sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Livre aprova retirada de confiança política a Joacine por maioria


“Nessas declarações à imprensa ficou a saber-se também que o Livre pedirá uma reunião ao presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, para reforçar a sua intenção de o partido deixar de ser representado pela deputada. “A partir de agora, Joacine Katar Moreira irá representar-se a ela própria”, salientou a direcção.”
“A ausência de Joacine Katar Moreira da reunião da assembleia para a qual foi convocada foi mais uma prova de que não tem consideração pelo partido”, analisou um dos dirigentes do Livre, Pedro Mendonça. Para o Livre, os papéis do divórcio foram assinados por Katar Moreira.


LIVRE
Livre aprova retirada de confiança política a Joacine por maioria

A assembleia extraordinária convocada pelos novos órgãos eleitos em congresso foi longa e só terminou nesta sexta-feira de madrugada.

Liliana Borges e Sónia Sapage 31 de Janeiro de 2020, 9:25

Não há volta a dar: o Livre aprovou a retirada de confiança política a Joacine Katar Moreira. A decisão sobre a deputada única eleita pelo partido para o Parlamento foi tomada “por maioria” durante a madrugada desta sexta-feira, depois de a reunião da assembleia do Livre se ter prolongado mais de oito horas, apurou o PÚBLICO. Apesar dos esforços que as duas partes dizem ter feito, o divórcio foi mesmo inevitável e o Livre opta assim por abdicar da sua representação parlamentar, cessando a sua relação com a deputada eleita por Lisboa.

Dos 42 membros eleitos para a assembleia do Livre, 26 transitaram dos antigos órgãos internos do partido — com um historial de tensão com Katar Moreira —, o que tornou o cenário de retirada de confiança política inevitável. Em declarações ao PÚBLICO, Ricardo Sá Fernandes lamenta a decisão. “Lamento que um partido que sempre quis lançar pontes entre a esquerda não seja capaz de fazer mais para manter uma ponte com a sua única deputada”.

Joacine Katar Moreira não esteve presente na reunião em que foi maioritariamente aprovada a sua retirada de confiança política, por considerar que não foi convocada pelos órgãos do partido, que têm uma versão distinta. O Livre marcou entretanto uma conferência de imprensa para as 11h desta sexta-feira para dar conta das conclusões da reunião.

Daniel Oliveira
@danielolivalx
Quando a solidariedade contra o ataque de que foi alvo JKM ultrapassa as fronteiras partidárias, o Livre reune-se burocraticamente para lhe retirar a confiança política. Até acho que têm razões, mas haverá alguém naquele partido que pense em timings e essas coisas menores?

A reunião, agendada para as 20h, arrancou já depois das 20h45, quando o quórum para a realização do encontro ficou preenchido, não só pelas presenças na sede do partido, em Lisboa, mas também pelos vários membros que acompanharam e participaram na discussão à distância, via videoconferência. Ainda que sem direito de voto (exclusivo aos membros da assembleia), estiveram também presentes na reunião membros do grupo de contacto (direcção).

À porta do número 5 da Praça Olegário Mariano, em Lisboa, a expectativa de ver Joacine Katar Moreira crescia com a entrada e saída de membros do partido no prédio que serve de morada à sede do Livre. E se as entradas na sede foram feitas em silêncio, rapidamente os membros da assembleia do Livre fizeram saber que optariam por reunir com “carácter reservado”, remetendo declarações sobre as decisões para esta sexta-feira.

Ausente da reunião esteve também uma das vozes que mais defendeu um entendimento entre as duas partes quando já ninguém achava possível, o advogado Ricardo Sá Fernandes. O reconduzido membro do conselho de jurisdição não compareceu à reunião por considerar que a sua “comparência não foi solicitada”, como explicou ao PÚBLICO, apenas lhe tendo sido dado conhecimento do encontro.

Ainda assim, Sá Fernandes afirmava-se expectante em relação ao resultado da 44ª assembleia. Antes da reunião, o advogado, que adoptou uma posição de moderador no último congresso, mantinha o optimismo, repetindo que a ruptura “causaria muitos estragos” ao partido. “Eu tenho a vantagem de ser cristão e sei que às vezes há milagres”, concluía.

O diferendo entre a deputada e os órgãos dirigentes do Livre tornou-se público logo no início da legislatura, quando Joacine Katar Moreira se absteve e num voto de condenação por “mais uma agressão israelita em Gaza” apresentado pelo PCP. Desde então, não mais parou. Apesar da tensa relação com a direcção do partido, que se prolonga quase desde o início da legislatura, Joacine Katar Moreira já garantiu estar “completamente fora de questão” renunciar ao mandato e deixar o seu lugar na Assembleia da República.

O Livre poderá tornar-se no primeiro partido a ficar sem representação no Parlamento, excluindo eleições, se Joacine Katar Moreira decidir passar a deputada não-inscrita.

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