O Brasil a ferro e fogo por causa do aumento dos transportes.
Por Margarida Bon de Sousa
publicado em 17 Jun 2013 in (jornal) i online
Dilma Rousseff enfrenta cada vez maiso descontentamento popular. Os protestos continuam
As manifestações contra o aumento das tarifas dos transportes públicos brasileiros duram há duas semanas. Na mais populosa cidade do Brasil, São Paulo, onde está concentrada a produção industrial, os protestos ganham hoje novos reforços de trabalhadores de várias regiões do estado, num sinal claro de que as manifestações da última semana vieram para ficar.
A decisão de reforçar o número de participantes foi tomada no sábado de manhã, num encontro que juntou mais de 100 representantes de várias organizações, entre as quais o Movimento Passe Livre, que já promoveu quatro protestos na cidade, e a central sindical CSP-Conlutas, em que este movimento está filiado.
Os metalúrgicos de São José dos Campos, os trabalhadores rurais do interior paulista, os operários da construção civil e os funcionários do comércio são outros dos grupos que se preparam para engrossar os protestos a partir desta semana.
"Estamos a realizar neste final de semana uma convocação geral para que, inclusive, nas fábricas e locais de trabalho, as pessoas possam avaliar que agora é o momento de também protestarem contra a repressão e ditadura do governo Alckmin", disse José Maria de Almeida, presidente do partido trotskista PSTU e coordenador da Conlutas, à "Folha de São Paulo".
"Não apoiamos a destruição. O que significa que se a polícia encontra uma pessoa a destruir algo, deve prendê-la. Mas bater com o cacete em trabalhadores ou estudantes que se manifestam é outra coisa", disse.
O fim-de-semana ficou marcado por violentos confrontos entre a polícia militar e os que protestavam contra o aumento do preço dos transportes públicos. O acontecimento foi comentado pelo escritor Cadão Volpato que comparou a situação com o seu último livro, recentemente lançado, "Pessoas que Passam pelos Sonhos", que retrata a amizade entre um brasileiro e um argentino, tendo como cenário as ditaduras no Brasil e na Argentina nos anos 70.
"Raramente fiquei tão chocado a ver uma imagem como fiquei nesta semana, em São Paulo. Nos anos 70, nós estávamos na rua, a fazer algo parecido", afirmou o escritor, acrescentando que "todo o mundo que levou com as balas de borracha, cassetetes ou que apanhou da polícia numa acção hipertruculenta tinha entre os 20 e os 25 anos", o que o fez lembrar os personagens da sua história, quando, na década de 70, "ser jovem e cabeludo" era um passaporte rápido para a prisão. "A polícia fez um trabalho monstruoso que me assustou" disse. "Nunca vi um tanque a varrer a Paulista. Duvido que essa coisa toda tenha a ver apenas com os 20 centavos do aumento. Isto tem reflexos mundiais".
MILITARES CONVIDADOS A ADERIR
Ainda segundo o sindicalista José Maria de Almeida, a polícia militar que esteve a trabalhar no sábado e a acompanhar as manifestações foi convidada a desobedecer aos comandantes e a protestar em vez de bater. A CUT (Central Única de Trabalhadores), próxima do partido de Dilma, e a Força Sindical já tomaram posição contra a repressão policial.
DILMA VAIADA
O Recife, onde decorreu a a estreia oficial da Copa das Confederações, recebeu a presidente brasileira com várias vaias, perante o presidente da Ferderação Internacional de Futebol, num encontro que opôs o Japão ao Brasil, e onde Joseph Blatter acabou por ter de apelar ao sentido desportista dos espectadores. Dilma encerrou dessa forma uma semana na qual não escondeu sua irritação com as críticas de que o Brasil está a atravessar um mau momento, com uma subida da inflação, de fraco crescimento e da pressão do dólar sobre o real. Em público e reservadamente, a presidente e a sua equipa têm acusado a oposição de "vendedores do caos" e de "velhos do Restelo".
E continuam a defender um país diferente do actual, onde a inflação vai cair, o desemprego continuará a ser baixo e o crescimento será maior. Mas as vaias na abertura da Copa só reforçam os sinais de insatisfação em alguns sectores do país, emitidos e captados ao longo de toda a semana, mas que o governo se recusava a admitir ou procurava diminuir a sua importância. E que já levaram a uma queda de popularidade em oito pontos da sucessora de Lula da Silva, com um aumento generalizado do pessimismo dos brasileiros face ao futuro da economia do país.
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