quarta-feira, 5 de junho de 2013

FMI prepara-se para reconhecer que cometeu erros “grosseiros” na ajuda à Grécia. Discutir a saída do euro já não é tabu dentro do PSD e CDS.

O Voo do Corvo dedica hoje alguma atenção à notícia do jornal i acompanhada por um Editorial, onde se tenta esboçar uma primeira tendência para se discutir a nível Nacional, na Política, uma possível saída do Euro.

Como noutros casos, a publicação destas notícias especulativas pretende apenas informar … e não representa de forma nenhuma uma posiçào do “blog” sobre esta questão, cuja seriedade e gravidade, não permite aproximações irresponsáveis ou discussões ligeiras e especulativas.
Pelo contrário, o acto de Penitência e Contrição do FMI poderá constituir um importante sinal de que algo fundamental vai mudar …

Para o ler na íntegra : http://www.imf.org/external/pubs/ft/scr/2013/cr13156.pdf
António Sérgio Rosa de Carvalho.


FMI prepara-se para reconhecer que cometeu erros “grosseiros” na ajuda à Grécia.

Por José Manuel Rocha in Público
05/06/2013 - 18:46

Organização admite que se subestimaram os impactos da austeridade.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) deverá admitir na sexta-feira que cometeu erros “grosseiros” na forma como lidou com a crise da dívida na Grécia nos últimos três anos.

Num documento classificado como “ultraconfidencial”, que o jornal The Wall Street Journal (WSJ) diz ter lido, os técnicos da organização dirigida por Christine Lagarde assumem que o FMI “subestimou” os “estragos” que as suas políticas poderiam causar à economia e à sociedade gregas.
O Fundo acaba, assim, por reconhecer que as doses excessivas de austeridade acabaram por se traduzir num agravamento contínuo de uma recessão económica que não se sabe quando irá terminar.
O jornal norte-americano revela que uma versão não completa do documento preparado pelos técnicos do FMI será divulgada nesta sexta-feira pela organização sediada em Washington. E nela será transcrita a passagem em que o Fundo reconhece ter “desrespeitado” algumas das suas normas para poder ajudar um país que apenas cumpria um dos quatro critérios exigidos para ter direito a assistência financeira.
Mesmo assim, o Fundo Monetário Internacional assinala que nem tudo foi mau no processo grego. E salienta que a intervenção atempada na Grécia, em conjunto com a Comissão Europeia e com o Banco Central Europeu, foi fundamental para evitar que a crise da dívida alastrasse a outros países e provocasse uma crise continental.

A Síntese do Relatório / Penitência do FMI:
"There were notable successes during the SBA-supported program (May 2010–March 2012). Strong fiscal consolidation was achieved and the pension system was put on a viable footing. Greece remained in the euro area, which was its stated political preference. Spillovers that might have had a severe effect on the global economy were relatively well-contained, aided by multilateral efforts to build firewalls.

However, there were also notable failures. Market confidence was not restored, the banking system lost 30 percent of its deposits, and the economy encountered a much- deeper-than-expected recession with exceptionally high unemployment. Public debt remained too high and eventually had to be restructured, with collateral damage for bank balance sheets that were also weakened by the recession. Competitiveness improved somewhat on the back of falling wages, but structural reforms stalled and productivity gains proved elusive."

