Os manifestantes turcos têm-se ajudado uns aos outros. Mas agora há um ambiente de desconfiança entre diferentes grupos
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Os conflitos internos começam a vir à superfície na Praça Taksim.
Por Paulo Moura, em Istambul in Público
11/06/2013
Os jovens kemalistas querem expulsar os curdos, estes afirmam-se os mais ecologistas de todos. Talvez Erdogan apenas espere que os conflitos internos resolvam a crise em Istambul
Segundo Ezgi, é melhor não passar pelo lado esquerdo. Que há ali? Um grupo de pessoas a dançar e um póster com um homem de bigode. "Eles são perigosos. Tem cuidado". É preciso passar ao largo, para evitar provocações. No entanto, estiveram toda a manhã juntos, numa reunião.
Ezgi Kardaslar, de 22 anos, é membro da União da Juventude Turca (TGP), uma organização de universitários que apoia a ideologia de Mustafa Kemal Atatürk, o fundador da Turquia moderna. O homem do bigode é Abdullah Öcalan, o líder histórico do partido separatista curdo (Partido dos Trabalhadores do Curdistão - PKK).
O motivo inicial da ocupação da Praça Taksim, em Istambul, foi o anúncio, pelo Governo de Recep Tayyip Erdogan, de um projecto para destruir o Parque Gezi e construir, em seu lugar, uma réplica de um quartel otomano, transformada em centro comercial.
A manifestação, pacífica, foi brutalmente reprimida pela polícia, o que atraiu muito mais pessoas à praça, e transformou o protesto num movimento mais abrangente. Hoje, em Taksim, exige-se mais democracia, alterações na Constituição, revogação das leis de restrição do álcool, a demissão de Erdogan, etc. Aos poucos, todos aqueles que, por uma razão ou outra, têm razões de queixa contra o Governo vieram para aqui manifestá-las.
Isso inclui, para além dos ambientalistas iniciais, os partidos da oposição legal, pequenos grupos radicais, jovens com estilos de vida alternativos, cidadãos com descontentamentos vários e vagos, e também os partidos ilegais, algumas organizações consideradas terroristas... e os curdos.
O PKK, depois de 30 anos de guerra contra as autoridades da Turquia, pela autonomia do Curdistão, acaba de selar com o Governo (em Março último) um acordo que inclui o cessar-fogo e a renúncia total ao separatismo. O acordo foi negociado precisamente com Öcalan (o homem do bigode), que está preso desde 1999.
O partido legal curdo, com deputados no Parlamento, Partido da Paz e de Democracia (BDP), continua a venerar o líder preso, Öcalan. Por isso não abdica de trazer o seu póster para a praça, onde montou uma enorme tenda e bancas. Têm música curda a tocar no máximo e não param de dançar, o que é visto por outros, como os jovens do TGP, como uma usurpação dos ideais da manifestação.
"Eles querem dividir o país ao meio. Lutam pela independência da parte oriental da Turquia", diz Ezgi. "Isso não está de acordo com os objectivos deste movimento. Eles não deviam estar aqui. Estão simplesmente a aproveitar-se do que nós fizemos, para imporem as suas reivindicações, que não são patrióticas."
Na tenda dos curdos, um dos dirigentes do BDP, que prefere não ser identificado, explica ao PÚBLICO que foi um dos deputados do seu partido, Sirri Sureyya Onder, quem se colocou à frente dos blindados da polícia, no primeiro dia da manifestação, para impedir que eles avançassem sobre as tendas.
"A preocupação ecológica faz parte do nosso programa", diz ele. "Ninguém sofreu mais com a destruição do ambiente do que nós. Este Governo destruiu milhões de árvores no Curdistão. Arrasou territórios inteiros, alagando-os, para que as populações fossem obrigadas a fugir para as cidades, onde há maior controlo policial."
Quanto ao separatismo, o dirigente do BDP esclarece que essa exigência foi há muito apagada do seu programa. "Nós estamos aqui para exigir a adopção de uma Constituição democrática. E não saímos enquanto o Governo não prometer que as nossas exigências vão ser atendidas".
