Câmara de Lisboa
limita circulação de carros na Av. Liberdade, Baixa e Chiado
A cidade já é a
Capital Verde Europeia 2020. A cerimónia de arranque teve muitos discursos e a
festa foi contra-balançada por protestos de quem acha que tudo não passa de
propaganda vestida de verde.
João Pedro Pincha
João Pedro Pincha
11 de Janeiro de 2020, 20:37
A pergunta era
sobre se os políticos estão verdadeiramente empenhados em resolver os problemas
ambientais ou se apenas querem ficar bem na fotografia. Na plateia, onde
adolescentes e jovens contornavam o aborrecimento espreitando os smartphones,
surgiram de repente umas folhas com dizeres: “Este Governo não é verde”, “Rio Tejo
poluído não é verde”, “Gás natural nos autocarros não é verde”, “Dizer verde
não é verde”.
A pergunta tinha
sido feita a Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, que partilhava o
palco com António Costa, António Guterres e Frans Timmermans, vice-presidente
da recém-empossada Comissão Europeia. O autarca, que a princípio reagiu com
estranheza àqueles cartazes, não se atrapalhou e decidiu responder antes ao que
eles diziam do que a quem o questionara, um jovem do movimento Fridays for
Future, também responsável por aquela mini-manifestação.
“Procurem no
Google e no Youtube o que era o Tejo há 30 anos e há 15 anos”, disse Medina,
arrancando um grande aplauso da assistência e animando uma cerimónia que já
então estava longa e monótona, com discurso atrás de discurso.
Por essa altura,
Lisboa ainda não era oficialmente Capital Verde Europeia 2020 mas viria a sê-lo
daí a pouco, às 17h36, quando o autarca de Oslo passou a pasta à capital
portuguesa e José Sá Fernandes, vereador do Ambiente, começou aos saltos no
palco do Pavilhão Carlos Lopes. Foi então que Medina definiu prioridades para o
ano – que correspondem às que o presidente dissera ao PÚBLICO há uns dias – e
anunciou a criação de uma nova Zona de Emissões Reduzidas (ZER) na Baixa e no
Chiado, abrangendo também a Av. da Liberdade.
O autarca não
explicou ainda nem como nem quando esta medida vai entrar em vigor, mas disse
que pretende “reduzir a circulação automóvel ao mínimo indispensável” naquela
zona da cidade. “Temos a confiança de ter um sistema de transportes públicos
que vai responder bem”, afirmou.
Exceptuando uma
medida relativa à construção de casas para o Programa de Renda Acessível, o
discurso de Medina focou-se muito na mobilidade. Mesmo quando falou do novo
parque urbano da Praça de Espanha, cujas obras arrancam na segunda-feira,
referiu-se ao estado actual daquele local como “o símbolo do domínio automóvel
sobre tudo o resto”.
“Lisboa Verde
ainda está longe”
O momento em que
os jovens exibiram os cartazes não foi o primeiro do género durante a tarde.
Mais de duas horas antes, quando a cerimónia se iniciou no alto do Parque Eduardo
VII com o hastear de uma bandeira portuguesa feita com plástico marítimo
reciclado e a primeira ronda de discursos, activistas do movimento Extinction
Rebellion tentaram entregar pequenas árvores aos responsáveis políticos.
Marcelo Rebelo de Sousa, que zarpou depois de cantado o hino, não recebeu
nenhuma, assim como António Costa e António Guterres.
Fernando Medina,
pelo contrário, acedeu a que um dos jovens furasse a barreira de seguranças e
fotojornalistas e ficou com a árvore. Com ela vinha um recado: “A Lisboa
Capital Verde ainda está longe! (…) Não iremos deixar que varram os problemas
actuais para debaixo deste lindo tapete verde que estamos a criar.”
O Extinction
Rebellion, explicou um dos seus membros ao PÚBLICO, “é contra o greenwashing”,
que se pode traduzir por fazer exactamente o contrário do que se apregoa
dando-lhe, no entanto, uma aparência amiga do ambiente. Estes activistas pensam
que é isso que se está a passar, por exemplo, com a expansão do aeroporto da
Portela e com a construção de um novo no Montijo.
António Costa,
que não se tinha referido ao assunto no discurso, aproveitou a presença dos
cartazes para dizer que acredita que “provavelmente os aviões em 2050 não vão
ser tão poluentes como hoje são” e que, mesmo que tudo se mantenha igual, o
Governo já previu a compensação carbónica necessária. A associação
ambientalista Zero, cujo presidente Francisco Ferreira também esteve presente,
desmentiu entretanto o primeiro-ministro no Facebook.
O chefe de
Governo disse à plateia que Portugal está no bom caminho para a neutralidade
carbónica em 2050 e que os anos que nos separam de 2030 são os mais difíceis.
Anunciou que a residência oficial, em São Bento, vai ser neutra já este ano e
que, a partir de Fevereiro, “todos os ministros só circularão na Área
Metropolitana com viaturas eléctricas”.
Pouco depois, o
vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, aconselhou Costa a pôr
o Governo a andar antes de bicicleta. “Vocês deviam todos andar de bicicleta.
Acreditem em mim, sou holandês”, riu-se.
tp.ocilbup@ahcnip.oaoj
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