Reacção


Bruxelas discorda das falhas apontadas pelo FMI na Grécia

Económico com Lusa
06/06/13 12:25

A Comissão Europeia disse hoje "discordar fundamentalmente" de algumas das conclusões do relatório divulgado pelo FMI.
A Comissão Europeia disse hoje "discordar fundamentalmente" de algumas das conclusões do relatório divulgado na véspera pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que reconhece alguns "falhanços notáveis" no primeiro plano de resgate à Grécia.
Questionado sobre o documento do FMI, no qual são também apontadas divergências entre o Fundo e os seus parceiros europeus da 'troika' - Comissão Europeia e Banco Central Europeu (BCE) -, o porta-voz dos Assuntos Económicos alegou que o relatório foi elaborado "por alguns técnicos do FMI" e não reflecte uma "posição oficial" da instituição, com quem, asseverou, o executivo comunitário mantém uma "relação de trabalho construtiva", incluindo no programa de assistência a Portugal.
Sublinhando que Bruxelas discorda de várias (e importantes) conclusões do documento, como a questão da reestruturação da dívida grega, Simon O'Connor garantiu ainda que o mesmo não alterará a forma de trabalho no seio da 'troika', considerando que a UE e o FMI estão a trabalhar muito bem, incluindo nos casos dos outros países sob programa de assistência financeira, designadamente Portugal e Irlanda.
O porta-voz do comissário Olli Rehn comentou a propósito que a 'troika', que agrupa Comissão, BCE e FMI, "não existia há três anos", e foi "erguida" de um momento para o outro para responder a uma situação de emergência, "sem precedentes", e revelou que o executivo comunitário também irá divulgar (em data ainda por definir) o seu próprio relatório sobre o trabalho com os seus parceiros da 'troika'.
Relativamente às conclusões do relatório do FMI divulgado na quarta-feira, disse que a Comissão está em "desacordo fundamental" com a questão da reestruturação da dívida grega - que, segundo o documento, deveria ter tido lugar logo em 2010, e não apenas em 2012 -, pois, segundo Bruxelas, "o relatório ignora neste ponto a interconexão entre os Estados-membros da zona euro" e "o risco de contágio" que tal teria tido.
Outro elemento que a Comissão considera "totalmente errado e infundado" no relatório é a alegação de que não foi feito o suficiente para identificar reformas estruturais que promovessem o crescimento, acrescentou.
Um relatório do Fundo Monetário Internacional reconheceu na quarta-feira que o primeiro plano de resgate da Grécia em 2010 se saldou por "falhanços notáveis", devido a previsões de crescimento demasiado optimistas e a desacordos internos na 'troika'.
"Houve fracassos notáveis. A confiança dos mercados não foi restabelecida (...) e a economia foi confrontada com uma recessão bem mais forte do que estava previsto", indicou o FMI.
A Grécia foi alvo de um segundo resgate na primavera de 2012. A 'troika' é composta por representantes do FMI, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu.

Discutir a saída do euro já não é tabu dentro do PSD e CDS.


Por Liliana Valente
publicado em 6 Jun 2013 in (jornal) i online

Pires de Lima defendeu que vale a pena discutir a saída do euro. Ângelo Correia diz que moeda única tem sido causadora de muitos problemas

Falar sobre a saída da moeda única é cada vez menos tema tabu para o CDS e para o PSD. Ontem, o presidente do Conselho Nacional centrista defendeu que além do caminho do governo, a saída do euro "é a única alternativa que vale a pena estudar e aprofundar". Uma posição que os centristas não defendem oficialmente, mas que começa a fazer caminho mesmo dentro da área política dos partidos que apoiam o governo. Ao i, Ângelo Correia diz que é uma discussão que vale a pena fazer até porque o euro é em parte causador "dos problemas que hoje vivemos".
A saída do euro é defendida por alguns economistas de esquerda, mas com o agudizar da crise e com a resposta das instituições europeias, a discussão começa a ser mais transversal. Pires de Lima falava ontem na Antena 1 sobre a conferência promovida por Mário Soares e, apesar de referir que defende o caminho seguido pelo governo, disse: "A única alternativa que eu vejo é a saída do euro, mas não vi ninguém na Aula Magna [local onde decorreu a conferência] propor essa medida essencial, porque essa é que poderia ser uma conclusão. A conclusão de que a moeda única está a fracturar a Europa, não funciona e é em si mesma um factor responsável pela crise económica, pela crise social, pelo desemprego que os países do sul da Europa estão a viver". E concluiu que esta sim é "a única alternativa que vale a pena estudar e aprofundar".
Em termos oficiais os centristas prefere não comentar, até porque não é a primeira vez que alguém da área do CDS diz que é preciso discutir o futuro da moeda única. O primeiro a fazê-lo foi Bagão Félix. O ex-ministro das Finanças defendeu há bem pouco tempo que era preciso "discutir sem tabus" a moeda única, mas não defende a saída do euro única uma vez que isso produziria uma "perda de rendimento muito pior" e que isso seria "terrível".
O mesmo defende o eurodeputado e dirigente do CDS, Diogo Feio. Para o deputado que tem estado envolvido na discussão da União Bancária "só vale a pena falar da saída do euro como hipótese académica porque o estudo dos efeitos mostrará que são muito negativos". A nível político, Diogo Feio acredita que se mantém na sociedade portuguesa um consenso em torno da moeda única e que esta é uma matéria que impossibilita, por exemplo, uma convergência à esquerda, uma vez que, relembra, o PS defende a permanência no euro.

