Afiar
as facas. Costa com porta de saída apontada em caso de derrota
HELENA PEREIRA /
2/10/2015, 19:54/ OBSERVADOR
Os
resultados eleitorais podem ser o céu ou o inferno para os líderes
partidários. Os senhores que se seguem nos vários partidos. Ou não.
António Costa não
pode fazer outra coisa senão demitir-se se o PS perder as eleições.
A convição é dos críticos do atual secretário-geral numa altura
em que o partido vive nervoso e já pensa no pós-eleições. Se as
sondagens estiverem certas, os socialistas arriscam-se a ficar vários
pontos atrás da coligação PSD/CDS e esse é um cenário que faz
movimentar os críticos.
Uma derrota do PS
vai mergulhar o partido numa crise profunda. Primeiro, é preciso
perceber se António Costa toma a decisão de sair seja qual for a
dimensão da derrota ou se só o fará em caso de um grande
trambolhão. Costa pode querer continuar e negociar com o PSD/CDS se
este não obtiver maioria absoluta. Mas os críticos internos e os
atuais apoiantes desiludidos vão pedir-lhe mais. E os
posicionamentos podem acontecer logo na noite eleitoral. Caso Costa
perca, haverá pedidos para uma clarificação do partido e poderá
surgir de imediato – se o líder não o fizer – o pedido para um
congresso extraordinário.
“António Guterres
demitiu-se por menos”, diz um deles, recordando a demissão do
então primeiro-ministro e líder do PS, na sequência de um mau
resultado nas eleições autárquicas. “Todos têm que assumir as
suas responsabilidades”, diz outro, abarcando, assim, todos os
dirigentes que estão com Costa bem como os seus principais
conselheiros. “Quem perde, sai. O líder é importante, mas não é
o mais importante, não há salvadores da pátria”, declara outro.
Mas Costa não terá
a mesma interpretação. Para já, perdeu por “poucochinho” pode
dar-lhe espaço para ficar no partido e preparar umas eleições que
sejam mais cedo do que tarde. Para Costa “o cenário é o de
vitória. Não se equaciona essa questão de sair ou não”, dando a
entender, na conversa com o Observador, que não sai se tiver uma
derrota por pouco.
Os chamados
seguristas assistem em silêncio, mas as críticas dentro do partido
são muitas. Os socialistas estão incrédulos sobre o rumo da
campanha e a não descolagem nas sondagens. António Costa que quis
concorrer à liderança do PS depois de a vitória de António José
Seguro nas europeias por esta ter sabido “a poucocinho” tinha
elevado as expetativas e a ambição era a maioria absoluta, sem
rodeios.
Quem se pode seguir?
Francisco Assis, que se candidatou em 2011 à liderança do PS e
perdeu para António José Seguro, era o nome mais óbvio até ter
dito ao jornal i esta quinta-feira que não lhe passava pela cabeça
nova candidatura e que estava a “gostar muito” do trabalho como
eurodeputado. Assis, várias vezes e de forma isolada, chamou a
atenção para a necessidade de o PS ter que dialogar mais com o PSD,
como no último congresso do partido. Seria até por isso um
interlocutor mais amistoso em relação a Passos Coelho.
Pedro Nuno Santos,
ex-líder da JS e cabeça de lista por Aveiro, tem ambições
políticas que até Costa vai alimentando. Ainda esta semana, numa
brincadeira com uma bola de futebol em plena campanha, Costa vincou à
frente dos jornalistas: “Olhe, que isto tem significado político,
vou passar-lhe a bola!”. O deputado disse ao Expresso que não era
candidato, mas nunca se sabe o dia de amanhã. É que tal como Assis,
uma coisa pode ser dita antes das eleições, outra depois.
Os mais desiludidos
com Costa, porém, dizem já “que todos têm que assumir as suas
responsabilidades” e com isso também Pedro Nuno Santos, que fez
parte da entourage do líder e aceitou dar a cara como número 1 num
distrito onde os socialistas têm dificuldades. Aveiro é um distrito
onde nas últimas eleições PSD e CDS têm sido sempre mais fortes
que o PS.
