quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Medina diz que CDS “não mete uma para a caixa” no caso do “eixo central”


Medina diz que CDS “não mete uma para a caixa” no caso do “eixo central”

Discussão sobre o projecto de requalificação da área entre o Marquês de Pombal e o Campo Pequeno foi particularmente acesa

Câmara não recua na requalificação do eixo central

Inês Boaventura / 1-10-2015 / PÚBLICO

Não foi meiga a resposta do presidente da Câmara de Lisboa às críticas do vereador do CDS sobre a forma como o executivo tem conduzido o processo de requalificação do “eixo central” da cidade. Fernando Medina acusou João Gonçalves Pereira de “mentir”, de “não meter uma para a caixa”, de fazer uma crítica “patética e ridícula” e de se “armar” em “cavaleiro andante” em defesa de algo que “só está na sua cabeça”.
No centro da discórdia estava uma moção apresentada pelo CDS na reunião pública do executivo camarário de ontem, na qual se defendia que o município procedesse à “imediata anulação” do procedimento concursal para a requalificação da área entre o Marquês de Pombal e o Campo Pequeno e realizasse “um amplo debate público” sobre o projecto que aí pretende concretizar.
Tanto no documento como na intervenção que fez na reunião, João Gonçalves Pereira acusou Fernando Medina de ter proferido afirmações que não correspondem à verdade, nomeadamente sobre o facto de moradores e comerciantes daquela zona da cidade terem sido ouvidos acerca da solução que está em cima da mesa.
“O presidente deve um pedido de desculpas à câmara e a todos os lisboetas porque faltou à verdade”, disse o vereador centrista, segundo quem a câmara só apresentou publicamente aquilo que pretendia fazer no Saldanha e em Picoas, deixando de fora “o resto”, que é como quem diz as avenidas Fontes Pereira de Melo e da República. Referindo-se a Fernando Medina como “presidente substituto”, João Gonçalves Pereira acusou-o de demonstrar uma “grande prepotência” e de estar “a pensar em calendários eleitorais”.
Ainda a intervenção do autarca centrista ia a meio e já o presidente da câmara dava mostras de que a resposta não ia ser branda: “Ou precisa as acusações que faz ou vai ter o tratamento que um mentiroso e aldrabão merece”, atirou o socialista. “Na sua intervenção pouco mais fez do que mentir”, acrescentou depois, sublinhando que este processo “foi amplamente participado, como poucos processos são”, e que o essencial da intervenção constava do programa eleitoral sufragado nas eleições autárquicas de 2013.
Antes de Fernando Medina, já o vereador do Urbanismo tinha respondido a algumas das críticas que o CDS vem fazendo, abrindo a reunião camarária com uma apresentação sobre a requalificação do “eixo central”. Nela, Manuel Salgado fez questão de “explicar os antecedentes do processo” e de pormenorizar que houve duas reuniões públicas sobre as propostas para o Saldanha e para Picoas, reuniões nas quais, garante, foi “explicado” que ambas as intervenções iriam “definir o futuro perfil do eixo central”.
Quanto à questão da perda de estacionamento no “eixo central”, o vereador do Urbanismo fez saber que o número de lugares à superfície vai cair de 619 para 319, mas acrescentou que os lugares existentes em “parques de uso público” vão aumentar de 6137 para 6565 e que está em causa “uma área particularmente dotada de transportes públicos”.
Manuel Salgado também questionou a “representatividade” das cerca de 80 pessoas que aprovaram, num plenário promovido por duas associações de moradores, um documento no qual se manifesta “indignação pela falta de informação” sobre o projecto para o “eixo central” e se exige a sua suspensão. Notando que foi convidado para essa assembleia na véspera da sua realização, o vereador considerou que os promotores da iniciativa a usaram como “uma grande oportunidade para fazer campanha eleitoral”.
Já Fernando Medina, que às críticas a João Gonçalves Pereira já enunciadas acrescentou a de demonstrar “petulância” por se “arrogar a interpretar o sentimento dos lisboetas e dos moradores” (quando “não tem autoridade nem votos para isso”), deixou a garantia de que a requalificação da área entre o Marquês de Pombal e o Campo Pequeno não é um processo fechado. “A forma como a empreitada está desenhada admite alterações”, disse, frisando no entanto que “não há disponibilidade para transigir sobre as principais linhas de orientação” da mesma.
Pelo PCP, João Ferreira defendeu que, até pela “magnitude” do projecto e pelo “tempo de concretização previsto” (um máximo de 365 dias), não seria de mais promover novos “espaços de auscultação à população”. “Mas é evidente que não é essa a intenção do CDS”, acrescentou, dizendo ao vereador do CDS que do “ridículo” já não se livrava. Já António Prôa, do PSD, falou em “alguma pressa” de Fernando Medina em concretizar aquela que classificou como a sua “obra de regime” e sustentou que o “envolvimento da população foi insuficiente”.

A fechar a discussão, o vereador João Paulo Saraiva (eleito na lista do PS em nome dos Cidadãos por Lisboa) manifestou-se preocupado com o autarca centrista, dizendo com ironia que este tem “um problema grave”, que parece estar “a atingir contornos nunca vistos”: “a doença do paulo portismo”. “Temo o pior e desejo-lhe as melhoras”, concluiu.

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