terça-feira, 4 de junho de 2013

Vice de Erdogan pede desculpa aos manifestantes feridos nos protestos. Turkish crackdown on protesters 'wrong and unjust', says deputy PM. / Guardian


Vice de Erdogan pede desculpa aos manifestantes feridos nos protestos.

Por Maria João Guimarães in Público
05/06/2013

Sindicato junta-se à contestação e começa dois dias de greve. Morreu uma segunda pessoa em incidentes ligados às manifestações que há vários dias acontecem em Istambul
O vice-primeiro-ministro da Turquia, Bullent Arinc, pediu desculpa aos manifestantes que ficaram feridos nos protestos contra a destruição de um parque de Istambul e disponibilizou-se para se encontrar esta manhã com os organizadores.
No entanto, logo compensou o tom conciliatório pedindo o fim das manifestações, que ontem entraram no quinto dia, pois tinham sido tomadas "por elementos terroristas".
Por um lado, Arinc dirigiu-se aos que começaram o protesto, que classificou como justo e legítimo: "O uso de força excessiva contra as pessoas que começaram o protesto inicial com o objectivo de proteger o ambiente foi errado, e injusto. Por isso peço desculpa a estas pessoas", declarou, numa conferência de imprensa em Ancara. Mas acrescentou: "Não penso que tenhamos de pedir desculpa aos que criaram a destruição da propriedade pública nas ruas e que tentam impedir a liberdade das pessoas nas ruas".
Pessoas comuns

Os manifestantes são "esmagadoramente pessoas comuns", diz Pope, que simplesmente querem ter uma voz. Paul Mason, da BBC, diz que "os dois principais tipos são jovens mulheres com estudos, 90% vestidas em estilo ocidental, e jovens com T-shirts de clubes de futebol - estão muito orgulhosos de estarem juntos, apoiantes de equipas rivais que se odeiam profundamente". A maioria dos manifestantes "são pessoas que se poderiam encontrar com um portátil no Starbucks - a classe média jovem, secular, urbana".
No entanto, Pope nota que "há outros manifestantes que são um pouco mais oportunistas, como as facções de esquerda que normalmente não têm muito tempo de antena na Turquia".
Há quem cante slogans republicanos: "Somos filhos de Atatürk". E também quem cante que este é um movimento de todos com excepção do AKP.
Gokhan Aya, músico, disse à BBC que decidiu participar nos protestos depois de passar, por acaso, na zona de Besiktas no sábado. "Nunca imaginei ver a polícia a disparar quase aleatoriamente." Ficou a chorar e com a garganta a arder, e decidido a lutar contra a violência: "As pessoas ficaram enraivecidas porque os protestos foram pacíficos, ninguém fez absolutamente nada. E foram atacados como se fossem de um exército estrangeiro". As autoridades teriam pensado que assim afastariam os protestos. Não resultou. "Muitas pessoas deixaram os trabalhos, tiraram licenças, para vir protestar", conta.
Parecendo sublinhar a declaração do músico, uma reportagem do diário britânico The Guardian conta como um grupo de mulheres com ar de quem trabalha num escritório vieram protestar com retratos de Atatürk. "Não vamos trabalhar hoje", explica uma delas, rindo-se. "O nosso patrão apoia este protesto."
Ontem foi ainda o dia em que uma confederação sindical turca, o Kesk, de esquerda, que representa cerca de 240 mil trabalhadores, se juntou à contestação, acusando as autoridades de cometerem "terrorismo de Estado", e que se registou uma segunda vítima mortal, na cidade de Antakya, um jovem de 22 anos do principal partido da oposição que morreu vítima de um disparo de um atirador desconhecido. Na véspera tinha morrido um rapaz de 20 anos em Istambul, quando um carro ignorou ordens para parar e atingiu um grupo de manifestantes numa via rápida.
Segundo a Associação de Médicos Turcos, pelo menos 3195 pessoas ficaram feridas em confrontos com a polícia no domingo e segunda-feira. 26 estavam em estado grave.
Os protestos juntaram pessoas de várias orientações políticas. Transformaram-se de um gesto contra a destruição do parque para uma contestação muito mais alargada; primeiro à violência policial, e depois mesmo ao que muitos vêem como a atitude autoritária do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, que apoiado na sua maioria parlamentar, tem anunciado várias decisões polémicas com pouco ou nenhum debate, e a uma deriva que temem que tenha efeitos na sua vida quotidiana e no seu modo de vida.
Analistas dizem que o primeiro-ministro turco, um político popular mas pouco dado a negociações e compromissos, terá sido apanhado de surpresa pela magnitude dos protestos. Manteve uma viagem a Marrocos, Argélia e Tunísia, e ao aterrar garantia aos jornalistas que quando regressasse desta viagem oficial, "os problemas estarão resolvidos".
O analista do International Crisis Group Hugh Pope sublinhou que os protestos eram completamente "sem precedentes" e que Erdogan terá sido apanhado de surpresa pela sua magnitude. Começou por aceitar retirar a polícia da praça Taksim na sequência dos confrontos mais violentos, mas logo a seguir acabou a fazer declarações provocatórias em relação aos manifestantes, dizendo que estes eram da oposição ou, pior, andavam "de braço dado com os terroristas".
A rapidez com que os protestos se alargaram e espalharam a várias cidades mostra que há um mal estar que não estava a ser canalizado por falta de alternativas políticas, diz o investigador Jean Marcou, do instituto de estudos políticos Sciences Po Grenoble.


