".
"Foi a Polícia Municipal que pediu uma ambulância", disse por sua vez ao PÚBLICO um elemento do gabinete de comunicação do INEM, explicando que o homem que foi assistido "teria sofrido uma queda após ter sido empurrado e tinha uma ferida na região frontal".
Era esperado que os dois detidos fossem ainda ontem presentes a um juiz do Tribunal de Pequena Instância Criminal, no Campus da Justiça.

Horta do Monte: Testemunho de um dos feridos e fotos da destruição


Armand Munoz foi uma das vítimas da agressão policial que teve lugar esta manhã durante a destruição da Horta do Monte, promovida pela Câmara Municipal de Lisboa. Após ter sido assistido no hospital, necessitando de pontos na cabeça, relatou ao esquerda.net como tudo se passou.

Artigo
25 Junho, 2013 in http://www.esquerda.net/artigo/horta-do-monte-testemunho-de-um-dos-feridos-e-fotos-da-destrui%C3%A7%C3%A3o/28395

Armand Munoz “estava a levar as suas filhas à escola” quando recebeu uma mensagem de telemóvel informando-o de que as máquinas estavam a destruir a Horta. Quando chegou ao local, “por volta das 7h30, as máquinas já tinham destruído a Horta do Monte e estavam talvez cinco pessoas” ligadas ao projeto comunitário no local. Pouco depois chegaram mais pessoas, sendo que, no total, não seriam mais de dez.
Segundo descreveu ao esquerda.net, foram feitas várias tentativas no sentido de solicitar à Polícia Municipal o despacho que autorizava a intervenção, contudo, os agentes policiais negaram o acesso ao documento, argumentando que seria necessário “dirigir um requerimento à Câmara para esse efeito”. “Apenas um polícia municipal estava identificado”, referiu.
“Enquanto me encontrava fora da cerca que foi montada pela Polícia Municipal à volta da Horta, uma amiga começou a tirar fotografias com o telemóvel”, relatou Armand Munoz, avançando que a representante da CML presente no local rapidamente se deslocou para fora do perímetro da cerca, em direção ao passeio, onde se encontravam. Tentando acalmar os ânimos Armand Munoz colocou-se em frente da sua amiga, sendo alvo de um encontrão por parte da representante camarária.
Apesar de constantemente apelar à calma, Armand Munoz acabou por ser vítima de um novo empurrão, por parte de um agente da Polícia Municipal, acabando por bater com a cabeça no chão. A sua amiga levou duas bastonadas. "Todas as agressões tiveram lugar no passeio, fora da cerca montada pela Polícia Municipal", assegurou.




Vai nascer um jardim

Com hortas incluídas

A desocupação do terreno onde funcionava a Horta do Monte foi determinada pelo vereador dos Espaços Verdes da câmara para que ali possa avançar a construção do Jardim da Cerca da Graça, com inauguração prevista para Setembro. Este jardim, que Sá Fernandes já por várias vezes destacou que será "a maior área verde do casco velho da cidade", incluirá "um relvado central regado para potenciar um recreio mais activo, mesmo desportivo, em contraponto às áreas declivosas, vocacionadas para miradouro e zonas de estar" e, "no futuro", "um equipamento do ramo alimentar, equipamento juvenil e infantil". No local será também criado um "parque hortícola", no qual, garante o assessor de imprensa do vereador, tanto os dinamizadores da Horta do Monte como outros cinco hortelãos que cultivavam o terreno foram convidados a ocupar um talhão cada um. "O grupo comunitário não aceitou, não quis ficar", afirma João Camolas, garantindo que "continua a haver abertura" para lhe ceder um talhão. O assessor sublinha que foram marcadas duas reuniões com o grupo para discutir o assunto, mas os seus representantes faltaram a ambas, e acrescenta que este foi notificado para desocupar o espaço até ao dia 14 de Julho. Já a coordenadora do projecto alega que nunca recebeu "uma notificação como deve ser", mas apenas "uns papelinhos que nem estavam assinados". Inês Clematis considera que a solução proposta pela autarquia irá inviabilizar algumas das actividades do grupo mas diz-se "receptiva" a aceitar um talhão no novo parque hortícola. I.B.
in Público

1 comentário:

Anónimo disse...

Independentemente dos méritos inquestionáveis das hortas comunitárias o projecto da Horta do Monte começou mal com uma ocupação de um terreno que era de TODOS e nunca conseguiu respeitar as pessoas do bairro da Graca, nem sequer os vizinhos mais próximos.

Enquanto a CML limpava o local foram varias as pessoas que vieram a janela apoiar a CML e o projecto do Jardim da Graça (o maior do centro histórico de Lisboa). A propósito deste assunto talvez seja conveniente ler a versão do autor agora diabolizado: http://link2greenways.blogspot.pt/2013/06/8-verdades-inconvenientes.html

Começou mal com ocupação de um espaço que era de todos e acabou mal com agressões a simples funcionários da CML. Sempre de costas viradas para a comunidade e isso vê-se na rua falando com a esmagadora maioria dos moradores e comerciantes do bairro.