quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

'I want answers': Justin Trudeau confirms missile downed plane in Iran / Avião terá sido derrubado com míssil iraniano. New York Times mostra vídeo do momento




The Canadian prime minister, Justin Trudeau, has confirmed intelligence suggests a Ukrainian jet which crashed in Tehran on Wednesday was downed by an Iranian missile. 
Trudeau has demanded there be a thorough investigation into the incident which killed 176 people including around 30 Canadian citizens

Avião terá sido derrubado com míssil iraniano. New York Times mostra vídeo do momento

O primeiro-ministro canadiano diz que há provas desta tese e o jornal norte-americano obteve um vídeo que, alegadamente, a demonstra. O avião da Ukraine International Airlines despenhou-se na quarta-feira, em Teerão, matando 176 pessoas. No mesmo dia, duas bases aéreas iraquianas foram atingidas com mísseis iranianos.

Filipa Almeida Mendes e Inês Chaíça 9 de Janeiro de 2020, 17:19 actualizado a 9 de Janeiro de 2020, 23:01

O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, disse, esta quinta-feira à noite, que as provas reunidas até agora pelo seu Governo indicam que um míssil iraniano provocou a queda do avião da Ukraine International Airlines e que o ataque “pode ter sido não intencional”. O New York Times divulgou um vídeo, obtido em exclusivo, que mostra o momento em que o avião terá sido atingido por um míssil.

O vídeo mostra o avião a ser atingido minutos depois de ter descolado do aeroporto de Teerão. O New York Times verificou a localização em que o vídeo foi gravado e cruzou com dados referentes ao local a partir do qual o transponder (um dispositivo de comunicação electrónico) do avião emitiu o último sinal.

Sem entrar em detalhes, Justin Trudeau avançou, em conferência de imprensa, que, ao que tudo indica, o avião ucraniano foi abatido por um míssil terra-ar. “As evidências reunidas pelos serviços de inteligência [canadianos e aliados] sugerem, de forma clara, uma causa possível e provável para o acidente”, sublinhou.

Para o primeiro-ministro canadiano, as provas de que o Canadá dispõe apenas vêm reforçar a necessidade de uma investigação completa sobre o desastre. “É agora mais importante do que nunca saber exactamente como é que esta tragédia aconteceu. Os canadianos querem respostas. Isso significa transparência, responsabilização e justiça”, concluiu Trudeau.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também confirmou, horas mais tarde, que existe um “corpo de informação” que indica que o avião ucraniano “foi abatido por um míssil terra-ar iraniano”, disse em comunicado citado pelo Guardian.  Johnson fez ecoar as palavras de Trudeau ao sugerir que o ataque poderá ter sido acidental.

Boris Johnson adiantou ainda que quatro cidadãos britânicos morreram no desastre, um número superior ao anteriormente avançado pela companhia aérea. Segundo o primeiro-ministro britânico, o Reino Unido está a acompanhar a investigação “de perto”, junto com o Canadá e parceiros internacionais, para averiguar o que esteve na origem da queda do avião.

EUA defendem tese de ataque com míssil
Ao final da tarde desta quinta-feira, fontes dos serviços secretos dos Estados Unidos, citadas pela rede de televisão norte-americana CBS, tinham já avançado que o avião da Ukraine International Airlines que caiu, na quarta-feira, em Teerão, poderia ter sido abatido acidentalmente por um míssil iraniano.

Segundo esta tese, avançada também por outros meios de comunicação social, a aeronave poderá ter sido derrubada acidentalmente, após os sistemas antimísseis iranianos terem sido activados no seguimento dos ataques a duas bases aéreas iraquianas, onde estão posicionadas forças norte-americanas, na madrugada de quarta-feira.

Fontes ouvidas pela CBS indicam que os serviços secretos dos Estados Unidos terão captado sinais de um radar a ser ligado e satélites norte-americanos terão detectado também o lançamento de dois mísseis terra-ar, pouco antes de o avião ucraniano ter explodido. De acordo com a mesma estação, componentes de mísseis poderão ainda ter sido encontrados junto ao local onde o avião se despenhou.

Esta quinta-feira, Donald Trump tinha já afastado (antes das declarações de Trudeau) a hipótese de um problema mecânico ter estado na origem da queda do avião. “Alguém pode ter cometido um erro do outro lado”, afirmou Trump na Casa Branca. O Presidente norte-americano disse ainda ter as suas “suspeitas” sobre o que aconteceu ao avião. “[O avião] Estava a sobrevoar um bairro complicado. Podem ter cometido um erro. Algumas pessoas dizem que foi mecânico. Eu, pessoalmente, acho que isso nem sequer é uma questão”, afirmou Trump.