A praça símbolo que é o local menos otomano de Istambul


Muitos vêem espelhado em Taksim o seu modo de vida.

Uma enorme praça que é a ligação entre dois lados de uma cidade de mais de 10 milhões de habitantes, uma plataforma giratória de transportes públicos, mas é mais do que isso. "É um símbolo", diz o investigador da Sciences Po Grenoble Jean Marcou, numa conversa telefónica com o PÚBLICO. "Muitas pessoas vêem na praça tal como está a projecção do seu modo de vida." O AKP, partido da Justiça e Desenvolvimento, no poder, tem no entanto outros planos. Quer a praça fechada ao trânsito, construir uma mesquita, e acabar com o centro cultural Kemal Atatürk, o fundador da república turca secular. "Redesenhar a Praça Taksim é importante para a nova Istambul que quer o AKP", diz o investigador. Uma Istambul menos secular, mais otomana.
"Taksim é o lugar menos otomano de Istambul", nota Jean Marcou, lembrando que foi projectada por um arquitecto e urbanista francês, Henri Prost. Está ainda perto de "zonas modernas que não se reconhecem nem nos grandes projectos do Governo, nem nas suas concepções sociopolíticas". Uma anterior machadada no modo de vida de locais como Beyoglu e a sua vida nocturna foi dada com a aprovação recente de uma lei que proíbe a venda de álcool entre as 22h e as 6h. Uma nova machadada seria dada se for avante a construção de uma mesquita e a recriação de um quartel otomano destruído há décadas, que poderia ser um centro comercial. Assim, o protesto que começou no Parque Gezi, ao lado da praça Taksim, é muito mais do que uma manifestação a favor da manutenção de um espaço verde numa enorme cidade em que estes são raros.
E há mais. Taksim foi o palco de um traumático incidente em 1977, quando num 1.º de Maio morreram mais de 30 pessoas, a maioria por pânico provocado por tiros "cuja origem nunca foi bem esclarecida", sublinha Marcou. Desde então, o Dia do Trabalhador era comemorado noutros locais de Istambul, até que em 2010 voltou a à Praça Taksim.
Este ano, as autoridades interditaram novamente a praça às comemorações, dizendo que as obras tornariam o evento perigoso - e houve confrontos com a polícia.

Turkish protesters light flares as the occupation of Gezi park and Taksim Square became the focal point of a broad anti-Erdogan movement. Photograph: Uriel Sinai/Getty

Turkish crackdown on protesters 'wrong and unjust', says deputy PM

Bulent Arinç, standing in for absent prime minister Recep Tayyip Erdogan, offers to meet protest's leaders in bid to ease tensions

Luke Harding and Constanze Letsch in Istanbul
guardian.co.uk, Tuesday 4 June 2013 21.14 BST / http://www.guardian.co.uk/world/2013/jun/04/turkish-protests-istanbul-crackdown-wrong