PREÇO ALTO
 Na balança da opção de sair ou não da área do euro pesa por um lado a perda de competitividade e os constrangimentos de uma moeda forte para uma economia pequena e aberta como a portuguesa e do outro lado o preço de uma perda de rendimento.
São esses dois preços a pagar que deixam Ângelo Correia indeciso. O empresário e político acredita que os problemas são mais antigos e que o país não devia sequer ter aderido à moeda única. Enquanto deputado do PSD, votou contra o Tratado de Maastricht, mas agora diz que enquanto euro-céptico, há que discutir as opções no quadro que existe: "O euro não é uma realidade axiológica, mas instrumental. Foi erigida como axiológica no início do processo de criação da União Económica e Monetária o que se revelou de uma fragilidade evidente causadora em parte dos problemas que hoje vivemos".
Ângelo Correia defende que já que estamos na moeda única há que pensar na solidez "política, institucional e civilizacional" até porque a falta dessa solidez é que "está em causa e por isso o euro também.
É sobretudo a desvalorização dos bens que está na base da defesa intransigente do não abandono da área do euro. Há um mês, o próprio primeiro-ministro dramatizou as consequências dessa possibilidade. Desde o primeiro momento que Passos Coelho tem como lema o compromisso de honrar o Memorando de entendimento e com isso garantir a permanência no euro e no 1º de Maio, num encontro com os Trabalhadores Sociais Democratas, lembrou que se não se cumprir, a única alternativa para ter dinheiro era "sair do euro, criar uma moeda própria outra vez, desvalorizar essa moeda para aí uns 30% ou 35%, cortar os salários reais nessa proporção, deixar as pessoas com muito dinheiro no bolso que não pode comprar nada, porque com esse dinheiro nós não importamos aquilo de que precisamos", disse.
Essa desvalorização é lembrada por Telmo Correia. O dirigente e deputado do CDS diz que "o risco é enorme de que o valor do património passe para metade" e por isso este é um cenário "a evitar a todo o custo". Para o deputado há por isso que discutir "as opções dentro deste caminho".


Euro: discutir a saída é muito bom.


Por Ana Sá Lopes
publicado em 6 Jun 2013 in (jornal) i online

O debate sobre a saída do euro devia concentrar as energias de todos

A discussão da saída do euro foi até aqui um tabu nacional - da esquerda à direita. O PCP, o principal adversário do Tratado de Maastricht, passou estes últimos três anos de crise do euro a tratar o assunto com pinças - e rejeitou no último congresso duas propostas, da autoria de Octávio Teixeira e Agostinho Lopes, para incluir a saída do euro no seu programa político. A partir daí, a posição dos comunistas evoluiu: num debate recente, Jerónimo de Sousa afirmou a defesa da saída de Portugal do euro, embora o processo de desmame nunca devesse, na opinião do secretário- -geral do PCP, ser liderado por este governo. Na reunião do comité central de 6 de Maio, o PCP faz a defesa da "assunção de uma política soberana e a afirmação do primado dos interesses nacionais nas relações com a União Europeia, diversificando as relações económicas e financeiras e adoptando as medidas que preparem o país para uma saída do euro, seja por decisão do povo português, seja por desenvolvimentos da crise da União Europeia". O Bloco de Esquerda tem marcado um debate em que vai juntar os seus economistas favoráveis à manutenção de Portugal na zona euro - como o ex- -líder Francisco Louçã - aos que defendem que só a saída do euro possibilitará o retorno de Portugal a um rumo de crescimento, como João Rodrigues ou Nuno Teles.
O sucesso de vendas do livro de João Ferreira do Amaral "Porque Devemos Sair do Euro" - o único economista da área socialista que foi contra a adesão à moeda única - é um sinal de que as pessoas estão desejosas de debater a questão. Ou pelo menos a ter instrumentos mais capazes para poder formar uma opinião. João Ferreira do Amaral é um economista da área do PS - foi consultor de Mário Soares e de Jorge Sampaio em Belém - e o facto de o seu livro se ter tornado um bestseller foi lido pela imprensa internacional como um sinal de que, a partir do poço em que estamos metidos, os portugueses equacionam alternativas. O debate chegou agora à direita - embora já tivesse chegado a alguns economistas da área, como o nosso colunista Pedro Brás Teixeira, que não vê outra solução para o nó cego em que Portugal e a Europa se encontram senão a saída do euro. António Pires de Lima, presidente do Conselho Nacional, defende agora um debate amplo sobre a manutenção de Portugal na zona euro. Este é o grande debate nacional e aquele em que se deviam concentrar todas as energias - até porque é o único debate interno que pode verdadeiramente assustar a Europa.

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