As autoridades iranianas garantiram, por sua vez, que a teoria dos Estados Unidos “não faz sentido”. “Vários voos domésticos e internacionais voam ao mesmo tempo no espaço aéreo iraniano à mesma altitude de 8000 pés, e essa história de ataque com mísseis (…) não podia estar mais incorrecta”, indicou o Ministério dos Transportes iraniano, em comunicado citado pela Lusa.

“Esses rumores não fazem qualquer sentido”, prosseguiu o presidente da Organização de Aviação Civil iraniana (CAO) e vice-ministro dos Transportes, Ali Abedzadeh.

Ali Abedzadeh revelou ainda que “o Irão e a Ucrânia têm os meios para descarregar as informações” que as caixas negras contêm. “Mas, caso sejam necessárias medidas mais especializadas para extrair e analisar as informações, podemos fazê-lo em França ou em outros países”, afirmou o representante iraniano, depois de Teerão ter sido acusado de recusar o acesso às caixas negras do avião ao fabricante norte-americano Boeing. O ministério rejeita “os rumores sobre a resistência do Irão em dar as caixas negras (…) aos Estados Unidos”, embora não desminta explicitamente tais informações.

Ambas as caixas negras do avião foram recuperadas, mas, como estão muito danificadas, uma parte da memória perdeu-se. Na quarta-feira, Ali Abedzadeh afirmou que o conteúdo das caixas negras não seria partilhado com “a construtora e os americanos”. “Este acidente vai ser investigado pela organização iraniana de aviação, mas os ucranianos também poderão estar presentes”, disse na altura.

De acordo com a lei internacional, a responsabilidade da investigação recai sobre as autoridades iranianas. Apesar disso, referiu Abedzadeh citado pela BBC, as informações preliminares foram partilhadas com a Ucrânia e seriam enviadas para os EUA, onde se situa a sede da Boeing. A Suécia e o Canadá também as receberam.

A queda do avião ucraniano provocou a morte das 176 pessoas que seguiam a bordo. Segundo o relatório preliminar da Organização de Aviação Civil iraniana, tornado público nesta quinta-feira, o avião estaria a voltar para o aeroporto quando o acidente aconteceu.

Apesar do relatório das autoridades iranianas, Oleksii Danilov, dirigente do conselho de segurança nacional ucraniano, apontou quatro cenários possíveis: para além da tese de avaria, o avião pode ter colidido com um drone, ter sido alvo de uma acção terrorista ou abatido por um míssil.

Esta última teoria, disse Danilov no Facebook, foi traçada com base em imagens que circulam na internet e cuja veracidade não foi ainda confirmada. Nessas imagens, encontraram-se supostos destroços de um míssil russo no local onde o avião se despenhou.

“A nossa comissão de investigação está em conversas com as autoridades iranianas para agendar uma visita ao local da queda e está determinada na procura por fragmentos de um míssil Tor russo, sobre o qual circula informação na internet”, afirmou o dirigente ao site Censor.net, que a Reuters cita.

O acidente aconteceu horas depois de o Irão ter lançado mísseis balísticos contra bases norte-americanas no Iraque, fazendo escalar a tensão entre Teerão e Washington. Ao longo de quarta-feira, começou-se a especular sobre a possibilidade de o avião ter sido atingido por esses mísseis. No entanto, na manhã desta quinta-feira, pelo menos cinco fontes (três americanas, uma europeia e uma canadiana, todas ligadas à área da segurança aérea) tinham afirmado à Reuters que o avião não tinha sido abatido.

O piloto da aeronave, que seguia com destino a Kiev, não tentou comunicar com o aeroporto e não pediu ajuda, detalha o relatório preliminar das autoridades iranianas. Segundo o mesmo documento, que cita várias testemunhas no local para reconstruir o que aconteceu, o avião, que desapareceu dos radares a 2440 metros de altitude, já estaria em chamas imediatamente antes de se despenhar.

Quem seguia a bordo?
Segundo a companhia aérea, seguiam a bordo 82 iranianos, 63 canadianos, dez suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos, o que indica que muitas das vítimas poderiam ter dupla nacionalidade. Segundo fonte citada pelo Guardian, 24 tinham dupla nacionalidade (iraniana e canadiana). No entanto, o relatório iraniano apresenta números diferentes.

Muitas das vítimas canadianas estariam de regresso a casa após terem ido passar férias ao Irão. A vítima mais nova tinha um ano e a mais velha 70. O avião fazia a rota Teerão – Kiev – Toronto, popular entre os canadianos de ascendência iraniana que visitavam o Irão, uma vez que não existem voos directos entre Canadá e Irão.

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