Turkey's deputy prime minister has offered a partial apology for the vicious police crackdown on protesters in Istanbul, in an apparent attempt to cool tensions after nine days of anti-government rallies across Turkey.
Bülent Arinç, who is standing in for Turkey's absent prime minister, Recep Tayyip Erdogan, said the violence meted out last week to peaceful protesters was "wrong and unjust". He also offered to meet leaders of the original movement, which began in an effort to save an Istanbul park from redevelopment.
But it was unclear if Arinç's conciliatory remarks had the blessing of Erdogan, who has previously dismissed the protesters as "looters" and fringe extremists. Erdogan is on a visit to Morocco. His abrasive response has infuriated secular middle-class Turks, who have taken to the streets to oppose him in unprecedented numbers, with protests spreading rapidly across the country.
For the first time, the protesters also offered to abandon their occupation of Gezi park and the nearby Taksim Square in Istanbul, the focal point of a broad-based anti-Erdogan movement. They issued a list of demands. These included the prompt release of hundreds of people arrested in the turmoil of the past week, an end to park development and the resignation of officials who abused their positions by giving orders that resulted in injuries.
On Tuesday, thousands more demonstrators packed into the square, gathering under the trees and around a statue of Turkey's secular founder, Mustafa Kemal Atatürk, now decorated with banners. The authorities had vacated the area, leaving barricades and piles of rubble in place.
"We are sending Erdogan a message. The message is: 'You are not a king in this country. We are the kings here'," said Murat Özerden, an Istanbul businessman.
There were some signs that the violence of the past five days, driven by over-the-top policing, could be abating.
Istanbul's police chief said his forces would only use teargas as a last resort. Beskitas football supporters, who have figured in previous clashes near the prime minister's office, added that they would march peacefully to the square.
The protesters are aggrieved by what they perceive as Erdogan's authoritarian tendencies and his attempts to impose a more Islamic lifestyle on all citizens. He has recently passed a law to restrict alcohol consumption. Others are upset by his pro-rebel foreign policy towards Syria, and his warm relations with the US, Turkey's strategic ally.
There is much at stake in the standoff, which represents the biggest challenge to Erdogan in a decade. "Whether this drama ends with a compromise or further escalation will likely define the next decade of Turkish politics, which faces a cycle of municipal, presidential and parliamentary elections over the next two years," the International Crisis Group said in an analysis.
One prominent critic said Erdogan was personally to blame for the unrest. Selahattin Demirtas, a member of the pro-Kurdish Peace and Democracy party (BDP), said: "The reason for these protests are not foreign or domestic forces, but the result of only trying to satisfy one half of the country and ignoring the other half."
He added: "The person who lit the spark that set the whole country aflame was the prime minister."
The main public-sector union federation, KESK, which represents 240,000 members, began a two-day strike on Tuesday in support of the protesters, while a second group, the Turkish Revolutionary Workers' Union Confederation, said its members would also stage a walkout on Wednesday.
Speaking on Tuesday, Arinç conceded that the original police decision to storm a camp of eco-activists on Friday was a mistake. "I apologise to those citizens," he said. He said Turkey's government was sensitive to the demands of the country's secular urban classes, most of whom had not voted for Erdogan's Islamist-rooted Justice and Development party (AKP). "I would like to express this in all sincerity: everyone's lifestyle is important to us and we are sensitive to them," he declared.
Arinç spoke after a meeting with President Abdullah Gül. In contrast to Erdogan, Gül has sought to mediate with the protesters, and has skilfully praised them for expressing their democratic rights. Since the crisis began he has emerged as a leading moderate, and could face Erdogan next year in a presidential election.
There have been several deaths at the protests, including that of a 22-year-old man shot on Monday in the city of Antakya. Prosecutors later said the man had died from a blow to the head. The Foreign Office on Tuesdayurged British nationals to avoid demonstrations in Turkish cities, and warned that "further violent protests remain possible".
A human rights group, Turkish Human Rights Association, has said some 1,000 protesters have been subjected to "ill-treatment and torture". The UN human rights office in Geneva has expressed concern about the excessive use of force by police and called on Turkey to respect the right to peaceful protest and to promptly investigate abuses and bring perpetrators to justice. It also called on protesters to remain peaceful.
The Turkish Human Rights Association said some 3,300 people nationwide were detained during four days of protests, although most have since been released. At least 1,300 people were injured, the group said, although it said accurate figures were difficult to come by.





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