Medina
diz que CDS “não mete uma para a caixa” no caso do “eixo
central”
Discussão
sobre o projecto de requalificação da área entre o Marquês de
Pombal e o Campo Pequeno foi particularmente acesa
Câmara não
recua na requalificação do eixo central
Inês Boaventura /
1-10-2015 / PÚBLICO
Não foi meiga a
resposta do presidente da Câmara de Lisboa às críticas do vereador
do CDS sobre a forma como o executivo tem conduzido o processo de
requalificação do “eixo central” da cidade. Fernando Medina
acusou João Gonçalves Pereira de “mentir”, de “não meter uma
para a caixa”, de fazer uma crítica “patética e ridícula” e
de se “armar” em “cavaleiro andante” em defesa de algo que
“só está na sua cabeça”.
No centro da
discórdia estava uma moção apresentada pelo CDS na reunião
pública do executivo camarário de ontem, na qual se defendia que o
município procedesse à “imediata anulação” do procedimento
concursal para a requalificação da área entre o Marquês de Pombal
e o Campo Pequeno e realizasse “um amplo debate público” sobre o
projecto que aí pretende concretizar.
Tanto no documento
como na intervenção que fez na reunião, João Gonçalves Pereira
acusou Fernando Medina de ter proferido afirmações que não
correspondem à verdade, nomeadamente sobre o facto de moradores e
comerciantes daquela zona da cidade terem sido ouvidos acerca da
solução que está em cima da mesa.
“O presidente deve
um pedido de desculpas à câmara e a todos os lisboetas porque
faltou à verdade”, disse o vereador centrista, segundo quem a
câmara só apresentou publicamente aquilo que pretendia fazer no
Saldanha e em Picoas, deixando de fora “o resto”, que é como
quem diz as avenidas Fontes Pereira de Melo e da República.
Referindo-se a Fernando Medina como “presidente substituto”, João
Gonçalves Pereira acusou-o de demonstrar uma “grande prepotência”
e de estar “a pensar em calendários eleitorais”.
Ainda a intervenção
do autarca centrista ia a meio e já o presidente da câmara dava
mostras de que a resposta não ia ser branda: “Ou precisa as
acusações que faz ou vai ter o tratamento que um mentiroso e
aldrabão merece”, atirou o socialista. “Na sua intervenção
pouco mais fez do que mentir”, acrescentou depois, sublinhando que
este processo “foi amplamente participado, como poucos processos
são”, e que o essencial da intervenção constava do programa
eleitoral sufragado nas eleições autárquicas de 2013.
Antes de Fernando
Medina, já o vereador do Urbanismo tinha respondido a algumas das
críticas que o CDS vem fazendo, abrindo a reunião camarária com
uma apresentação sobre a requalificação do “eixo central”.
Nela, Manuel Salgado fez questão de “explicar os antecedentes do
processo” e de pormenorizar que houve duas reuniões públicas
sobre as propostas para o Saldanha e para Picoas, reuniões nas
quais, garante, foi “explicado” que ambas as intervenções iriam
“definir o futuro perfil do eixo central”.
Quanto à questão
da perda de estacionamento no “eixo central”, o vereador do
Urbanismo fez saber que o número de lugares à superfície vai cair
de 619 para 319, mas acrescentou que os lugares existentes em
“parques de uso público” vão aumentar de 6137 para 6565 e que
está em causa “uma área particularmente dotada de transportes
públicos”.
Manuel Salgado
também questionou a “representatividade” das cerca de 80 pessoas
que aprovaram, num plenário promovido por duas associações de
moradores, um documento no qual se manifesta “indignação pela
falta de informação” sobre o projecto para o “eixo central” e
se exige a sua suspensão. Notando que foi convidado para essa
assembleia na véspera da sua realização, o vereador considerou que
os promotores da iniciativa a usaram como “uma grande oportunidade
para fazer campanha eleitoral”.
Já Fernando Medina,
que às críticas a João Gonçalves Pereira já enunciadas
acrescentou a de demonstrar “petulância” por se “arrogar a
interpretar o sentimento dos lisboetas e dos moradores” (quando
“não tem autoridade nem votos para isso”), deixou a garantia de
que a requalificação da área entre o Marquês de Pombal e o Campo
Pequeno não é um processo fechado. “A forma como a empreitada
está desenhada admite alterações”, disse, frisando no entanto
que “não há disponibilidade para transigir sobre as principais
linhas de orientação” da mesma.
Pelo PCP, João
Ferreira defendeu que, até pela “magnitude” do projecto e pelo
“tempo de concretização previsto” (um máximo de 365 dias), não
seria de mais promover novos “espaços de auscultação à
população”. “Mas é evidente que não é essa a intenção do
CDS”, acrescentou, dizendo ao vereador do CDS que do “ridículo”
já não se livrava. Já António Prôa, do PSD, falou em “alguma
pressa” de Fernando Medina em concretizar aquela que classificou
como a sua “obra de regime” e sustentou que o “envolvimento da
população foi insuficiente”.
A fechar a
discussão, o vereador João Paulo Saraiva (eleito na lista do PS em
nome dos Cidadãos por Lisboa) manifestou-se preocupado com o autarca
centrista, dizendo com ironia que este tem “um problema grave”,
que parece estar “a atingir contornos nunca vistos”: “a doença
do paulo portismo”. “Temo o pior e desejo-lhe as melhoras”,
concluiu.
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