E António José
Seguro? O telefone do líder destronado por Costa não tem parado de
tocar nos últimos dias. O momento agora é de medir o pulso ao
partido e ao que vai acontecer, sendo que os seus mais próximos
consideram que qualquer eventual avanço não pode ser visto como uma
atitude de vingança numa altura em que o partido precisará de
união.
Álvaro Beleza, um
dos homens mais próximos de Seguro, é tido como provável candidato
à liderança para satisfazer a ala que foi afastada do poder por
António Costa. E se Assis e Pedro Nuno fizeram declarações, o
mesmo não aconteceu com Álvaro Beleza.
Se as sondagens
estiverem todas erradas e o PSD perder as eleições, há que também
esperar para ver o que Pedro Passos Coelho fará, se sai da liderança
do partido ou se fica para negociar com um Governo socialista. Em
caso de derrota, as atenções centram-se em Rui Rio, o homem de que
todos estão à espera. O ex-autarca do Porto resolveu esperar pelo
resultado das eleições para decidir se avança para uma candidatura
a Belém ou para a liderança do partido.
Rio não se manteve
à margem da campanha, embora a sua colaboração tenha sido
discreta. Esteve no Porto, numa arruada com o cabeça de lista da
coligação, José Pedro Aguiar-Branco, escolhendo um dia em que
Passos e Portas estavam longe, noutro distrito. Aos jornalistas,
elogiou os esforços do atual Governo no último ano mas sem grandes
elogios para os respetivos líderes dos partidos da coligação.
Depois em Viseu, apareceu num jantar da coligação, mas sem
discursar. Chegou atrasado, mas teve honras de se sentar na mesa
principal.
Em 2011, o PSD
concorreu sozinho e teve 38,7%, conseguindo 108 mandatos (em 230).
Longe da maioria absoluta (115), optou por fazer coligação
pós-eleitoral com o CDS. O PSD teve dos piores resultados de sempre,
abaixo dos 30%, com Manuela Ferreira Leite, Pedro Santana Lopes e
Francisco Sá Carneiro.
No caso do CDS, um
mau resultado pode levar ao fim da liderança partidária mais antiga
em vigor. De todos os atuais líderes partidários, Paulo Portas é o
que está há mais tempo a mandar, o que mais campanhas eleitorais
fez. É quase certo que, ao fim deste tempo todo e depois de ter sido
vice-primeiro-ministro (um sonho antigo), Portas demitir-se-á caso
perca as eleições. Já o fez, aliás, em 2005 quando José Sócrates
foi eleito com maioria absoluta.
Nuno Melo? João
Almeida? Mota Soares? Assunção Cristas? São vários os centristas
que se podem posicionar para a sucessão. Melo é eurodeputado e
durante muito tempo foi visto como o número 2 do partido. João
Almeida sucedeu a Portas como cabeça de lista em Aveiro, um pormenor
que tem importância e que deixa antever outras possíveis sucessões.
Mota Soares é um dos homens de confiança de Portas mais bem
treinados politicamente pelo seu líder. Assunção Cristas tem
ambições que não disfarça, embora tenha vários anti-corpos no
partido.
A escolha dos nomes
de deputados foi um processo complicado que deixou marcas no partido
e que, se o domingo trouxer más notícias, vai emergir rapidamente.
Portas deixou de fora de lugares elegíveis deputados de Braga,
Lisboa ou Leiria, que irão cobrar o benefício que o partido poderá
ter. O líder da distrital de Braga, o ainda deputado Altino Bessa,
nem sequer fez campanha.
Em 2011, o CDS teve
11,7% dos votos e 24 lugares, o melhor resultado do partido desde
1983, com Francisco Lucas Pires. Com este resultado, o CDS
posicionou-se confortavelmente como a terceira força política, à
frente dos comunistas. Durante vários anos, esteve atrás do PCP e
os dirigentes nunca se conformaram com isso. Antes das eleições,
quando poucos acreditavam que a coligação conseguissem vencer as
eleições e, entre os centristas, era admitido que o número
razoável de deputados a manter de forma a não ser muito humilhante
eram 18.