Já os jovens do TGP, segundo o mesmo dirigente, não passam de "fascistas, kemalistas, que não se importam que o Governo massacre uma parte importante da população do país".
Ninguém se sente seguro
Todos os dias há reuniões de manhã e à tarde entre representantes dos vários grupos representados na Praça Taksim. Nessas reuniões conjuntas o diferendo já foi abordado. Mas o problema foi quando alguém (um infiltrado disfarçado de jornalista, diz-se) foi dizer aos curdos que numa reunião dos jovens kemalistas foi discutida a forma de os expulsar da praça.
Agora, uns e outros não se falam, e os estudantes têm medo de se aproximar da tenda do póster de Öcalan. Alguns elementos do TGP receiam que ocorram lutas entre os dois grupos, pela calada da noite. Ninguém se sente seguro nos acampamentos.
A diversidade de causas, finalmente juntas contra o inimigo comum - o Governo de Erdogan - parecia ser uma força do movimento. Mas talvez se revele ser a sua fraqueza, se provarem ser completamente incompatíveis umas com as outras. Talvez Erdogan conte com isso para resolver a crise de Taksim. Como sempre contou.
Istambul
Polícia turca já controla praça Taksim
Lusa.
A polícia turca assumiu o controlo da praça Taksim da capital depois de esta manhá ter entrado à força no local com recurso a blindados e gás lacrimogéneo.
De acordo com a estação NTV, centenas de agentes da força de intervenção rápida que agora ocupam a emblemática praça -- da qual não se aproximavam há cerca de duas semanas -- enfrentaram um grupo reduzido de pessoas que atacou os agentes com cocktails de molotov.
A polícia respondeu ao ataque com gás lacrimogéneo e canhões de água, apelou aos manifestantes para não usarem nem pedras nem garrafas e assegurou que apenas pretendia retirar os cartazes e as barricadas entretanto instaladas no local.
Istanbul riot police move in to clear Taksim Square
Protesters pushed back into Gezi Park, where Turkey's largest protests in years beganAssociated Press in Istanbul
guardian.co.uk,
Tuesday 11 June 2013 06.40 BST / http://www.guardian.co.uk/world/2013/jun/11/police-clear-taksim-square-istanbul
Hundreds of police clad in riot gear pushed easily past barricades in Istanbul's central Taksim Square early on Tuesday, and many of the protesters who had occupied the square for more than a week were pushed into a nearby park.
Police briefly fired tear gas canisters and rubber bullets, prompting many of the protesters to flee the square into Gezi Park, where many had been camping.
Earlier, demonstrators had manned the barricades and prepared for a possible intervention when officers began massing in the area.
Police began taking down banners that had been hung by protesters on a large building on the edge of the square, replacing them with a large Turkish flag and a banner with the picture of Mustafa Kemal Ataturk, the founder of the secular republic.
As police clashed with some activists, bulldozers and garbage trucks began cleaning up some of the barricades on the square. A group of protesters were seen at another corner of the square, apparently trying to negotiate with police.
Huseyin Avni Mutlu, the governor of Istanbul, said on Twitter the police operation was to remove the banners hung on the building and on a monument on the square. He said the people occupying the park would not be touched.
A statement from Mutlu's office said the banners of various groups taking part in the protests were making the square look as though it was under "occupation" and was "negatively affecting our country's image in the eyes of the world opinion and leading to reaction from within the society".
Before the police action, the protests appeared to be diminishing, with the smallest number of demonstrators in the past 12 days gathering in Taksim on Monday night. The protesters occupying Gezi Park had remained, however.
Turkey's most widespread anti-government protests in decades erupted on May 31 after a police crackdown on a peaceful sit-in by protesters objecting to a project replacing the park with a replica Ottoman-era barracks.
Smaller protests also occurred in Ankara, where about 5,000 people demonstrated. Police there have used water cannon and tear gas to break up demonstrations almost every night.
Three people have died and more than 5,000 have been treated for injuries or the effects of gas during the protests. The government says 600 police officers have also been injured.
The prime minister, Recep Tayyip Erdogan, had said he would meet the Gezi Park protesters on Wednesday, following a request by some of them.
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