Esquerda
acusa Presidente de “passar por cima dos partidos”
SOFIA RODRIGUES e
LUSA 06/10/2015 - PÚBLICO
PSD
anuncia que Pedro Passos Coelho está disponível para dialogar com o
PS, mas não especifica se procura um entendimento para o Governo ou
apenas parlamentar.
A esquerda não
gostou que o Presidente da República chamasse a Belém o líder do
PSD e o encarregasse de “desenvolver diligências” para conseguir
uma solução com “estabilidade política e governabilidade”,
praticamente deixando claro que esse entendimento se deve fazer com o
PS. Porque considera que Cavaco Silva passou por cima dos partidos e
do seu papel. Já a direita aplaude a atitude do Presidente.
Com esta atitude, o
Chefe de Estado está a "patrocinar a manutenção no Governo
das mesmas forças [políticas] que os portugueses disseram nas urnas
que não queriam que continuassem", considera o deputado e líder
da bancada comunista, João Oliveira. Em declarações no Parlamento,
lamentou a opção de Cavaco Silva de "avançar num caminho",
previamente à "auscultação de todos os partidos para tomar
uma decisão".
"Dizendo que
não cabe ao Presidente, mas sim aos partidos políticos criar
condições para um novo Governo e que não se substituirá aos
partidos, [Cavaco Silva] está a passar por cima dos partidos
políticos e do seu papel", acusou João Oliveira.
"O Presidente
está a procurar insistir na perpetuação da política que vinha
sendo executada pelo Governo, particularmente com aquelas notas de
continuação da submissão externa no plano da participação de
Portugal na NATO, as questões do euro, do Tratado Orçamental ou
mesmo da renegociação da dívida", acrescentou.
Já para a deputada
bloquista Mariana Mortágua, o que o chefe de Estado fez foi "pressão
para um Governo de direita", criticando que este tivesse falado
antes de publicados os resultados oficiais das legislativas do último
domingo e sem ter ouvido todos os partidos que terão assento na
Assembleia da República. A cabeça-de-lista do BE por Lisboa,
censurou ainda o Presidente por ter dito que o novo Governo devia dar
garantias firmes de que respeitará os compromissos internacionais
assumidos pelo Estado, uma vez que "não cabe ao Presidente da
República nesta fase do processo dizer quais os compromissos
internacionais ou europeus a cumprir", mas, sim, respeitar a
Constituição da República.
"Não será
pelo Bloco de Esquerda que teremos em Portugal um Governo de direita
assente numa minoria parlamentar de direita", avisou a dirigente
do Bloco, numa declaração em que reiterou "o desafio ao
Partido Socialista para criar as condições para uma solução
governativa, estável," que "respeite a vontade dos três
milhões de eleitores que rejeitaram claramente a política de
austeridade".
Verdes: Presidente
“não consegue ser isento”
"Os Verdes
entendem que o Presidente está a provar que não consegue ser
isento. Está nitidamente a favorecer o PSD e o CDS relativamente à
formação de Governo, pretende que as políticas que estes partidos
prosseguiram continuem", acusou Heloísa Apolónia, no
Parlamento.
A deputada
ecologista recordou que o chefe de Estado "tem o dever
constitucional de ouvir todos os partidos políticos relativamente às
hipóteses de solução governativa" e considerou que há um
"processo enviesado", dado que "PSD e CDS perderam a
maioria absoluta". "[O Presidente] deu preferência ao PSD,
ditou-lhe um determinado mandato para uma solução governativa e não
ouviu os outros partidos políticos. Aquilo que dizemos é que,
eventualmente, existem no país outras hipóteses de solução
governativa e o Presidente deve encará-las", condenou.
Passos disponível
para dialogar com o PS
Numa atitude de quem
já assumiu plenamente o recado do Presidente da República, o
coordenador da comissão permanente do PSD, Marco António Costa,
mostrou a disponibilidade de Pedro Passos Coelho para dialogar com o
PS. É esse o partido eleito pelo PSD para um entendimento, tendo em
conta a partilha de valores europeus em torno da moeda única e da
defesa.
“Vemos na
proximidade nestes valores a oportunidade de criar uma solução
governativa sólida, que tenha estabilidade, que seja forjada no
compromisso”, afirmou o vice-presidente do PSD, sem referir
directamente as razões da exclusão dos outros partidos: o PCP
defende a saída do euro, o Bloco pretende que Portugal deixe de
fazer parte da NATO. Será Passos Coelho a “conduzir as
negociações”, adiantou, sem avançar com qualquer calendário
para iniciar ou terminar as conversações.
Questionado sobre
qual a natureza do entendimento que se procura com o PS – de
Governo ou apenas parlamentar – Marco António Costa não foi claro
sobre a intenção ou a disponibilidade dos sociais-democratas. O
dirigente lembrou que o líder do PSD já tinha dado conta, na noite
eleitoral, de tentar procurar “pontos de convergência” para uma
“solução negociada para a estabilidade política do próximo
Governo”.
O vice-presidente
centrista João Almeida afirmou hoje que o CDS comunga da
interpretação do Presidente da República dos resultados
eleitorais, sublinhando que o partido está a trabalhar para uma
solução de Governo e para "construir os consensos necessários
à estabilidade”.
"A comunicação
do senhor Presidente da República vem no sentido em que o CDS
interpreta o que foram os resultados eleitorais. Houve uma vitória
clara da coligação Portugal à Frente, o que faz com que esta
coligação tenha a responsabilidade de gerar uma solução de
Governo", afirmou João Almeida.
com Lusa
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