Para Jerónimo de
Sousa, pode-se dizer, é indiferente. Isto no sentido em que no PCP
não há demissões de secretário-geral quando o resultado eleitoral
é menos bom. Jerónimo foi eleito em 2004, vai no terceiro mandato
e, se o calendário for cumprido com normalidade, só há novo
congresso no final de 2016. Portanto, até lá Jerónimo mantêm-se,
mas não é provável que renove a comissão de serviço e não tem a
ver com estas eleições – terá nessa altura 70 anos. Em
entrevista ao jornal i no início da campanha, Jerónimo comentava a
questão da idade para sublinhar que ainda tem muita força.
“Estou aqui para
as curvas. Mas isto não é eterno. Mas o essencial é o que o meu
partido decidir. Por mim estou em condições de continuar, embora
com esta ideia: um dia sairei desta responsabilidade, enquanto tiver
capacidade para decidir também e para fazer esse juízo de valor”,
declarou.
Nas eleições de
2011, a CDU teve 7,9% dos votos e 16 mandatos, sendo que o melhor
resultado dos últimos 25 anos foi obtido em 1999, na reeleição de
António Guterres, com 17 lugares.
De qualquer forma,
os comunistas estão otimistas em relação ao resultado eleitoral.
Nas ruas, Jerónimo é acolhido com simpatia. As sondagens não dão
números muito acima da média, mas a verdade é que não há
eleições em que o PCP não tenha mais votos do que aqueles que lhes
são atribuídos em projeções.
No caso do BE, o que
está em jogo é muito. São as primeiras legislativas desde que
Francisco Louçã abandonou a direção do partido e o BE adotou um
modelo de liderança suis generis com seis responsáveis máximos e
que foi contestado ao mais alto nível. Catarina Martins surpreendeu
nos debates, mostrando-se preparada e com pedalada para os sucessivos
adversários – surpreendeu até os que dentro do partido nunca
foram seus fãs. Mas isso pode não ser suficiente.
Vejamos. Em 2009, o
BE teve 9,8% dos votos e 16 mandatos. Nas legislativas seguintes,
caiu para 5,2% dos votos e oito lugares – exatamente metade dos
mandatos. Se a tendência de queda se repetir no domingo, será fatal
para esta direção, para Catarina Martins e, até, para o partido
nascido em 1999, fruto de uma aliança de três formações que
sozinhas não conseguiam obter representação partidária, PSR,
Política XXI e UDP. No entanto, as sondagens indicam desde o início
da pré-campanha que o BE está em crescimento, estando em alguns
casos com intenções de voto iguais aos da CDU.
Se o domingo correr
mal, é quase certo que Catarina Martins será acossada. Há
precisamente um ano, Pedro Filipe Soares, da Corrente Alternativa
Esquerda (herdeira da UDP), e líder parlamentar do partido,
apresentava uma candidatura alternativa à direção (na altura
Catarina Martins e João Semedo). Na contagem de votos, as duas
moções ficaram quase empatadas e depois foi cozinhada a solução
de liderança a seis – um lugar por cada uma das moções que foram
a votos. Uma das questões que a ala de Pedro Filipe Soares
contestava era precisamente as aproximações do partido ao PS,
indignando-se com aquilo que achava que era um excesso.
Na moção que
apresentou, Pedro Filipe Soares pedia um “regresso às origens” e
à “combatividade”, alegava que “o Bloco perdeu o capital de
confiança” e elencava alguns dos “equívocos” da atual direção
do partido, como quando, no verão de 2013, o Bloco foi à sede do
Partido Socialista propor a António José Seguro uma aliança de
governação. “Sempre que o Bloco se colocou ao lado do xadrez
partidário foi submisso a outras agendas”, dizia o líder
parlamentar bloquista, para quem os problemas do Bloco começaram
quando, em 2011, o partido apoiou o socialista Manuel Alegre na
corrida presidencial.
Se o Bloco ficar
abaixo do resultado de 2011, as vozes críticas que se ouviram há um
ano voltarão de certeza e com mais força.
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