( ...) “3. De algum modo, o presidente da Comissão foi apanhado neste movimento, tornando-se rapidamente num alvo apetecível. Por culpa própria, é verdade, mas também por culpa alheia. Barroso começou por adoptar um discurso que subestimava a natureza e a gravidade desta crise, desvalorizando-a como mais uma das muitas que a Europa foi vivendo e foi vencendo. Chegou a classificar a União como uma nova "potência emergente". Depois, seguindo os ventos, adoptou uma atitude que muita gente viu como demasiado submissa em relação a Berlim. Tentou várias fórmulas para manter alguma liderança política, incluindo a ideia de um "momento federador". Enredou-se nas suas próprias contradições. A sua eficácia foi-se esgotando à medida que os Governos (alguns) passaram a controlar o processo de resposta à crise. A Comissão foi perdendo terreno e foi perdendo influência. Só muito dificilmente a vai recuperar.
Mas também é preciso perceber que os ataques da França a Barroso têm outra razão de ser. Por mais "europeu" que seja, o Presidente não consegue ver-se livre dos velhos tiques da esquerda francesa. Contra o liberalismo, contra a globalização, contra os americanos, contra tudo o que possa lembrar o mundo anglo-saxónico. O real ou o imaginário. Barroso deu o flanco, quando utilizou a palavra errada para criticar os franceses. "Reaccionários" é um termo demasiado forte. Mas a guerra desencadeada contra ele é uma espécie de vingança "póstuma". Os franceses nunca gostaram dele porque foi escolhido por Tony Blair (mas também por Angela Merkel, então líder da oposição ao Governo de Schroeder, que moveu a sua influência nos bastidores), porque apoiou a guerra no Iraque e foi o anfitrião das Lajes, porque queria liberalizar o sector dos serviços no quadro do Mercado Único. A questão é que Barroso se foi tornando muito mais vulnerável. Acabará mal o seu segundo mandato.
A Comissão sairia quase inevitavelmente enfraquecida desta crise, como já saíra enfraquecida do Tratado de Lisboa, com o novo centro do poder no Conselho Europeu e no seu presidente permanente. Agora, perdeu autoridade e independência. As eleições para o Parlamento Europeu, em Maio de 2014, o fim dos mandatos da Comissão, do presidente do Conselho Europeu e da chefe da diplomacia europeia vão ser o teste final a esta nova relação de forças política e institucional que está a emergir na Europa. Ver-se-á o que vai acontecer. Apenas sabemos que a Europa não será a mesma e que isso exige um debate. Também por cá.”
Extraído do artigo de Teresa de Sousa: Que Europa?
30/06/2013 in Público
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