Justiça gold. Atenção, a ideia é do PS
Por Ana Sá Lopes
publicado em 10 Fev 2014 in (jornal) i online
PS defende a existência de uma espécie de justiça gold para
grandes investidores
Ser de esquerda é hoje tão difícil que muito do bom povo de
esquerda, não alinhado com nenhum partido, se identifica com regularidade com
as posições de personalidades como a ex-ministra da Educação e das Finanças de
governos PSD - e antiga líder do PSD - Manuela Ferreira Leite; do ex-líder
parlamentar do PSD no tempo de Cavaco primeiro-ministro e membro da sua
Comissão Política José Pacheco Pereira; do ex- -ministro das Finanças do
governo PSD/CDS liderado por Santana Lopes e conselheiro de Paulo Portas nos
assuntos económicos Bagão Félix ou da jornalista e comentadora política
Constança Cunha e Sá que nunca foi de esquerda. As coisas estão decididamente a
ficar muito confusas.
O PS vive momentos particularmente difíceis tendo em conta o
seu posicionamento europeu - ao lado da austeridade dominante aceite pelos
socialistas de toda a Europa - enquanto o Bloco de Esquerda se esfrangalha à
vista de todos. Quanto ao PCP, permanece o PCP: tem sempre o seu rendimento
mínimo garantido e, provavelmente, pode subir de votação nestas europeias,
contando os votos dos desgostosos do Bloco, mais os desgostosos do PS e até
aqueles desgostosos do PSD que, na dúvida, votam no PCP. Eles existem.
Um dos sintomas deste mal-estar à esquerda revelou-se no
sábado com a proposta surreal do secretário-geral do PS, António José Seguro,
de defender a criação de tribunais especiais para investidores estrangeiros -
mas também nacionais - de elevados rendimentos. Simplificando: Seguro defendeu
uma espécie de justiça gold para investidores de alto calibre - comparando com
isto, os vistos gold de Portas são uma brincadeira de meninos. Toda a gente
sabe que a morosidade da nossa Justiça é um problema que atinge também a
economia - mas atinge, em primeiro lugar, os cidadãos portugueses na sua honra
e dignidade. Para um partido que invoca continuamente - e justamente - a
Constituição contra várias das medidas deste governo e passa a vida a dizer que
quer governar para "as pessoas", propor tribunais "gold"
para criar uma justiça paralela para investidores ricos é uma ideia do outro
mundo e seguramente não tem nada de esquerda. Se fosse o governo a avançar com
uma proposta destas, não faltariam deputados do PS disponíveis para recolher
assinaturas para enviar a lei para o Tribunal Constitucional. O PS quer criar
"um ambiente amigo do investimento" e também cidadãos (ou
estrangeiros) de primeira e de segunda.
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